Por felipe.martins

Rio - Era mais um dia na nova vida da jovem Jéssica Oliveira. Há apenas seis meses no candomblé, ela define esse período recente como de "renascimento". Mas, segundo ela, essa alegria foi interrompida quando fazia compras trajando as roupas da religião. Uma funcionária da filial do supermercado Super Reede, na Rua Carobinha, em Campo Grande, Zona Oeste do Rio, teria agredido ela sem nenhum motivo anterior. A jovem afirma que ouviu gritos preconceituosos e foi segurada e sacudida com força pela recepcionista do supermercado. "Que demônio você serve?", de acordo com Jéssica, foi uma das frases escabrosas dirigidas a ela pela mulher

A jovem Jéssica Oliveira mostra o registro da ocorrência ao lado da mãe de santo Márcia MarçalReprodução Facebook

O caso aconteceu na última segunda-feira, dia 14. A reportagem do DIA procurou ao longo de toda a tarde destas quinta-feira a empresa Super Rede, mas nenhum responsável foi encontrado nos telefones que constam no site para se pronunciar. Ao saber da agressão, a mãe de santo da casa onde Jéssica pratica a religião, Márcia Marçal, acampanhou a jovem na delegacia. Indignadas, elas pretendem acionar o supermercado na Justiça por intolerância religiosa. 

Jéssica guarda na memória o ocorrido. "Eu tinha acabado de fazer as minhas compras normalmente quando, na saída, essa funcionária, que eu nunca vi antes, me segurou pelo braço e começou a me sacudir. Disse que eu iria para o inferno. Perguntou para mim: Qual demônio você serve?", contou a jovem. Jéssica conta que afastou a mulher e foi embora não sem antes pedir respeito. "Eu me senti muito ofendida. A única coisa que eu fiz foi afastar ela com o braço e falar para ela respeitar a minha religião porque todas as religiões devem ser respeitadas".

A mãe de santo Márcia Marçal ficou indignada com o relato da filha de santo. Há 27 anos no candomblé, ela pretende levar o caso até as últimas instâncias judicais para evitar que casos de preconceito por motivo religioso aconteçam. "Nós somos candomblecistas. Não somos arruaceiros. Não atacamos ninguém. Nossa religião é amor. Não é nossa intenção tirar dinheiro de ninguém. A gente quer apenas respeito. Enquanto a lei não for cumprida com um, todos os outros vão se sentir com liberdade para fazer isso".

O caso foi registrado na 35ª DP (Campo Grande) como intolerância, injúria por motivo religioso e agressão. De acordo com a distrital, uma equipe deve ir nos próximos dias ao supermercado para ouvir a funcionária e buscar por testemunhas, além de solicitar as imagens das câmeras de segurança. 

Após o registro na delegacia. Jéssica e Márcia voltaram ao supermercado para levar o caso à gerência da filial. no entanto, segundo elas, houve um pedido de desculpas constrangido por parte da funcionária, segundo elas, para abafar o caso. "Tenho certeza que ela foi obrigada a pedir desculpas", disse Márcia.

"De início, os funcionários disseram que a gerente não estava, mas quando perceberam a gravidade da situação, a pessoa apareceu. A gerente ouviu o que eu tinha para falar e foi chamar a recepcionista. Ela tentou abraçar a Jéssica, mas eu avisei que não podia porque ela estava de resguardo, não podia ser tocada. Nós dissemos a ela que não aceitávamos o pedido de desculpa, porque estava claro para a gente que aquilo não era de coração e que daqui para a frente o caso seria tratado na delegacia e na Justiça", abordou.

Nascida em um lar evangélico, Jéssica se converteu ao candomblé neste ano e conta estar vivendo o melhor momento da vida dela. "Eu tomava remédios antidepressivos, o candomblé foi a melhor coisa na minha vida. Me senti abraçada, como numa família". Um episódio como da última segunda-feira, ela espera nunca mais viver. "Jamais imaginei passar por algo assim. Quando era evangélica, nunca agi dessa forma com alguém. O que eu vivo agora é um renascimento e quero continuar no candomblé, me sinto muito bem aqui". 




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