Rio - Segurem firme as coleiras! Uma nova de roubos toma conta das ruas do Rio e causa temor nas redes sociais. Agora são cãezinhos de raças consideradas nobres os alvos de quadrilhas organizadas. De acordo com especialistas, as pequenas vítimas são roubadas para revenda a preços abaixo dos praticados no mercado formal e também para reprodução artificial em canis clandestinos. Na internet, relatos da prática em bairros das zonas Norte, Sul e Oeste deixam claro o temor dos donos. Entre donos de canis, a sensação é a de ter cofres ao invés de jaulas.
Caso recente em Copacabana — bairro que reúne enorme quantidade de cães —, a roteirista Letícia Dornellas levava a pequena Alice, uma Shitzu de apenas dois meses, para uma dose de vacina. Patrick, o filho dela, de 4 anos, esperava a mãe de volta com a cachorrinha que havia sido seu presente de aniversário. Foi quando dois jovens a empurraram no chão e roubaram o animal. “Eles puseram na mochila e entraram num van. Atordoada, não consegui anotar a placa”, conta.
Além de ter que explicar ao filho o porquê do sumiço da cadelinha, Letícia esbarrou no que impede a polícia de chegar ao número exato de registros do tipo: na delegacia, ela descobriu que, perante a lei, animais são vistos como ‘bens’. “Engrossei a estatística de roubos. Mas se tratava de uma vida, não de um relógio”, disse. Para evitar traumas no filho, ela comprou outra cadelinha idêntica a Alice e a batizou com o mesmo nome.
De acordo com a promotora de Justiça Christiane Monnerat, que atua na área de defesa dos animais, a quantidade de relatos na internet pode estar associada ao alto valor de cães de linhagens nobres. No ranking das principais raças que são alvo de assaltantes estão os bull dogs franceses (nas tonalidades ‘azul’ e ‘fígado’), vendidos a até R$ 10 mil; loulous da Pomerâmea, que podem ser encontrados a R$ 7 mil, e shitzus, que custam R$ 3 mil, seguidos por wests terrier e maltês barganhados por R$ 2.500, em média.
Roubo de oito cães é registrado como assalto a residência
Hamilcar dos Santos Júnior, dono do canil Seavilles, em Pedra de Guaratiba, foi a mais recente vítima deste tipo de crime. No sábado, teve oito cães roubados por uma quadrilha. O caso foi registrado na 43ªDP (Pedra de Guaratiba) como roubo de residência. Porém, sete dos animais eram fêmeas, as mais procuradas (e valorizadas) por compradores.
“As fêmeas não demarcam território, logo, são mais procuradas por quem quer um animalzinho de estimação. Já entre os donos de canis clandestinos que trabalham com inseminações, ela são mais úteis por dar à luz novos filhotes. São galinhas dos ovos de ouro”, explica. De acordo com ele, foram levados dois bull dogs, três west terrier e três lulus da pomerâmia.
Inseminações causam risco aos animais
Como são vistos como bens, casos de roubos a animais não são concentrados na Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente e, muitas vezes, os donos não registram. ‘Passeador de cães’, Fabrício Santos agora só anda com oito animais dentro de condomínios da Barra. “Soube de uma mulher que teve um cão roubado quando andava de bicicleta. Na dúvida, prefiro não correr riscos”.
A veterinária Carolina Eccard afirma que as inseminações clandestinas podem acarretar infecções no útero das cadelas e nos filhotes, que podem nascer com deficiências. “Os donos devem observar as ninhadas completas e os pais do filhote para ver se são homogêneos”.