Rio - Traficantes da comunidade Dom Bosco, em Nova Iguaçu, assassinaram barbaramente um policial militar na madrugada de segunda-feira. Após reconhecerem o soldado Bruno Rodrigues Pereira, de 30 anos, os criminosos o amarraram e atiraram em suas costas.
A vítima foi arrastada pelas ruas da favela até a morte. Bruno, que tinha ido ao local se encontrar com o irmão, foi o 53º policial morto no Rio este ano. Outros 113 agentes ficaram feridos em ataques ou em confrontos de janeiro a setembro.
Bruno trabalhava na UPP Formiga, na Tijuca, e seu corpo foi deixado próxima a uma escola na Rua Gelo, na comunidade Lagoinha. Agentes da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) fizeram perícia no local e buscam testemunhas e imagens que possam auxiliar nas investigações. O irmão da vítima prestou depoimento ontem.
Segundo policiais, o próprio irmão reconheceu o corpo de Bruno depois que ele foi encontrado. Antes do encontro, ele teria pedido ao militar para não entrar na comunidade por conta da presença de traficantes, mas Bruno teria ido ao seu encontro porque chovia bastante. Segundo testemunhas, os bandidos ainda entregaram a arma, a identidade e a farda da vítima. O carro da vítima não havia sido localizado até a noite de ontem.
À tarde, aproximadamente 50 policiais do 20º BPM (Mesquita) fizeram uma operação nas comunidades Dom Bosco e Lagoinha para procurar os assassinos do soldado. Sete suspeitos foram detidos e seis menores, apreendidos, além de quatro pistolas. Com um dos jovens os policiais encontraram trouxinhas de maconha, pinos de cocaína e um rádio transmissor. A ocorrência foi encaminhada para a 56ª DP (Comendador Soares).
O soldado Bruno era casado e estava na corporação desde dezembro de 2012. O corpo dele será enterrado hoje no Cemitério de Irajá, mas o horário ainda não estava definido pela família ontem à noite. Parentes do militar evitaram falar sobre o crime.
Medo da violência é rotina para a maioria dos policiais no país
O assassinato de Bruno revela a triste realidade em que vivem os agentes de segurança no país. Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, feita em julho, quantificou o tamanho do medo que persegue policiais brasileiros. Dos 10.323 ouvidos, 44,5% deles eram PMs. Destes, 73% tiveram algum colega assassinado em serviço e 77,5% relataram a perda de um colega, morto durante a folga.
“A sociedade não tem o grau de generosidade e solidariedade com o policial que deveria ter, como se ele não fosse também vítima da violência. Isso é muito grave, pois mortes como a deste rapaz aumentam o ódio da polícia pelos criminosos e o ódio da própria sociedade, que fica chocada. Não podemos permitir que a resposta produza uma caçada e aumente a violência”, avaliou a socióloga Silvia Ramos, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes.
Em todo o grupo de entrevistados — incluindo policiais civis, federais, rodoviários federais, bombeiros e guardas municipais —, 44,3% escondem a farda ou distintivo no trajeto de casa para o trabalho. O medo de ser assassinado é constante para 67% dos agentes.
“Os policiais são reconhecidos no Brasil pelas violações de direitos. Mas eles também são vítimas de violações dos seus próprios direitos, o que muitas vezes não é percebido”, afirmou Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, evento onde os dados da pesquisa foram divulgados.