Por felipe.martins

Rio - A promessa do governador Luiz Fernando Pezão, durante a campanha eleitoral do ano passado, de que o Arco Metropolitano atrairia investimentos e seria uma via estratégica não saiu do papel. Apenas um ano depois de sua inauguração, a estrada que custou R$ 1,9 bilhão — quatro vezes mais do que o previsto — está sitiada por matagais, buracos e sinalização precária. Os motoristas temem acidentes e roubos - o posto do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) está abandonado e com marcas de tiros.

A explicação para o abandono é simples. O contrato com o DER, responsável pela operação, segurança, monitoramento e conservação da via, expirou no mês passado e até agora nenhuma nova licitação foi feita. A parte da rodovia concluída tem 73 quilômetros e liga Duque de Caxias ao Porto de Itaguaí. Cerca de 30 mil veículos passam no trecho por dia.

O caminhoneiro Rosenildo Silvestre, de 57 anos, relata que o Arco virou uma “via fantasma. Ela não tem placas indicativas, reboques, nem postos de combustível e policiamento adequados. Dá medo passar por aqui. Outro dia, deu uma pane no motor do meu caminhão e acabei tendo de ser socorrido por outros motoristas”, conta o caminhoneiro.

Matagal cerca estrada e prejudica visualização das placas. Acidentes são frequentesPaulo Araújo / Agência O Dia

A assessoria de imprensa do DER declarou que o órgão está aguardando a aprovação do Tribunal de Contas do Estado para começar um processo licitatório. “A via está monitorada pelos órgãos de segurança do estado”, respondeu a assessoria do Departamento.

O Tribunal de Contas do Estado (TCE) declarou que o edital de operação do Arco deverá custar R$22.245.165,36. O processo da licitação foi votado pelos conselheiros em 9 de julho, mas eles detectaram uma série de falhas legais que provocaram o adiamento até que os pontos fossem corrigidos.

Segundo o TCE, o processo não tinha especificações técnicas sobre os serviços previstos na operação da estrada. Também foi determinada a revisão da estimativa de veículos que passam na rodovia. As respostas pedidas ao DER pelos conselheiros foram encaminhadas ao Tribunal no último dia 11 de agosto, mas ainda estão sendo analisadas pelo corpo técnico, e não há prazo para conclusão. Depois, as respostas serão encaminhadas ao conselheiro-relator para apresentação de um novo voto em plenário.

A secretaria estadual de Transportes responsabilizou o DER. O Departamento de Rodagens, por sua vez, informou que os motoristas contam com a estrutura necessária para a segurança na estrada.

Motoristas reclamam de falsas blitzes e assaltos

Nas imediações do extinto posto do DER, na altura do bairro Miguel Couto, em Nova Iguaçu, o DIA encontrou sinais de vandalismo e evidências que bandidos e usuários de drogas usam a estrutura como abrigo. Na quinta-feira, a reportagem achou até uma cápsula de bala de revólver 38 na porta do local, onde também há o recado escrito a caneta: para ligar para o número “2332-5532 em caso de emergência”.

Dentro e fora da sede, restos de comida, fogueiras improvisadas com pneus, colchonetes e cobertores, denotam o descaso com o dinheiro e patrimônio públicos. Segundo um caminhoneiro de 35 anos, que não quis se identificar, não há nenhum policiamento na rodovia. “A gente só vê policiais militares na entrada e na saída da via. De noite, os assaltantes fazem a festa, principalmente nas proximidades de Japeri e Seropédica. Falsas blitzes, inclusive com o uso de cones grandes, são constantes”, disse.

73 km sem postos de combustíveis

O DIA também verificou que o matagal começa a invadir trechos dos dois lados da estrada e encobrir as poucas placas, como nas proximidades do viaduto Bernardino de Melo. “É difícil saber como entrar na rodovia e depois para onde seguir. As raras indicações são péssimas para quem é de longe, como eu”, disse Édigo Luiz de Souza, 24 anos, que, na quinta-feira, seguia de Maringá (PR) para Cariacica (BA), e parou na altura de Vila de Cava, para se localizar.

“Assim como ele (Édigo), dezenas de carreteiros, completamente perdidos, param aqui para saber onde estão”, comentou o representante comercial Marcelo Nunes, 46, que virou uma espécie de “bússola” para os perdidos. Acostumado a trafegar diariamente no Arco, transportando pedras para uma transportadora entre Magé e Japeri, Marcelo Velasco, 33, também reclama que o arco não tem Posto de Combustível e os pardais não tem placas de aviso.

Alerta tardio%3A só depois que entra na estrada%2C motorista descobre que não terá como abastecer até o finalPaulo Araújo / Agência O Dia

As laterais das pistas também apresentam crateras, que colocam em risco a vida de motoristas e a segurança dos veículos, como nas imediações do Km 274, na entrada do posto abandonado do DER. Outro problema que vai tomando forma às margens do Arco são as construções irregulares. Na altura de Duque de Caxias, imóveis sem reboco e sem laje estão por toda parte. O visual é o mesmo em alguns pontos diferentes até Itaguaí.


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