Por paloma.savedra

Rio - As ordens dos traficantes que tomaram o Morro do Jordão, em Jacarepaguá, aumentam o medo e alteram a rotina dos moradores. Neste sábado, os traficantes do Comando Vermelho proibiram a circulação de mototaxistas, na parte alta do Jordão, sob ameaça de fuzilamento. A maioria dos ‘pilotos’ pagava taxa semanal aos milicianos, antigos chefões da favela. Os traficantes não gostaram e resolveram punir os mototaxistas. De quebra, castigaram a comunidade.

Moradores do Morro do Jordão ficaram%2C agora%2C sem alternativa que facilite a subida com as compras pesadas. Taxistas evitam a áreaBruno de Lima / Agência O Dia

Antes, os moradores usavam os mototaxistas para subir o morro. Agora, ficaram a pé. “O que se fala na comunidade é que vão reorganizar o serviço, mas eu não quero mais trabalhar aqui. Não vou carregar pessoas até lá em cima para comprarem pó (cocaína) ou fazer transporte de bandidos armados e de drogas”, afirmou um mototaxista.

Os poucos profissionais que estão trabalhando circulam apenas na parte baixa da favela. “Mas não rende muito, pois os moradores pagam para chegar no alto e não podemos mais ir até lá”, disse outro profissional. Por razões de segurança, eles não foram identificados.

Nos acessos ao Morro, O DIA flagrou nesta segunda-feira moradores subindo a pé com sacolas nas mãos. O antigo ponto de mototaxistas estava sem os profissionais e com apenas três motos paradas. Na região, dois grandes supermercados têm intensa movimentação aos sábados e domingos e foi, justamente no último fim de semana, que a ordem de parar o transporte chegou.

“Eu nem andava na moto, pois tenho medo de cair, mas os meninos levavam minhas compras até lá em cima e agora, tenho que subir carregando as bolsas”, contou uma moradora de 59 anos.

Mototaxistas pagavam taxa para milicianos. Traficantes não gostaram e proibiram o serviço de motosBruno de Lima / Agência O Dia

Moradores acuados

Na noite de sexta-feira, horas antes das ordens para que os mototaxistas escolhessem entre morrer ou parar de trabalhar, os traficantes fizeram mais uma exibição de força para intimidar a comunidade. Muitos tiros foram disparados, mas não havia confronto com a polícia, conforme informou o batalhão da área. Em redes sociais, moradores postaram pedidos de ajuda.

“Tiros no Jordão, neste momento”, escreveu a internauta Bety B. “Que Jesus proteja a todos os moradores do Jordão...”, comentou a amiga dela, Rosimere J. Os relatos são de desespero: “Meu Jesus, guarde seus filhos”. “Ai Deus, onde vamos parar!!”, escreveram as internautas sem se identificar.

A ‘venda’ da comunidade por milicianos para o Comando Vermelho por R$ 3 milhões foi noticiada com exclusividade pelo DIA na semana passada. As polícias civil e militar estão investigando a ‘transação’.

Milícia ‘vendeu’ favela para o tráfico

Na quarta-feira passada, quando O DIA denunciou a ‘venda’ do Morro do Jordão pela milícia, o secretário de Segurança José Mariano Beltrame reconheceu a gravidade do caso. Ele comparou a transação com a do Complexo do Chapadão, em Costa Barros. Lá, uma semanas antes, o Comando Vermelho teve seis lideranças presas pelo Bope, entre eles, Ricardo Chaves de Castro Lima, o Fu da Mineira. O bando portava uma metralhadora ponto 50, capaz de derrubar aeronaves.

“Existe uma investigação, assim como existiu no Chapadão. Os senhores podem ter certeza que nós vamos chegar em um resultado bom para a sociedade. Eu sei que agora a população demanda essa segurança, mas nós precisamos trabalhar, em primeiro lugar, formando materialidade robusta para apresentar ao Judiciário”, argumentou Beltrame.

Segundo as investigações da 41ª DP (Tanque), a milícia foi desarticulada no Jordão e a região vem sofrendo pela entrada de elementos do CV oriundos do Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, de onde foram expulsos pela facção rival Amigos dos Amigos (ADA).

O quartel-general do CV em Jacarepaguá é o Morro São José Operário, de onde partem os ataques a regiões controladas por rivais ou milicianos. A atuação de traficantes no Morro do Jordão também é alvo do serviço reservado da PM.

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