Rio - A violência nos complexos do Chapadão e da Pedreira, ambos em Costa Barros, se espalha pelo asfalto e obrigou moradores do vizinho bairro de Guadalupe a instalarem cancelas em ruas da região há cerca de um mês. Embora a medida não seja autorizada pela prefeitura, eles tomaram a decisão após o alto índice de criminalidade no bairro.
Em agosto — último mês divulgado pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) —, foram registrados 87 roubos de veículos (19 casos a mais do que o mesmo período de 2014) e 119 roubos de pedestres, quatro a mais que no ano passado.
Pelo menos sete vias transversais à Rua Marcos de Macedo, nas proximidades da Avenida Brasil, como a Camalaú, Juaba, Pains, Roquelândia, Santo Angilberto, Calama e Betranio (antiga Rua 20), ganharam cancelas com barris de alumínio e placas com avisos de ‘Rua sem saída’. Nos postes e telefones públicos, cartazes alertam para o motivo do medo dos moradores: ‘Atenção! Área de assalto.’
“Nunca vimos tanto roubo em Guadalupe como este ano. Entregamos um abaixo- assinado em junho à sub-prefeitura, pedindo a autorização para construção das cancelas, mas ainda não fomos atendidos. Implantamos duas na rua para, pelo menos, aumentar a sensação de segurança”, contou uma moradora da Rua Santo Angilberto.
Assaltado na porta de casa, um aposentado de 60 anos vê nas cancelas a única solução para inibir a ação de criminosos. “Antes os motoqueiros passavam por aqui fazendo arrastões e roubavam celulares com muita facilidade. Agora, eles veem que há uma rua sem saída e não se arriscam. Se houvesse um policiamento adequado, não precisaria usar cancelas”, lamentou.
O comando do 41º BPM (Irajá) informou que o policiamento na região é feito 24 horas por dia com duas viaturas, e que não será reforçado. Em duas horas circulando por sete ruas do bairro onde há cancelas, o DIA não encontrou viaturas nos locais. Difícil também foi encontrar algum morador que nunca tenha sido roubado.
“Há dois meses fui assaltado por dois homens armados numa moto. Levaram tudo que eu tinha. Guadalupe virou um barril de pólvora. Depois da colocação de cancelas, as ruas estão mais seguras”, afirmou um mecânico, de 37 anos. Mas há alguns moradores que se mostram contrários às cancelas. “Não foram bem projetadas, pois em algumas não há espaço para a passagem de cadeirantes”, criticou uma dona de casa.
Subprefeitura se reunirá com a PM
A subprefeitura da área informou que desobstruiu, semana passada, cinco das sete ruas citadas e que, nas ruas Betrânio e Roquelândia, o trabalho será feito esta semana. Entretanto, sexta-feira passada a equipe do DIA ainda encontrou algumas cancelas em todas essas ruas.
O órgão acrescentou que terá reunião na quinta-feira com a CET-Rio e o 41º Batalhão da PM para saber a viabilidade de autorizar a instalação de cancelas nestes locais. Caso sejam autorizadas, a subprefeitura ressalta que é necessário que haja um responsável para operá-las.
A principal via da região, a Rua Marcos de Macedo, corta as ruas que ganharam cancelas no último mês e fica no epicentro da violência: o cruzamento das favelas do Muquiço e Gogó da Ema, além dos complexos da Pedreira e Chapadão. As áreas são consideradas as mais perigosas do Rio. “Esse bairro é cercado de favelas perigosas e há muitas rotas de fuga. Cancelas, embora possam inibir a ação de assaltantes, não são a solução. Tem de aumentar o patrulhamento”, avalia o coronel PM Paulo Amêndola, especialista em segurança.