Rio - São Pedro não é o único culpado pela crise hídrica no Rio. Para o biólogo e ecologista Mário Moscatelli, que sobrevoa mensalmente a Região Metropolitana para monitorar os efeitos da ação humana no meio ambiente, os verdadeiros responsáveis pela extinção das fontes de água doce do Rio somos nós. Segundo Moscatelli, dos 55 rios que chegam à Baía da Guanabara, 47 estão “mortos”, ou seja, de tão poluídos, não podem ajudar a abastecer a cidade.
Entre as ‘vítimas fatais’, estão o Rio Meriti, Sarapuí, Maracanã e Méier. Segundo Moscatelli, o crescimento desordenado das cidades teve a consequência direta do despejo de esgoto não-tratado nesses mananciais.
"O que hoje a gente usa como depósito de lixo deve ser usado como fonte de água. Tratar o esgoto será uma ação fundamental. Se o processo começar em breve e for levado a sério, em pelo menos 20 anos, poderemos usar a água potável dos rios”, diz Moscatelli, que afirma não estar surpreso diante da crise hídrica. “Só estamos colhendo o que plantamos", declarou.
Nesta sexta-feira, O DIA mostrou que o nível dos reservatórios de água que abastecem toda a Região Metropolitana do Rio está em apenas 7,49% da capacidade. No ano passado, que já foi de escassez, na mesma época do ano, estava em 19%.
O ambientalista enfatizou a ausência se políticas públicas voltadas para o saneamento. “Não é coisa de um governo ou outro. Essas ações devem ser implementadas pelos próximos 20 anos de forma contínua e eficiente”, apontou Moscatelli.
A população, entretanto, não está isenta de responsabilidade. “O desperdício é uma característica do nosso povo, que sempre foi acostumado com abundância. Nunca se imaginou que o Brasil, que é uma potência mundial em termos de água doce, viveria esse problema".
Embora o despejo de esgoto nos rios seja comum em áreas mais pobres, Moscatelli afirma que o problema não é exclusivo das comunidades carentes. “Entre os oito rios que correm na Baixada de Jacarepaguá, apenas o Rio Cachoeira está vivo. São áreas de classe média e alta, o que deixa claro que a poluição não vem só dos pobres".
Peixes mortos no Parque Olímpico
Outra evidência da poluição dos rios apareceu nesta sexta-feira, com milhares de peixes mortos na Lagoa de Jacarepaguá, às margens do Parque Olímpico. O biólogo Mário Moscatelli estimou que havia, no fim da tarde, uma tonelada de tilápias, robalos e tainhas mortas e a tendência, segundo ele, é de que o número aumente neste sábado.
Moscatelli explicou que a causa da mortandade deve ser a falta de oxigênio, devido à poluição, ou liberação de gás sulfídrico do fundo poluído da lagoa. “Quando entra ressaca ou frente fria, como ocorreu essa semana, o fundo é remexido e libera a poluição na água”, explicou.
O biólogo afirma que há grandes chances de essa mortandade se repetir durante os Jogos de 2016. A limpeza do complexo de lagoas da região era um compromisso para a Olimpíada, mas o governo estadual já admitiu que não será cumprido a tempo.
“É mais um alerta do que pode se repetir. Estou virando pai de santo ambiental”, brincou. O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) informou que iria mandar uma equipe para fazer a avaliação no local na manhã de hoje.
Reportagem da estagiária Clara Vieira