Por felipe.martins

Rio - Uma sucessão de erros e de irresponsabilidades vieram à tona após a morte do bebê Arthur da Silva Meira Santos, de 3 meses, atropelado por um ônibus na contramão quando estava no colo da mãe, em Cordovil, Zona Norte do Rio, na última terça-feira. No local do acidente, na Rua Bulhões Marcial, só nesta quarta-feira, a prefeitura reforçou a sinalização.

O motorista Marcelo de Araújo, 38 anos, foi levado para o presídio de Bangu 10, indiciado por homicídio e lesão corporal dolosos, já que a Polícia entendeu que ele assumiu o risco do acidente ao entrar na contramão. Em depoimento na 38ª DP (Irajá), ele afirmou que todos os dias infringia o sentido correto daquela rua para fugir dos congestionamentos.

Ainda incrédulo com a tragédia que tirou a vida de Arthur, Jaciel se debruça e chora sobre o pequenino caixão do neto, sepultado ontem Severino Silva/ Agência O Dia

“Acordo cedo para pegar o trem e passo por aqui todos os dias. Tenho que olhar para os dois lados, já que muitos motoristas invadem a pista na contramão por causa do trânsito intenso na mão certa. Foi preciso morrer uma criança para tratarem de sinalizar a pista”, observou Daniela Maia, 35 anos.

Enquanto a equipe do DIA conversava com pessoas que passam pela rua, uma equipe da CET-Rio instalou mais uma placa com o aviso de sentido proibido no trecho onde o coletivo entrou pela contramão. No local, havia uma pequena placa indicando ser obrigatório dobrar à direita, mas a pintura da via, de quando o trecho ainda era de mão dupla, pode induzir o motorista ao erro.

Dono de um bar em frente ao local do atropelamento, Paulo César Dinato, 52 anos, disse que já presenciou inúmeros casos semelhantes. “Perdi as contas de quantas pessoas já foram atropeladas aqui. Eu mesmo quase fui na semana passada. Distraído, esqueci de olhar para os dois lados e quase um ônibus que vinha na contramão me acertou.”

Já Ubiraci Rocha, 51 anos, fez questão de parar seu automóvel para reclamar de outros motoristas. “Ninguém quer esperar alguns minutos no engarrafamento. A filha de um amigo foi atropelada no mês passado por um carro e foi parar no hospital. É um absurdo isso continuar”, reclamou.

Parentes revoltados

Comoção e revolta tomaram conta do enterro do bebê Arthur da Silva Meira. A mãe da criança, Patrícia da Silva Meira, que foi atropelada junto com o bebê, está em coma induzido no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, e ainda não sabe da morte do filho. “Minha filha está entubada e sedada, em estado grave na UTI. Não sei como vai ser quando ela souber. Só vou avisar quando ela tiver alta para não prejudicar a recuperação”, contou a avó materna do bebê, Elzira Ignácio, 56 anos.

Com a prisão do motorista, ela espera que a Justiça seja feita e que casos como este não se repitam. “Espero que outros meninos como o Arthur não morram e que outras Patrícias não passem pelo que a minha filha está passando. O caso do meu neto não pode ser esquecido. Que seja feita justiça”, desabafou.

Funcionário da prefeitura colocou nova placa de contramão%2C após morte do bebê%2C que estava no colo da mãeSeverino Silva / Agência O Dia

Inconsolável, o pai de Patrícia, o aposentado Jaciel Meira, de 60 anos, se abraçou ao caixão do neto. Após o enterro, ele pediu mais prudência aos motoristas. “Não desculpo o motorista, pois ele poderia ter evitado. Que responda pelos atos dele. Espero que os outros motoristas tenham prudência e respeitem a vida dos passageiros”, criticou Jaciel.

Aos prantos, Vitor Santos, o pai de Arthur lamentava a abreviação da vida do seu filho, para quem tinha tantos planos. “Não vou ter a oportunidade de criar meu filho, para quem queria dar uma vida confortável. O motorista é um criminoso que tirou a vida do meu filho. Mesmo ficando preso, não vai trazer meu filho de volta”, disse.

Patrícia foi submetida nesta quarta-feira a cirurgias na bacia e no maxilar.

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