Por paloma.savedra

Rio - A violência no Rio de Janeiro voltou a ganhar as manchetes nacionais nesta quarta-feira à tarde, com o assassinato de Ana Lúcia Neves, de 49 anos, no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste. A vítima era casada com Sávio Neves, primo do senador e ex-candidato a presidente Aécio Neves. Diretor da empresa que opera o Trem do Corcovado, Sávio é sobrinho do vice-governador do Rio, Francisco Dornelles

Segundo testemunhas ouvidas pelo DIA, Ana Lúcia foi baleada quando chegava para malhar na academia Rio Sport Center. Ricardo Cunha, técnico de câmeras de segurança, viu tudo de perto. Ele fazia instalação de câmeras no restaurante Cugine, bem ao lado da academia, exatamente em frente ao local do assassinato.

Ana Lúcia deixa três filhos e um viúvo%2C Sávio NevesReprodução Panrotas

“Me pareceu tentativa de sequestro, já que o homem não levou bolsa, não roubou nada. Ele tentou arrastá-la para o carro onde estava com mais uma ou duas pessoas. Ela reagiu, gritou por socorro e ele continuou insistindo. Como não conseguiu, deu um tiro à queima-roupa e fugiu num Sentra prateado”, contou o técnico Ricardo Cunha.

Ana Lúcia foi levada para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, por um colega de academia. Ao chegar, sofreu uma parada cardíaca, mas conseguiu ser reanimada pelos médicos, morrendo em seguida.

Inicialmente, a Secretaria Municipal de Saúde informou que Ana Lúcia havia sido vítima de uma facada, o que foi desmentido por vários presentes no local do crime, inclusive policiais militares que foram ao local.

No fim do dia, tanto a Secretaria de Saúde quanto a Polícia Civil disseram que caberá ao Instituto Médico Legal informar o tipo de arma que causou o ferimento fatal. Ana Lúcia, que tinha três filhos com Sávio Neves, morreu quando passava por uma cirurgia para identificar e conter hemorragias. O procedimento demorou cerca de três horas.

Marcas de sangue no carro de Ana Lúcia Neves%3A mulher morreu após ser ferida em tentativa de assalto no RecreioBruno de Lima / Agência O Dia

Outros casos

Ainda nesta quinta-feira pela manhã, outra vítima foi baleada em tentativa de assalto na Barra da Tijuca, desta vez próximo ao terminal Alvorada. Milton Nunes contou ao RJTV, da Rede Globo, que estava com o carro parado no trânsito quando houve um arrastão e acabou atingido por um tiro na mão.

“Dei sorte, pois a bala atravessou o para-brisas e pegou no volante. Se não fosse isso, teria me atingido no peito”, contou a vítima, também atendida no Hospital Lourenço Jorge.

Ana Lúcia foi ferida em frente à academia que frequentava. Ela estava chegando ao local quando foi abordadaBruno de Lima / Agência O Dia

Também em rua próxima do local onde Ana Lúcia foi assassinada ontem, a estudante Mila Filippo, de 24 anos, foi esfaqueada no braço na terça à noite. Em post publicado no Facebook, onde aparece com o braço esquerdo cortado, Mila contou que o assaltante aparentava ter aproximadamente 13 anos de idade. Ela escreveu que reagiu ao assalto por não ter visto que o menino estava com uma faca ao atacá-la.

“Ele pegou o dinheiro e pediu o celular, mas eu falei que não tinha mais nada porque fui assaltada outro dia e levaram o meu celular. Foi aí que ele me deu três tapas na cara, me pegou pela nuca e me deu nove cortes no braço”, disse Mila. “Onde é que isso tudo vai parar ?”, questionou a jovem.

Beltrame diz que violência está desenfreada no país

O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, lamentou a morte de Ana Lúcia Neves, assassinada ontem no Recreio dos Bandeirantes quando chegava na academia de ginástica. Beltrame afirmou que não se pode ‘mais uma vez’ confundir segurança pública com polícia e que a violência urbana está ‘desenfreada, sem limite no país inteiro’.

“Tenho certeza que vai se chegar à elucidação deste homicídio ou tentativa de latrocínio”, prometeu. “Não se pode confundir segurança pública com polícia. Tenho certeza que fatos tristes parecidos com este que ocorreu hoje no Rio aconteceram em outros lugares do país também ”, analisou o secretário de Segurança do estado.

Beltrame ainda cobrou a participação de outros setores dos governos para que se combata a criminalidade. “Outros atores tem que entrar nessa questão porque a polícia é parte dessa solução, mas ela não tem todas as respostas”, desabafou.

Segundo Beltrame, a polícia tem um papel dentro da segurança pública, mas ela não vai resolver todos os problemas da sociedade. “Ninguém fala em causa, somente cobra polícia, polícia, polícia. E polícia não vai resolver tudo”, alertou.

Embora o Recreio dos Bandeirantes tenha aparecido como cenário de violência ontem com três casos de assalto, os crimes na região tiveram redução significativa entre 2014 e 2015, segundo números da Secretaria de Segurança.

De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), houve uma queda no número de casos de roubo a transeunte no Recreio. Foram 271 casos entre janeiro a julho do ano passado e 253 no mesmo período de 2015, o que significa 18 roubos a menos.

O número de homicídios dolosos também teve queda. Foram 14 casos em 2014 e duas mortes a menos em 2015. Já o número de latrocínios (roubo seguido de morte) em 2015 se manteve igual ao de 2014, com apenas um caso registrado na área.



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