Rio - O Secretário Estadual do Ambiente, André Corrêa, admitiu nesta quarta-feira, que a crise hídrica no Rio "é a mais grave da história". O relatório da Agência Nacional de Águas (ANA) apontou que o Reservatório do Paraibuna, principal que abastece o estado do Rio, chegou a apenas 1,7% do volume útil e deve voltar ao volume morto. O secretário voltou a pedir que a população fluminense não desperdice água.
"As operações que fizemos permitiram a economia de 1,5 trilhão de litros. Sem isso, estaríamos secos. Peço à população que economize água”, disse André Corrêa.
O secretário anunciou que, como medida de contingência, a vazão mínima no rio Paraíba do Sul, no ponto de transposição para o Guandu, em Barra do Piraí, na barragem de Santa Cecília, que já havia sido gradualmente reduzida de 190 m3/s para 140 m3/s e sofreu mais duas reduções desde 15 de agosto, atingindo 115 m3/s em Santa Cecília, sofrerá mais uma redução: 110m3/s em Santa Cecília, sendo 75 m3/s para o Guandu, a partir desta quinta-feira.
O Reservatório do Paraíbuna, no Vale do Paraíba (SP) entrou pela primeira vez no volume morto em janeiro deste ano e ficou por 19 dias nesta situação. Segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico, no mês de agosto do ano passado, o reservatório estava com cerca de 11% da capacidade e em 2013 com 55%.
O pesquisador Paulo Carneiro, do Laboratório de Hidrologia da Coppe/UFRJ, esclarece que essa medida não deve ser sentida pelo morador do estado do Rio nos próximos meses. No entanto, ele aponta que o próximo verão será o termômetro para o enfrentamento da crise hídrica no estado. Se novamente as chuvas vierem em quantidade menor, como aconteceu entre novembro e abril, o governo do estado pode ser obrigado a adotar medidas de racionamento de água.
"Se o verão for pouco chuvoso, nós vamos ter um ano de 2016 muito preocupamente, com muita restrição de reserva de água. Como consequência desse cenário, o governo vai ter de adotar o racionamento, não apenas para a população, mas também restringir o uso para a agricultura e para a indústria.
Carneiro acredita que a reversão do quadro somente acontecerá se os gestores da água deixarem de usar primordialmente a Bacia do Paraíba do Sul com objetivo de geração de energia. Segundo ele, a Agência Nacional de Águas vem errando desde o início de 2014 ao não adotar tal política preventiva. A situação se agravou no último verão quando as chuvas vieram em um volume menor que o esperado.
"Desde o início de 2014 ja havia indicações de que o Paraíba do Sul chegaria a esse ponto. A ANA deveria ter retido a água nos reservatórios e não usado a água para gerar energia. Essa crise vai exigir que se mude a lógica de operação para que cidades da Região Metropolitana não entrem em colapso. É necessário inverter a prioridade, o primeiro objetivo deve ser a segurança hídrica", apontou.
Uso racional é urgente, diz especialista
O pesquisador ratifica a crise hídrica do Paraíba do Sul como a pior de todos os tempos, desde que a Bacia do Paraíba do Sul passou a operar com o sistema de reservatórios, nas décadas de de 60 e 70. "É, sem dúvida, a pior situação histórica", disse ele. Carneiro pontua que a solução passa pelo planejamento a longo prazo. "É necessário que a gente tenha um planejamento mais transparente para o futuro. A gente tem uma companhia (a Cedae) que não dá informações para o trabalho científico. Neste momento do nosso estágio democrático isso não faz sentido. É necessário um debate a longo prazo não ficar apenas na discussão de se vai ter água na torneira ou não".
De acordo com Daniele Nunes, Coordenadora da Câmara Técnica do Comitê de Bacia Hidrográfica do Médio Paraíba do Sul, o problema chega com um conjunto de medidas que não foram tomadas, mesmo com o atual cenário. “Existe uma necessidade mais que urgente em se investir em recuperação de bacia hidrográfica, principalmente do Paraíba do Sul. Nós ainda não temos previsões certas de chuvas. Talvez, a reposição total desses reservatórios só chegue no final de 2016 e inicio de 2017. Estamos retirando água sem repor, algo precisa ser feito.”
Ainda segundo Daniele, já devíamos ter adotado o uso racional da água há muito tempo. “Estamos em um momento de crise muito sensível. A situação está crítica e a população precisa ser conscientizada de que é preciso utilizar água de forma racional, não podemos desperdiçar”, comentou.
Colaborou Vinícius Amparo