Por daniela.lima

Rio - Mais de 200 delegações internacionais e até um milhão de turistas devem aportar na Cidade Maravihosa, em pouco mais de um ano, para a Olimpíada 2016. Os números superlativos da maior festa do esporte mundial mobilizarão um esquema de segurança jamais visto. Com enfoque no combate a possíveis distúrbios urbanos e até ameaças terroristas, a Polícia Militar se reforça. Somados, os investimentos considerados básicos pelos comandos do Batalhão de Operações especiais (Bope) e do Grupamento Aeromóvel (GAM) podem chegar a R$ 120 milhões em equipamentos de ponta e capacitação de pessoal. 

O novo caminhão para controle de distúrbios urbanos%2C lança jatos e tem capacidade para 6 mil litros de água. O processo de licitação para a compra do equipamento foi aberDivulgação

O Batalhão de Choque (BPChq), por sua vez, contará com o suporte de dois veículos blindados anti-tumulto, nunca utilizados em solo carioca, e investimentos de até R$ 9 milhões em armamentos não-letais. Vindos de Israel e com capacidade para seis mil litros d’água em seu interior, os carros equipados com canhões d’água — que já tiveram seus processos de licitação para compra abertos — passarão por adaptações ao cenário vivido no Rio, com ruas mais estreitas. Cada blindado custará, em média, 1,5 milhão de dólares (cerca de R$ 4,5 milhões), com manutenção garantida por cinco anos.

“Também contaremos com dispositivos que emitem ondas sonoras incapacitantes em confrontos. Os ‘canhões’ serão instalados nos blindados e viaturas”, explica o tenente do Choque, Henrique Silva. Ele ressalta que, além de jatos de líquido para conter conflitos urbanos, armamentos não-letais de pequeno porte (como bombas de gás e pistolas de choque) devem ser o ponto alto da segurança posta em prática.

Para o pleno domínio dos equipamentos e das técnicas de contenção de conflitos menores, o Batalhão de Choque também capacitará cerca de 900 homens de unidades operacionais, em estágios com duração de uma semana até o fim do ano. “A intenção é de que possam voltar aos seus batalhões com conhecimento das técnicas utilizadas pelo Choque e que, em situações limites, possam ‘desafogar o trabalho’ de combate aos conflitos urbanos”, explica o tenente.

Nos últimos meses, equipes do Bope também vêm passando por treinamentos fora da cidade. Os ‘homens de preto’ têm realizado estágios com militares de exércitos de países habituados a conter ameaças terroristas e guerrilhas, além de possuir amplo conhecimento em sediar grandes eventos, como França, Espanha, Estados Unidos e Colômbia. 

Tecnologia de cinema

Dentro do Plano de Segurança apresentado pela cúpula da Polícia Militar aos governos Federal e Estadual, foram listadas prioridades para o combate a todo tipo de adversidade. De acordo com os valores obtidos a partir de pesquisas de mercado, o Plano Básico do Bope custaria R$ 29.231.000. Deste total, segundo o comando do batalhão, R$ 10 milhões já foram autorizados e repassados para a compra de equipamentos.

Já o GAM, que solicitou uma verba de até R$ 90 milhões para o seu plano prioritário, ainda espera receber R$ 23 milhões. O valor aportado é relativo à compra de dois helicópteros modelo EC 145, de fabricação europeia. As aeronaves serão equipadas com tecnologia digna dos filmes de Hollywood: câmeras Star Safire 380 proporcionarão uma qualidade de imagens única, que continuará com a polícia após os Jogos Olímpicos.

Mas a ‘cereja do bolo’ do monitoramento aéreo será um sistema de identificação noturna infra-vermelho. “Acoplados aos helicópteros e às equipes que fazem patrulhamento no solo, será possível identificar as tropas amigas e não ter mais aquela clássica visão noturna, quando era difícil a distinção em zonas de conflito”, explica o major Cláudio Leitão.

Preparação e equipamentos antiterrorismo na lista

Apesar de a responsabilidade de conter atos terroristas ser do Governo Federal, o Batalhão de Operações Especiais (Bope) se prepara para apoiar possíveis ações contra grupos extremistas com sua Unidade de Intervenção Tática. No orçamento básico da corporação para a Olimpíada estão incluídas a compra de máscaras de visão noturna, que podem ser usadas em condições adversas de luminosidade, além de equipamentos de proteção individual, visando confrontos em área urbana.

Alguns dos policiais já tiveram, fora do Rio de Janeiro, contato com os equipamentos que devem chegar ao Brasil até o fim do ano — os processos de licitações já foram abertos. “Aliados aos ensinamentos passados por exércitos estrangeiros, teremos o melhor aproveitamento possível”, acredita o major do Bope Maurílio Nunes.

A tropa de elite da PM também continuará o trabalho de capacitação dos policiais alocados em Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), já que seu efetivo será integrado de forma estratégica ao plano de segurança dos Jogos Olímpicos, de acordo com o major. O trabalho de monitoramento das áreas ocupadas pela Polícia Militar deve seguir o da Copa do Mundo de 2014, considerado satisfatório.
A compra de armamentos letais está prevista no orçamento, mas os valores e a quantidade que foram lsitadas nas licitações não foram informados por questões estratégicas da corporação. 

Pistola elétrica sem nenhum risco

As tradicionais pistolas Taser, de disparos eletro-incapacitantes, devem ser trocadas até a Olimpíada por armas não-letais de fabricação nacional. As armas Spark darão lugar à tecnologia estrangeira. “O percentual de acidentes com a Taser era considerado alto, apesar do uso consagrado em todo mundo”, explica o tenente Henrique Silva, do BPChq.

De acordo com o fabricante das novas ‘pistolas elétricas’ — como são conhecidas pelo grande público — nem mesmo indivíduos cardíacos, com marcapasso ou desfibriladores internos correm risco com a descarga empregada. “A carga é suficiente para tirar o sujeito da ação e imobilizá-lo à distância”, explica. O Batalhão de Choque apoiará a Central de Escolta, coordenada pela Polícia Rodoviária Federal. Dado o alto número de chefes de estado concentrados no Rio e seus translados durante a Olimpíada, homens do BPChq trabalharão como batedores, em parceria, também do Exército.

Como O DIA mostrou em junho, o Batalhão de Ação com Cães (BAC) terá 70 animais farejadores para varredura tática e identificação de drogas e explosivos. Os cães também auxiliarão na mitigação de conflitos urbanos. A licitação já foi aberta, e eles devem chegar ao Brasil com adestramento básico e 1 ano de idade. “Os animais podem ser usados em várias frentes”, reconhece o major do Bope.

Legado da Copa do Mundo ajuda no trabalho diário

O legado da Copa do Mundo existe sim, garantem as autoridades de segurança. De acordo com Leitão, das 1.500 horas de monitoramento aéreo feitos com as aquisições de equipamentos para o mundial de futebol realizado no ano passado, cerca de 250 horas de gravação foram utilizadas em ações de Inteligência realizadas na cidade este ano.

Apesar de ainda não ter sido definido o esquema de escalas e horários do policiais, é certo que o projeto seguirá o mesmo padrão utilizado no ano passado, com efetivo extraordinário.

A suspensão de férias e folgas no período de realização dos Jogos Olímpicos também é dada como certa. Todo o efetivo da Polícia Militar estará mobilizado para que haja segurança nas ruas do Rio.

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