Rio - O vídeo de um aluno quebrando uma sala em escola foi visto mais de sete milhões de vezes nas redes sociais nas últimas 24 horas. A polêmica não ocorre apenas pela reação desenfreada da criança, mas também pela atitude dos educadores de filmar o menino de 7 anos, que estuda no 1º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Paulo Freire, em Macaé. Nas imagens, o garoto joga objetos e lança livros nos professores.
A gravação, não se sabe se intencionalmente ou não, foi parar na web e provocou comoção nacional. Uma das vozes dos profissionais da instituição de ensino grita ao fundo: “Quero saber com a assistência social, com a polícia, com os bombeiros: o que a gente faz com uma criança dessa". Uma outra profissional tenta se aproximar, segurando o braço do menino, que continua jogando objetos. Ela, então, fala em direção a ele. “Não mete a mão em mim, tô te avisando!”
Nas últimas imagens do vídeo, uma profissional - que deu ordem aos colegas para deixar o menino continuar com a quebradeira - alerta que vai acionar as forças de Segurança Pública. "Deixa, Deixa. Chama os bombeiros! Chama a polícia!", ela ordena.
Através de nota oficial, a Secretaria Municipal de Educação disse ter solicitado junto à Procuradoria Geral do Município, a abertura de um inquérito administrativo para apuração dos fatos sobre a exibição do vídeo. Além disso, a direção geral da escola foi afastada até a apuração dos fatos.
Segundo o secretário de Educação, Guto Garcia, não há registros de problemas anteriores com o estudante e que ele terá acompanhamento dos profissionais da equipe multidisciplinar na unidade escolar, a partir desta quinta-feira. Assistentes sociais foram até a residência do aluno para conversar com os familiares.
Professores são defendidos nas redes sociais
Nas redes sociais, muitas pessoas defenderam os educadores: "O diabo-mirim quebra tudo e a culpa é dos professores?”, questiona uma jovem."Se tocam no menino elas são espancadoras, não podem fazer nada", disse um jovem. "Faltou foi uma boa chinelada nesse menino", escreveu um rapaz.
Mas para a pedagoga, especialista em inteligência emocional infantil e juvenil, Amanda Elias Castanheira, houve despreparo por parte da escola no agir com o menino. “Nenhum adulto teve a posição de acolher ou disponibilidade de se colocar na posição da criança. Ele é a criança e o professor é o adulto. O que houve foi um estímulo àquela situação. Os professores se colocaram como vítimas e o garotinho foi colocado como culpado da situação", comentou.
Ela defende que uma postura mais próxima poderia ter ajudado a dar fim ao conflito. Segundo Amanda Elias Castanheira, quando o educador se coloca com o olhar no mesmo campo de visão da criança, esta pode se sentir mais disposta a dialogar. "Eu me nivelaria até ele. Iria procurar uma conexão visual. Calma eu tô aqui, não fica nervoso, quando você se acalmar, vamos conversar. Quando você se acalmar eu estarei aqui para você me contar o que aconteceu. Seriam frases que poderiam ser ditas a ele. O que pode até ser feito é deixar a criança numa permissividade vigiada, mas não incentivada como foi feito nessa escola", explicou a pedagoga.
A rotina estressante dentro de sala de aula, não é justificativa para a ação dos professores, argumenta a especialista. "O ser humano em geral tem essa fraqueza de culpar a sua conduta pela conduta do outro. Mas como eu posso esperar uma conduta diferente se a minha conduta é a mesma. O meu aluno é indisciplinado, mas eu não consigo gerenciar essa atitude em sala de aula. Não dá para mudar essa postura do aluno se a sua, como educador, é estática. Falta subsídios a alguns educadores para conseguir administrar a disciplina em sala de aula", concluiu.
Educadora condena exposição da criança na web
Com 39 anos de sala de aula, a professora Elisete Quintans tenta entender o que pode ter levado os educadores a filmar a ação violenta do menino na escola. "Pode ser uma forma de se respaldar para mostrar que não houve nenhuma agressão física ou emocional à criança, em caso de a mãe querer alegar isso em termos de um futuro processo ou denúncia policial", disse.
Ela interpreta que os professores podem ter feito a gravação para mostrar à sociedade como é a rotina nos colégios públicos e particulares. "Um outro ponto de vista seria divulgar (denunciar) os problemas que ocorrem nas escolas quando o professor torna-se refém da violência do aluno, da sociedade, levando-o a se afastar de suas funções, pois, desde pequeno, o aluno sabe que poderá tomar qualquer atitude e não será punido por isso", comentou.
No entanto, ela condena a exposição do menino para milhões de pessoas na internet. "Acredito ser perigoso, porque expôs a criança a um constrangimento social ao ter sua imagem divulgada em uma rede de grande e livre acesso", completou.
Colaborou a estagiária Gabriela Mattos