Por clarissa.sardenberg

Rio - O corpo do mototaxista Thiago Guimarães Dingo, de 24 anos, foi enterrado na manhã deste sábado no Cemiério de Irajá, na Zona Norte. Consternados, amigos e parentes do jovem morto por engano protestaram e lamentaram a perda. 

"Espero que a justiça seja feita, mas tenho dúvidas de que isso acontecerá. Estou despedaçado em mil partes. Até conversei com o sargento que atirou no meu filho e ele debochou de mim. Como um PM vai para a rua fazer combate despreparado? Agora meu neto não terá um pai, e a minha nora é mais uma mulher que ficou sem o companheiro em razão da polícia. Tenho mais medo da PM do que dos bandidos", lamentou Gilberto Lacerda Dingo, pai de Thiago.

Fotogaleria: Mototaxista morto por PM é enterrado em Irajá

Mototaxista Thiago Guimaraes%2C de 24 anos%2C foi morto%2C junto com jovem de 17%2C por PM que confundiu macaco hidráulico com arma de fogo%2C na PavunaMaira Coelho/ Agência O Dia

"A única dor que é comparável a minha é aquela que Jesus Cristo sentiu na cruz. E se ele teve força para sentir aquela dor, eu também tenho. Eu só gostaria que o governador estivesse aqui vendo o nosso sofrimento causado pelo estado. Mas o sargento que matou meu filho está recebendo tratamento psicológico, e nós? Não recebemos nenhuma assistência, o estado precisa ter dignidade de fazer alguma coisa por nós. Meu filho contava os dias para meu neto nascer, mas infelizmente ele não conseguiu sequer ver o rosto da criança", afirmou Márcia Machado, mãe da vítima.

Amigos e parentes fizeram protesto contra a morte de Thiago Guimarães Dingo Maira Coelho/ Agência O Dia

Thiago foi morto junto com Jorge Lucas de Jesus Paes, de 17 anos, por um sargento da polícia militar na última quinta-feira, na Pavuna. Os dois estavam na mesma moto quando foram atingidos por um tiro de fuzil. O PM alegou que confundiu um macaco hidráulico. Jorge Lucas foi enterrado na tarde desta sexta-feira, no Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte do Rio.

Polícia quer saber se morte dos dois mototaxistas na Pavuna foi execução

Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ, Marcelo Chalréo, o erro mostra o despreparo da polícia. “Parece que no Rio os policiais têm o hábito de confundir apetrechos com armas. Não podemos tratar isso como caso isolado, um incidente porque acontece com frequência. Isso é fruto dessa política insana de combate às drogas que tem levado à mortandade de milhares de pessoas inocentes e policiais também no Brasil todo. É uma epidemia nacional. Até onde isso vai?”, questionou ele.

PM diz que moto ia em direção à viatura

O sargento do 41° BPM (Irajá) não teve o nome divulgado. Jorge Lucas e Thiago foram baleados na Rua Doutor José Thomas, na Pavuna. O policial alegou que viu que uma moto vinha na direção da viatura e pensou que as vítimas estivessem com uma arma. O agente efetuou um único disparo que atravessou os dois mototaxistas.

"Chamei o PM de assassino e perguntei porque ele atirou. Ele não respondeu e riu com ar de deboche. Vamos processar o estado", garantiu o pai de Thiago, Gilberto Dingo. "Não teve nenhum tipo de abordagem e nem revista. Por que atiraram? Um tiro de fuzil que foi dado pelas costas matou os dois. Foi uma covardia", desabafou.

Reportagem Angélica Martins

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