Por nicolas.satriano

Rio - Não são apenas os trabalhadores que sofrem com a crise econômica em Itaguaí, por terem acreditado no potencial que a cidade apresentava para novos negócios. Centenas de moradores hoje amargam perdas. Microempreendedores locais pegaram empréstimos e investiram em negócios que acreditavam ter tudo para dar certo ou ampliaram os que já tinham. Hoje somam dívidas e fecham as portas.

É difícil andar por Itaguaí e não achar uma placa de “vendo” ou “alugo”: há pelo menos uma em cada esquina do Centro da cidade. O casal de comerciantes Eliana Aranha Inoue, de 50 anos, e Ruan Castro Inoue, 45, sabe que pode ser o próximo. Há um ano, os dois abriram uma loja de equipamentos para obras e durante os primeiros meses os negócios foram muito bem. “Clientes pagavam à vista, chegamos a contratar temporários”, conta Eliana. Hoje, a empresa amarga prejuízos. “Desde abril, nossos lucros caíram 90%, estamos no vermelho.”

As placas anunciando os benefícios de sua casa não têm atraído locatários para o imóvel que Luiz possui em frente ao mar da Ilha da MadeiraEstefan Radovicz / Agência O Dia

Quando a comerciante Vivian da Conceição, 34, abriu seu restaurante em frente à prefeitura, há um ano e meio, via filas de clientes se formando na porta e chegou a contratar mais ajudantes: “Eu não dava conta de tanta gente.” Hoje sobra comida e cadeiras vazias. “Tive que demitir dois. Se não melhorar, fecho até dezembro. Itaguaí é uma cidade fantasma.”

Edson de Lima, 55, é porteiro em um prédio comercial no Centro. Até março, o empreendimentode 28 salas estava completamente ocupado por escritórios de diversos segmentos, a maioria relacionada com o Porto Sudeste ou com empresas daquele complexo. Hoje, só 13 estão ocupadas e ele ganhou uma nova função. 

“Toda hora alguém pergunta se sei onde tem emprego”, desabafa. O pedreiro João Gonçalves, 33, é mais um. Enquanto Edson falava, João apareceu. “Estão fechando todas as lojas. Antes chovia trabalho.”

Com crise, Ilha da Madeira esvazia

Na Ilha da Madeira, local que abriga o Porto Sudeste, o vazio é maior. Rafael Viana, 33, superintendente da Aqualang, empresa que faz manutenção de barcos, amarga uma diminuição de 48% no número de clientes desde janeiro deste ano. Sem a inauguração do porto, ele prevê que em breve a empresa comece a demitir. “Já reduzimos 20% do efetivo, se não melhorar logo, teremos de diminuir mais.”

Não apenas os comerciantes de Itaguaí somam prejuízos. Na Ilha da Madeira, os moradores também não veem saída. De olho nos milhares de operários de outros municípios que foram trabalhar em Itaguaí, os locais investiram no setor imobiliário e hoteleiro.

Alguns construíram imóveis e fizeram hotéis e pousadas, enquanto outros alugaram suas próprias casas e se mudaram para outras cidades. É o caso de Luiz de Paula, 71, dono de uma casa de cinco quartos em frente ao mar. “Até março não conseguia andar nas ruas, era tudo muito cheio, aluguei.” Sua casa que é considerada cartão-postal agora está fechada há sete meses. “O que nós vamos fazer?”, questiona.

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