Por nicolas.satriano

Rio - Um acidente na Avenida Brasil parou ontem a cidade que vai receber a Olimpíada no ano que vem, mostrando que os planos de contingência da prefeitura não conseguem impedir o caos no trânsito do Rio. Os engarrafamentos paralisaram as principais vias de acesso ao Centro, sobretudo a Zona Norte, e os reflexos foram sentidos até na Barra da Tijuca e em Niterói. A travessia da Ponte, normalmente feita em menos de 15 minutos, chegou a demorar mais de 70 minutos pela manhã.

A cidade ficou por cerca de quatro horas em estágio de atenção, que é o segundo nível em uma escala de três de alerta, e é acionado quando um ou mais incidentes provocam reflexos relevantes na mobilidade. O congestionamento afetou praticamente todos os bairros da cidade. O chefe-executivo do Centro de Operações do Rio (COR), Pedro Junqueira, reconheceu que este foi um dos piores engarrafamentos da cidade nos últimos anos. O último estágio de atenção por causa do trânsito no Rio foi registrado em novembro do ano passado.

Trânsito caótico parou o Rio e o motivo%3A um acidente na Avenida Brasil. Clique para ampliarArte O Dia

O acidente ocorreu às 8h10 quando um ônibus que trafegava na faixa reversível, em direção ao Centro, perdeu o controle e atravessou as pistas do sentido contrário, na altura de Benfica, e atingiu a moto em que estava o soldado da PM, Rafael Rezende Barbosa, de 31 anos. Ele morreu na hora. A faixa reversível foi implementada por causa das obras do BRT Transbrasil no local. A equipe da perícia policial, que foi acionada às 8h35, só chegou ao local quase duas horas depois, às 10h. A via só foi liberada às 11h35.

O secretário estadual de Transportes, Carlos Osório, avaliou que a resolução do acidente demorou além do devido. “Temos que fazer uma reflexão sobre o que aconteceu para que acidentes graves não causem um impacto desse tamanho e buscar novas fórmulas. Teremos que ter um protocolo de atuação conjunta de todos os órgãos responsáveis de como se liberar as vias.”

Já a CET-Rio, da prefeitura, afirmou, em nota, que o plano de contingência ajudou a minimizar os impactos e culpou a complexidade do acidente. “O acidente ocorreu por volta de 8h, em pleno horário de pico da manhã. Nesse período a maioria das vias da cidade estão sobrecarregadas, não existindo rotas alternativas livres”, informou o texto.

O chefe-executivo da CET-Rio disse que, como o ônibus ficou atravessado na via, com as rodas travadas, e houve vazamento de combustível, a retirada do veículo demorou ainda mais, mas ele também culpou a geografia da cidade. “Existe uma quantidade limitada de vias na cidade porque ela se localiza entre oceano e montanhas. Nossa cidade é linda, mas é o preço que se paga. Convivemos com a natureza, mas também passamos por alguns problemas porque as rotas não são na quantidade que desejamos”, declarou.

Questionado sobre o que o COR pode fazer para evitar o nó no trânsito, como o de ontem, não ocorra mais, Junqueira declarou que a principal solução é a redução de acidentes e do número de carros nas ruas, que ocorrerá com as obras em curso na cidade.

Por toda a cidade, motoristas e passageiros de ônibus reclamavam do engarrafamento. “Pior trânsito do mundo. Levei duas horas da Barra até a Cobal do Humaitá”, queixou-se o chefe de cozinha João Paulo Pedras, 31.

O especialista em Transportes da Uerj Alexandre Rojas avalia que a complexidade do acidente, em uma grande via e com óbito, explica, mas não o justifica. “Algumas ações poderiam minimizar esse impacto, como uma resolução mais rápida do acidente e a solução é conhecida: disponibilizar equipes de plantão de reboque e perícia.” Segundo a CET-RIO, foram deslocados 500 agentes para o trânsito, mas “não é possível cobrir todos os cruzamentos.”

Polícia vai pedir perícia especial

O delegado assistente da 17ª DP (São Cristóvão), Vinícius Domingos, pediu ontem uma perícia de engenharia no ônibus da linha 499 (Cabuçu-Central) para saber se houve algum tipo de falha mecânica ou nos freios, ou se o veículo estava em alta velocidade no momento do acidente. O delegado ainda solicitou as imagens das câmeras do coletivo, da CET-Rio e de viaturas da polícia que foram ao local.

O motorista do ônibus, da viação Tinguá, Waldir Antônio de Freitas Chaves, ficou ferido e foi hospitalizado. A polícia aguarda a recuperação dele para prestar depoimento. Dois policiais militares e uma testemunha do acidente foram ouvidos ontem na delegacia.

Em nota, a Transportadora Tinguá, operadora da linha do acidente, informou que vai prestar assistência à família da vítima e fornecer à polícia as informações que possam ajudar a esclarecer as causas do acidente. O Detro informou que o ônibus estava em situação regular.

Arma do PM atropelado foi roubada e devolvida na DP

A arma do PM atingido pelo ônibus foi furtada no local do acidente. À tarde, um pastor evangélico esteve na 22ª DP (Penha)  e devolveu a pistola que seria do policial. Ele disse que o homem que roubou a arma se arrependeu e pediu ao religioso que a entregasse à polícia. O suspeito ainda não foi identificado e a arma encaminhada para a 17ª DP, que investiga o caso.

O soldado Rafael Rezende Barbosa, do Batalhão de Choque, saía do trabalho e seguia para casa, com sua moto, quando ocorreu o acidente. O enterro do PM será hoje, às 14h30, no Jardim da Saudade, em Sulacap.

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