Por felipe.martins

Rio - A frente fria que chegou terça-feira à tarde na cidade trouxe ventos de até 80km/h, queda brusca na temperatura, muitos transtornos, mas pouca chuva. Faltando uma semana para terminar o mês de julho, o acumulado com as chuvas não passou de 5mm, quando a média normalmente fica em torno de 50mm.

Especialistas informam que os reservatórios da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, que abastecem o Rio de Janeiro, estão chegando ao nível do volume morto. De acordo com Marcelo Pinheiro, meteorologista do Climatempo, mesmo com a frente fria que está sobre a cidade, a previsão é de que chova no máximo 10mm até domingo. “E mesmo que chova na semana que vem, quando há previsão de uma nova frente fria, esse índice acumulado vai aumentar só um pouco e não vai atingir a média”.

Regina Helena Machado reclama de vazamento em Cascadura%3A água abriu buraco na rua e escorre há mais de um mês. CEDAE já foi chamada Divulgação

Como se não bastasse a falta de chuva, comum nos meses de inverno, e o nível dos reservatórios cada vez menor, o desperdício de água na cidade parece uma constante. Em Cascadura, no subúrbio da cidade, um vazamento preocupa há cinco semanas os moradores da Rua Sidônio Paes. A dona de casa Regina Helena Duarte Machado, 65 anos, diz que a água corre solta na rua há mais de um mês. “Começou com um buraco pequeno e agora virou essa cratera. Há 20 dias a Cedae veio aqui, olhou, foi embora e nunca mais voltou”, disse a dona de casa, moradora de uma vila bem em frente ao vazamento. José Raimundo Filho, 62 anos, seu vizinho, contou que ele e outros moradores improvisaram um tampão de madeira para que as pessoas não se machuquem. “Já tem lôdo, as pessoas escorregam”.

Procurada, a Cedae informou que o conserto está agendado para hoje. Quanto aos desperdícios, a companhia disse que atende cerca de 60 reclamações por dia. As equipes técnicas realizaram, em 2014, mais de 28 mil reparos de vazamentos.

A companhia vem investindo em um programa de substituição de redes antigas por novas tubulações e está realizando uma megaoperação em conjunto com a Polícia Civil, batizada de "Água Legal", para combater ligações clandestinas.

De acordo com o “Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos”, do Sistema Nacional de sobre Saneamento, referente a 2013, do Ministério das Cidades, é evidente a necessidade agir mais rápido para reduzir as perdas no abastecimento. O Rio, segundo o relatório, é uma das cidades campeãs do desperdício.

Estiagem vai aumentar no verão

A culpa é do El Niño. O diagnóstico é do meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologista (Inmet) Marcelo Schneider. “O fenômeno El Niño é o que vem influenciando essa maior falta de chuvas e as temperaturas acima da média nesses meses”, diz Schneider.

Para o meteorologista, a população deve ficar atenta quando o verão chegar. O calor aumenta a umidade, mas graças ao El Niño haverá redução das chuvas na região Sudeste, uma das que mais tem sofrido com a seca nos últimos dois anos.

Paisagem árida em Campos dos Goytacazes%3A reservatórios da Bacia do Paraíba do Sul estão secando Divulgação

“O impacto é diferente nas regiões do país. No Sul, por exemplo, a previsão é de muita chuva nos próximos meses. No Sudeste e no Nordeste, é preciso não desperdiçar água”, alerta o meteorologista. Um estudo do Instituto Trata Brasil, uma organização da sociedade civil de interesse público (Oscip), formado por empresas com interesse nos avanços no saneamento básico e na proteção dos recursos hídricos do Brasil, revela que o país desperdiça por ano algo em torno de 6 sistemas Cantareira em volume de água.

Tal desperdício corresponde a R$ 8 bilhões, valores que deixam de retornar para investimentos em saneamento básico Brasil afora.

Crise está mais viva do que nunca

Para o deputado Luiz Paulo Corrêa da Rocha, presidente da CPI da Crise Hídrica da Alerj, é preciso diminuir já o consumo de água.

1. Qual a situação dos reservatórios?

— Estão com 50% do volume do ano passado, que já foi um ano de crise. Estamos sem controle.

2. O que vem sendo feito para amenizar essa situação ?

— Controle de fluxo e políticas de reflorestamento. Mas precisamos de campanhas de conscientização para diminuição do consumo.

2. O que esperar para o verão ?

— Eu não enxergo uma situação caótica, mas uma crise aguda mais viva que nunca e que deve durar até 2016.

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