Por nicolas.satriano

Rio - A direção estadual do Psol no Rio e a bancada de deputados na Assembleia Legislativa (Alerj) dispararam contra o deputado Paulo Ramos, que saiu da legenda, foi para Rede Sustentabilidade e acabou voltando atrás.

Em carta enviada nesta sexta-feira à direção nacional do partido, assinada pelos parlamentares Marcelo Freixo, Flávio Serafini e Eliomar Coelho, fala-se em “prática política e ideais que não estão em consância com o partido”, e lembra-se do fato de que a Executiva Estadual foi quase toda contra a filiação do parlamentar no Psol.

A bancada também alega não ter sido informada pelo presidente nacional do partido Luiz Araújo de que Ramos iria retornar: ela já tinha se desfiliado formalmente e ido para a Rede.

A carta menciona discurso de Paulo Ramos na última terça-feira, quando o deputado criticou a júíza Daniela Barbosa, agredida ao visitar um Batalhão Prisional da PM. “Paulo Ramos fez tabelinha com Flávio Bolsonaro (PP), em contratse com a posição da bancada do Psol e mesmo de outros partidos no episódio”, diz o texto. 


Confira a carta na íntegra: 

O PSOL-RJ transformou-se nos últimos anos no principal partido de oposição de esquerda aos governos Cabral-Pezão, Eduardo Paes e Dilma. Recebeu milhares de ativistas sociais e militantes, conseguiu ser um partido vivo e com interlocução com os setores da sociedade críticos ao modelo hegemônico. Virou referência de massas e alternativa tanto para os trabalhadores que estão em conflito direto com o modelo de desenvolvimento predatório e excludente implementado no estado do Rio quanto para setores da intelectualidade e artistas.


No decorrer da semana passada, fomos informados da desfiliação do deputado Paulo Ramos do PSOL-RJ e sua filiação ao partido Rede Sustentabilidade no mesmo dia em que souberam do fato a imprensa e a Assembleia Legislativa. Durante o período que permaneceu no PSOL, o deputado gozou de plenos direitos políticos, teve sua campanha veiculada na TV com tempo prioritário e todas as suas filiações foram aceitas pela direção do PSOL-RJ.

Lamentavelmente, sua pretensão de refiliação sequer foi comunicada à bancada do PSOL da Alerj. Enquanto o deputado esteve filiado ao PSOL-RJ, foi tentado o diálogo para elucidação de questões que, na opinião da direção partidária, são conflitantes com a conduta parlamentar que defendemos para membros de nossa agremiação política. O deputado Paulo Ramos foi sempre muito resistente, negando diálogo e explicações sucessivas vezes.

Logo de início, recebemos um pedido de explicação do Diretório Municipal de Niterói, questionando a presença, na assessoria do deputado, do Sr. José Roberto Vinagre Mocarzel. Sobre Mocarzel, "chefe" de sucessivos governos e operador de Jorge Roberto Silveira, recaem denúncias de enriquecimento ilícito e favorecimento aos interesses da especulação imobiliária em Niterói, em sua desastrada gestão à frente da Secretaria de Obras daquela prefeitura, e em particular durante a tragédia do Morro do Bumba.

Recentemente, surgiram na imprensa denúncias sobre seu envolvimento no caso das contas do HSBC na Suíça. O ex-secretário é alvo de investigação de uma CPI, pedida pela bancada do PSOL na Câmara de Niterói. Também foi convocado pelo Senado para prestar esclarecimentos.

Mocarzel foi requisitado por Paulo Ramos em 10 de setembro de 2013. Em 13 de março de 2015, teve a sua permanência renovada, e somente em 14 de julho de 2015, foi transferido para a Agetransp. O Deputado sempre negou que Mocarzel fizesse parte do seu gabinete na atual legislatura, o que é desmentido pelo Diário Oficial.

Um desdobramento imediato de tal conflito foi a atitude desrespeitosa do deputado frente a uma representação da Direção Municipal do PSOL Niterói, em maio passado. Segundo relato das companheiras que compunham a comissão – que tinha a tarefa de pedir explicações sobre a permanência de Mocarzel no gabinete do deputado – as militantes foram recebidas com grosserias e ironias.

Nos chamou atenção o fato da bancada não ter sido sequer procurada pelo deputado para informar sobre seu pedido de retorno ao partido. Nem mesmo o presidente nacional do PSOL, Luis Araujo, que em carta apelou para que Paulo Ramos reconsiderasse a saída e voltasse ao PSOL, procurou a bancada na Alerj ou a direção estadual para apresentar tal fato. 


O inesperado retorno, pelo visto, não veio acompanhado de uma autocrítica de suas antigas posições. Tal impressão se reforçou na última terça-feira, 6 de outubro, no plenário da Alerj, onde Paulo Ramos fez tabelinha com Flávio Bolsonaro –  em flagrante contraste com a posição da bancada do PSOL e mesmo de deputados de outros partidos –, no episódio da agressão sofrida pela juíza Daniela Barbosa Assumpção de Souza, da Vara de Execução Penal do Rio de Janeiro, durante visita, dia 1º/10, ao Batalhão Especial Prisional da Polícia Militar (onde estão presos 221 policiais militares, com fortes indícios de gozar de privilégios que outros presos não têm). Ao vistoriar o local, a juíza sofreu ameaças e foi atacada pelos policiais militares presos, tendo a roupa rasgada e os óculos destruídos.

Paulo Ramos se refere à inspeção de forma absolutamente equivocada. Em discurso na Alerj, afirmou: "[...] Se a decisão [transferência da Unidade Prisional da Polícia Militar de Benfica para Niterói] já estava tomada, a transferência já ia ser consumada, afinal de contas, o que a juíza foi fazer lá? Foi lá fazer uma investigação, uma inspeção, verificar as condições? [...] Eu entendo que foi um ato suspeito, para dizer o mínimo, criar todo aquele espetáculo, aquela orquestração quando a unidade já seria transferida."

A Executiva do PSOL-RJ não concordou com o primeiro ingresso do deputado Paulo Ramos ao partido, não o expulsou e também não o convidou de volta. Suas posições políticas, em contraste com as do PSOL no estado, não são, portanto, de nossa responsabilidade. Que falem aqueles que patrocinaram seu ingresso e o seguem apoiando, mesmo tendo o deputado dado flagrantes sinais de que sua prática política e suas ideias não se encontram em consonância com o que defende nosso partido.


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