Rio - As pinceladas coloridas compõem uma charmosa visão do píer da Barra. Em outra moldura, tons de verde se misturam recriando o lago do Jardim Botânico. Como que saídas das mãos de um famoso pintor impressionista, paisagens do Rio ganharam versões em óleo sobre tela e serão expostas na Alerj a partir de amanhã, das 10h às 17h. A diferença é que o talento mora na boca e nos pés de um grupo de artistas brasileiros, do qual o publicitário Marcelo Cunha tem o orgulho de fazer parte. Tetraplégico desde os 21 anos, quando se acidentou ao saltar de uma cachoeira, Marcelo não permitiu que sua limitação o afastasse da arte.
“Aprendi que ser livre não depende dos seus movimentos. Aos 24 anos, vi uma entrevista com um deficiente que pintava com a boca, e no mesmo dia resolvi tentar. Decidi dar o meu melhor, e em 1997 fiz minha primeira exposição”, contou o entrevistado, que calcula seu acervo entre 250 e 300 obras. Casado há 10 anos com uma antiga amiga que reencontrou em uma de suas exibições, Marcelo também é palestrante e escritor, tendo lançado dois livros: ‘Renascido da dor’, sua autobiografia, em 2004, e ‘Aceitar é preciso’, em 2012.
A determinação lhe rendeu uma vaga na Associação de Pintores com a Boca e os Pés (APBP), organização internacional que conta com 49 membros no Brasil. Em 2004, Marcelo enviou quadros para a Suíça, sede da instituição, e se tornou o terceiro fluminense a ingressar na entidade. Segundo o pintor, sua grande inspiração foi justamente o fundador do grupo, o artista alemão tetraplégico Arnouf Erich Stegmann. “Ele tinha tanto carinho pelo público que sempre se apresentava de terno, mesmo nas ruas, para que não sentissem pena dele por ser deficiente”.
Outros 22 artistas terão seus trabalhos expostos na Alerj, pelo Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência. A iniciativa é da deputada Tânia Rodrigues (PDT) e poderá ser vista até dia 28, de graça. Amanhã, às 10h, ele e outros pintores farão uma demonstração de sua técnica para o público, na escadaria do Palácio Tiradentes. A mostra terá duas seções: obras de pintores que utilizam suas bocas e pés e homenagem ao escultor e pintor Flávio Nakan, que morreu em março. Nakan pintava com a boca, e militava pelos direitos da pessoa com deficiência. Foi vereador de Mesquita em quatro mandatos consecutivos.
Desafio na Praça 15
Também a partir de amanhã, quem passar pela Praça 15, em frente à estação das barcas, no Centro, poderá sentir na pele as dificuldades de um cadeirante no meio urbano. Até quinta-feira, estará montado um circuito de obstáculos, que reproduz situações vividas por usuários de cadeiras de rodas, surdos e cegos nas vias públicas, para serem vivenciadas pelas pessoas que não estão em condições especiais.
Na lista de tarefas a serem enfrentadas pelo público durante a semana, estão itens como andar em cadeira de rodas em calçadas de pedras portuguesas, sem rampas e entrar em táxis que não são adaptados para deficientes.
O hotsite www.rioconsciente.com.br será criado e a hashtag #rioconsciente será postada nas redes sociais. A iniciativa é da entidade Rio Solidário, do Governo do estado e da Alerj.
Reportagem da estagiáia Clara Vieira