Rio - Até março de 2016, o Rio não terá mais moradores de rua. Pelo menos esta é a meta da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, SMDS, divulgada com exclusividade para O DIA. O secretário e vice-prefeito Adilson Pires informou que quatro abrigos serão construídos em Mangueira, Vila Isabel, Ilha e Bonsucesso, com geração de 700 novas vagas. Além dessas medidas, haverá o remodelamento da rede de acolhimento que hoje conta com 1.600 vagas próprias e 600 conveniadas. O anúncio é parte das ações pelo Dia Nacional de Luta da Pessoa em Situação de Rua, lembrado no dia 19.
Segundo censo feito em 2013 pela secretaria, cerca de 5.600 pessoas viviam nas ruas da cidade, destas 374 eram crianças. “O censo nos permitiu ter ações voltadas para essas pessoas, inovamos com algumas políticas.Boa parte do que fazemos foi ouvi-los”, diz Adilson.
Segundo ele, outra medida será a reestruturação do Rio Acolhedor, em Paciência, denunciado pelo O DIA em fevereiro de 2014, quando o Ministério Público Estadual o classificou como ‘depósito infecto de seres humanos’.
Pires afirma que ainda este ano, a unidade que possui 350 vagas será dividida em oito, com 48 vagas cada, quatro pessoas por quarto com banheiro. “O abrigo tem que ser um lugar que ajude a pessoa a recobrar sua autoestima.”
Para zerar a população que dorme nas ruas, Pires ainda prevê a ressocialização dos mendigos. “Quem vai morar nas ruas normalmente teve um trauma emocional grave, precisamos ajudá-los.” Segundo ele, a meta é que do momento que entre no abrigo, em nove meses a pessoa possa ser reinserida na sociedade. “O que não podemos é deixar que nossos semelhantes continuem dormindo na rua, é desumano”, diz.
Moradores de rua revelam suas histórias no Facebook
Darcy, Pedro e Luciano não se conhecem, apesar das semelhanças na trajetória de suas vidas. Os três vivem nas ruas e tiveram suas histórias publicadas pelo ‘Rio Invisível’, uma página que já reúne 83 mil seguidores no Facebook.
Os motivos que os fizeram parar nesta situação foram os mais variados. Darcy foi para a rua quando derrubaram sua casa, inesperadamente. “Era casa de tijolo maciço, ficou toda derrubada. ‘Eu vou pra onde?’ Não tinha dinheiro pra alugar um quarto, ‘eu vou pra rua’”, decidiu. Mas em breve, ele que completou 65 anos, pretende se aposentar e alugar um lugar. “Quer coisa melhor: eu com 800 reais e um quartinho?”
Paulo, 48, passou várias vezes pela rua, saía de casa para usar drogas, trabalhava como motorista. “No primeiro dia que fiquei sem emprego voltei a me drogar, já vai fazer um ano.”
Luciano, 46, não vê os filhos há cinco anos, viciado em cocaína, saiu de casa. “Larguei filho, minha família não me queria dentro de casa. Não aguentaram mais, era muita droga.” Ele sonha em conseguir emprego, ter uma casa. “Farei o que eu puder. Quero que meus filhos saibam que o pai deles não está mais usando cocaína. Me sinto livre.”
“O Rio Invisível é uma das páginas ao redor do Brasil que fazem esse trabalho”, conta a jornalista Yzadora Monteiro, uma das idealizadoras do projeto na cidade. A iniciativa de catalogar moradores de rua surgiu em São Paulo, no início do ano passado e se propagou pelo país.
O mais importante para o projeto é dar nome, um rosto para a população que vivia marginalizada pelas ruas. “A partir de agora, não é mais o ‘morador de rua’, ‘bêbado’ ou qualquer outra coisa pejorativa. As pessoas têm presente, passado, sonhos.”