Por nicolas.satriano

Rio - A sangria de aproximadamente R$ 8 milhões imposta por oficiais da Polícia Militar nas unidades hospitalares da corporação e revelada pelo DIA no fim do ano passado pode levar ao fechamento do Hospital Central da PM (HCPM), no Estácio.

A denúncia foi feita pelo diretor do Sindicato dos Médicos do Rio, José Alexandre Romano, que nesta quarta-feira à tarde receberá cerca de 80 médicos residentes do hospital para tratar do fechamento de 70 leitos e dois centros cirúrgicos do HCPM.

Segundo José Alexandre Romano, devido às fraudes nas unidades hospitalares, diversos contratos foram suspensos e, há cerca de quatro meses, aproximadamente 150 técnicos de enfermagem perderam o emprego. Atualmente, com os 70 leitos fechados e 84 residentes sem função, o HCPM teria de fechar as portas.

“Existem alguns problemas. O primeiro foi o escândalo da máfia e, consequentemente, os contratos que foram descontinuados. O segundo é que dentro da corporação há interesse neste caos para que a administração do hospital seja entregue a algum plano de saúde. É lobby descarado”, acusa José Alexandre Romano.

Hospital da Polícia Militar: demissão de 150 técnicos de enfermagem, afastamento de residentes e desvio de recursos pela máfia de saúdeEstefan Radovicz / Agência O Dia

Ainda de acordo com o diretor do Sindicato dos Médicos, cada policial poderá ter entre R$ 300 e R$ 400 descontados de sua folha de pagamento com uma assistência de saúde privada.

“Sem falar na queda de qualidade do serviço prestado ao policial, e também aos familiares do policial, uma vez que os hospitais atendem à toda a família”, lembrou Romano. O bom serviço prestado no Hospital Central da Polícia Militar também é exaltado pelos médicos residentes, que temem por uma má formação profissional.

“Eu gostaria de concluir o programa onde eu comecei. Aqui o serviço funciona e é de boa qualidade. Já estou há um ano e meio no HCPM, se eu ‘cair de paraquedas’ em um novo serviço, não vou conseguir ter uma boa formação”, disse uma médica residente, que preferiu não se identificar.

Atualmente, as cirurgias de emergência, oncológicas e de fraturas ortopédicas estão mantidas, mas com número reduzido devido à precariedade do hospital.

“Espero que o governo se sensibilize com a questão e faça os pagamentos necessários para que o hospital volte a funcionar. Esta é a posição do Sindicato dos Médicos”, completou Romano.

A assessoria de imprensa da PM informou, por email, que 196 leitos estão em funcionamento normal e 24 leitos estão temporariamente fechados. Quanto aos centros cirúrgicos, três estão em funcionamento normal e dois estão inoperantes.

O Diretor Geral de Saúde, Coronel Arthur Baeta, reconheceu que o fechamento dos leitos se deveu pelo término do contrato do quadro suplementar de técnicos de enfermagem, mas garantiu que o comando do Hospital já incluiu no plano orçamentário de 2016 um concurso para suprir as necessidades da área de saúde.

Escândalo foi denunciado pelo DIA

A máfia dos hospitais da Polícia Militar, denunciada no final do ano passado pelo DIA, foi considerada pelo presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE) o maior escândalo já visto por aquela Corte.

O relatório do TCE mostrou um desvio de R$ 7,9 milhões de sete contratos para compra de insumos e equipamentos para hospitais da PM.

Na auditoria do TCE foram analisados apenas 9,63% do total de gastos realizados em 2014. E ainda assim, 56% deles continham irregularidades em todos os níveis, como uma compra de ácido peracético que nunca foi entregue, numa quantidade que demoraria mais de 230 anos para ser utilizada.

Vinte pessoas, entre eles 11 oficiais, foram apontados como os responsáveis pelo derrame. Eles estão respondendo por ação de improbidade administrativa para devolver os recursos desviados dos cofres públicos.

Na lista de materiais com compras irregulares há ainda aventais e curativos. Foi constatado ainda o desvio de stents — prótese implantada por meio de cirurgias para abrir artérias.

A corporação adquiriu lote de aparelhos por R$ 2,1 milhões. Mas 14 deles não foram localizados. As compras foram feitas com recursos do Fundo de Saúde da Polícia Militar (Fuspom), bancado por militares que têm desconto de 10% do soldo e gera receita anual de R$ 115 milhões.

A investigação responsabilizou o ex-chefe do Estado-Maior, além de outros 11 oficiais. O caso está no Ministério Público que atua junto à Auditoria de Justiça Militar.

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