Por paulo.gomes

Rio - Vereador, PMs, médicos, advogados, empresários e morador de Ipanema, na Zona Sul do Rio, estão entre os integrantes da maior quadrilha de fraudes de seguro de carros do país desarticulada nesta quarta-feira. A ação envolveu 500 policiais de quatro estados: Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio, onde o esquema funcionava. A operação Corte Seguro capturou 105 suspeitos do total de 150 mandados de prisão preventiva, entre eles, dois dos quatro acusados de liderar o esquema. As investigações apontaram fraude em 70 veículos do Rio.

Os alvos eram donos de carros de luxo, custando em média R$ 100 mil, como Ford Fusion e BMW. Os veículos eram levados para cidades de Santa Catarina em caminhões-baú para evitar que fossem multados em radares e, consequentemente, rastreados e identificados. Lá, eram entregues aos receptadores, desmanchados e as peças, vendidas em lojas.

Depósito em Santa Catarina armazenava as peças retiradas dos veículos do Rio usados no golpeDivulgação

Os falsos registros de roubo ou furto só eram feitos pelos donos oito dias depois do carro ser levado para o sul do país. O esquema permitia que o proprietário do veículo recebesse 110% do valor do seguro do automóvel, que saía a custo zero para os receptadores, já que os carros eram vendidos pelo preço que queriam.

“O esquema gerava falsas estatísticas, comprometendo o planejamento da segurança públicas das cidades. E havia também sonegação fiscal na venda de peças ilícitas. É uma série de atos fraudatórios que geravam prejuízos ao consumidor, à segurança pública e à ordem tributária”, explicou o promotor do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de Chapecó, Fabiano Davi Baldissareli. O Gaeco filmou as ações dos criminosos.

As investigações constataram que a maioria desses falsos registros eram feitos na 34ª DP (Bangu) e 52ª DP (Nova Iguaçu). Segundo o major José Ivan Schelarin, do Gaeco de Santa Catarina, os donos dos carros diziam nas delegacias que foram atacados por dupla de motoqueiros. “Como geralmente esses registros não eram checados, as informações eram recorrentes. Seguramente não houve investigação, senão iriam constatar que os registros eram falsos. Tanto que as pessoas que fizeram a falsa comunicação estão sendo presas”, afirmou.

O Gaeco vai investigar se há participação de policiais civis. “Pode haver envolvimento dos policiais. Um número grande de registros em duas delegacias pode ser um indício”, disse a coordenadora de Segurança e Inteligência do MP, Eliza Fraga.

Corregedoria investiga PMs

A Corregedoria da Polícia Militar abriu Procedimento Administrativo Disciplinar para apurar a conduta dos PMs presos. Um é capitão do 21º BPM (São João de Meriti), outro soldado do Centro de Manutenção de Armamentos e Munições da PM e um é sargento do 17º BPM (Ilha do Governador). Os acusados vão responder por organização criminosa, falsa comunicação de crime, furto, roubo, estelionato, receptação e adulteração de sinal identificador de veículo e podem pegar de um ano e meio a seis anos de prisão.

Foram cumpridos ainda 110 mandados de busca e apreensão e apreendidos documentos de carro, notas fiscais, peças de automóveis, caderno de anotações, um revólver calibre 38, munições, entre outros. As investigações foram comandadas pelo coordenador do Gaeco de Joinville, Assis Marciel Kretzer. Baldissareli elogiou a integração do Gaeco e PM. “Essa operação mostra que, quando o estado quer e deixa de lado a vaidade política, as ações dão certo”, disse. A Polícia Civil afirmou que há várias investigações por falsa comunicação de crimes.

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