Rio - Em um inquérito instaurado pela 93ª DP (Volta Redonda), no Sul Fluminense, a Polícia Civil investiga um fato inusitado. Traficantes do Rio se instalaram no local e obrigaram os moradores do Morro da Conquista, no bairro Santo Agostinho, em Volta Redonda, às margens da Rodovia Lúcio Meira (BR-393), a mudarem o nome da comunidade para Concapaz.
Em áudio que circulou pelas redes sociais, captado pelos agentes, um homem, que se intitula “chefe” do bando local, dá ordens aos cerca de 10 mil moradores. Ele diz para não acionarem mais a polícia, apela para a fé e ‘sugere’ a troca dos nomes.
“A todos os moradores ... quero deixar um lembrete: a partir de hoje a paz reinará, pois a facção Terceiro Comando Puro permanece no local para fazer a segurança de vocês. Qualquer pobrema (sic) procurar o nosso povo. Não há a necessidade de chamar a polícia, porque quem manda na comunidade é (sic) vocês, a gente só administra. Jesus é o dono do lugar. E a partir de hoje, eu batizo a nossa comunidade como Concapaz. O Morro da Conquista agora é Concapaz”, diz o suposto traficante, no áudio apreendido.
Segundo os moradores, quem pronunciar o nome Morro da Conquista, antes dominado por criminosos rivais do Comando Vermelho (CV), é ameaçado. Placas com o nome anterior do morro foram retiradas de diversos pontos. “Armados com pistolas, os bandidos revistam trabalhadores, instituem toque de recolher a partir das 22h e reforçam as recomendações. Muita gente, como eu e minha família, estamos nos mudando, com medo”, lamenta o comerciário X., de 52 anos.
Em nota, a assessoria de imprensa da Polícia Civil informou que o delegado titular da 93ª DP, Luís Maurício Armond, investiga o assunto, mas que ele não daria entrevista para “não atrapalhar o andamento das investigações”. Na semana passada, o comandante do 28º BPM (Volta Redonda), Luís Cláudio Régis, tentou tranquilizar moradores. “Quem realiza a segurança dos moradores é o Estado, através da PM. Nós estamos atentos para protegê-los”, garantiu.
O áudio fez com que a polícia desencadeasse operações no Morro da Conquista, o que resultou, nas últimas semanas, na prisão de bandidos. Segundo a polícia, as ordens aos bandos partem dos presídios. Os chefões são Márcio Gonçalves da Silva, o Marcinho, de 37 anos, do CV, preso desde setembro de 2012, e Jhonatan Filipe Saturnino, o Nem Sapão, 24 anos, do TCP,preso no fim de janeiro deste ano.
?Extorsão e comprovante de residência
Casos inusitados acontecem há muito no Rio. Em maio de 2008, acuados pelas ações da Polícia Militar, paramilitares que tinham invadido três favelas em Quintino negociaram a venda do controle dos morros Dezoito, Caixa D’Água e Camarista Méier, na divisa com o Méier, por R$ 500 mil para bandidos do Comando Vermelho, conforme investigações da 28ª DP (Campinho). Semanas depois, a facção assumiu o controle das comunidades.
Um mês antes, outro atrevimento de milicianos, fez com que, mesmo contra sua vontade, o então pároco da Matriz de São Jorge, em Quintino, Marcelino Modelski, passasse a receber proteção policial. Na festa, o padre havia confirmado denúncias de que milicianos extorquiam barraqueiros para fazerem a segurança.
No dia 31 de maio deste ano, outra petulância de bandidos foi denunciada pelo DIA. Segundo moradores do Complexo do Chapadão, que reúne 24 favelas de Pavuna, Ricardo de Albuquerque, Costa Barros e Barros Filhos, traficantes passaram a exigir comprovantes de residência nas principais vias de acesso às comunidades. Quem não tinha o documento podia ter o veículo roubado. O complexo é reduto das quadrilhas rivais de Celso Pinheiro Pimenta, o Playboy, o mais procurado do estado, da facção Amigos dos Amigos (ADA), e do Comando Vermelho, dos foragidos da justiça Ricardo Chaves de Castro Lima, o Fu, e Cláudio José de Souza Fontarigo, o Claudinho da Mineira.