Rio - A pacificação no Alemão fracassou e é preciso repensar a estratégia para recuperar o território perdido — além de corações e mentes dos moradores. A opinião do coronel Íbis Silva, chefe de gabinete do comando-geral e ex-comandante da Polícia Militar, foi dada ontem, no 9º Encontro Anual do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, na Fundação Getúlio Vargas. Íbis falou sobre o tema ‘Homicídio de Jovens Negros’, ao lado de Raull Santiago, do Coletivo Papo Reto, do Alemão; Átila Roque, diretor da Anistia Internacional, e Sílvia Ramos, diretora do Centro de Estudos de Cidadania e Segurança (Cesec), da Universidade Cândido Mendes.
“Fracassou (a pacificação do Alemão) porque começou de forma errada”, disse o oficial. “Ao contrário do que fizemos no Santa Marta, que continua sendo um exemplo bem sucedido, não reunimos lideranças do complexo antes de entrarmos no território, até por conta do contexto, já que era uma resposta aos ataques que a cidade sofria de bandidos. Foi uma ação ousada, mas hoje precisa ser repensada.”
Para Íbis, a entrada espetaculosa na favela em 2010, transmitida ao vivo, oferece mensagem inconsciente de conquista de território inimigo. “E enquanto se trabalha com esta mentalidade, é quase o mesmo que acontece com tropas de ocupação num território inimigo: hostilizada pela população e o tempo inteiro tendo de ficar administrando conflitos.”
Para o oficial, o processo de pacificação permite recuos e avanços. Ele acredita que uma reocupação com forças especiais da própria PM, seria a melhor opção. Mas frisou que a opinião é pessoal, não da corporação. Íbis admite que o policiamento de proximidade está falho na favela, que teve mais um jovem morto anteontem. A confiança que a presença das forças de segurança deveria gerar já não existe, e moradores e PMs estão acuados. “A pacificação não pode prescindir de uma proximidade, do estreitamento de relação entre a comunidade e a polícia.”
Polêmica sobre delegados
A tese do sociólogo Michel Misse, que na edição de quarta-feira do DIA defendeu o fim da exigência de que delegados sejam formados em Direito para oferecer maior mobilidade na carreira policial, não agradou ao presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Rio, Wladimir S. Reale. Para o policial, é fundamental que o delegado tenha sim conhecimento de Direito.
“As cadeias brasileiras estão superlotadas, em parte, por causa da eficiência da polícia”, diz Reale. “A proposta do senhor Michel Misse é um factóide.” Reale acredita que há outras formas de melhorar o desempenho da instituição através do uso de tecnologias — segundo Misse, delegados concursados entram para a polícia sem qualquer conhecimento da profissão e ficam reféns de policiais mais antigos. “O Judiciário reclama da saturação de processos, mas sem os delegados, com formação adequada, o Ministério Público e o Judiciário entrariam em colapso”, disse o policial, ressaltando que a proposta de Misse está completamente fora da realidade.