Por felipe.martins

Rio - O Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) abriu uma sindicância para apurar a morte de Elizangela Medeiros, de 35 anos, na última segunda-feira. O objetivo é apurar a conduta dos médicos Sebastião Bastos Soares e Juan Carlos Muñoz Vilchez, que atenderam a técnica em enfermagem três dias antes de ela morrer no Hospital de Saracuruna, em Duque de Caxias, local onde a paciente trabalhava. O DIA publicou a denúncia feita por funcionários da unidade com exclusividade na edição de ontem. Os médicos foram afastados.

Segundo informações da 60ª DP (Campos Elíseos), as investigações policiais estão em andamento. Agentes fizeram diligências no hospital e a equipe médica de plantão será intimada a depor. Testemunhas serão ouvidas, além de parentes. A delegacia pedirá o Boletim de Atendimento Médico para perícia.

Técnica em enfermagem Elizangela Medeiros%2C de 35 anos%2C morreu na última segunda-feira após reclamar de mau atendimento do Hospital Adão Pereira Nunes%2C em Duque de CaxiasDivulgação

O Cremerj solicitará ao hospital as cópias de documentos, como o prontuário da paciente. Médicos e parentes de Elizangela e funcionários da unidade de saúde serão chamados no órgão. Caso haja condenação, os envolvidos poderão sofrer de advertência confidencial até cassação do registro.

Além do Hospital de Saracuruna, Elizangela passou pelo Hospital Municipal Evandro Freire, na Ilha do Governador, antes de ir para a UPA de Edson Passos, em Mesquita, onde morreu. Lá, ela foi atendida pelo enfermeiro Luciano Meirelles Silva. “Ele se apresentou como médico e falou para ela que era psicológico.

Ontem (quarta-feira) que fui ver que não era médico. Se o primeiro médico que a socorreu tivesse feito o procedimento correto ela não tinha passado por esse sofrimento todo”, lamentou o marido de Elizangela, Éder Gil de Carvalho.

A mãe da técnica em enfermagem, Luiza de Medeiros, relembrou os últimos momentos de vida da filha. “Ela se queixou para o marido que estava com o rosto dormente. Ela disse ‘ mãe, estou passando mal, estou enfartando”, contou Luiza.

Alerj vai ouvir secretário , funcionários e parentes

O Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro (Coren-RJ) informou, em nota, que o órgão realizou uma fiscalização nas unidades de saúde por onde passou a técnica em enfermagem, para apuração do caso. Segundo o Coren, os enfermeiros responsáveis foram notificados e deverão responder sobre os fatos ocorridos entre os dias 30 de outubro e 2 de novembro, no prazo estipulado pela autarquia. Depois, será feita investigação com todos os dados recolhidos e emitido um parecer sobre o caso.

O secretário estadual de Saúde, Felipe Peixoto, foi convocado pela deputada estadual enfermeira Rejane (PC do B) para explicar a morte de Elizangela. Foram chamados funcionários e a direção dos hospitais Adão Pereira Nunes (Saracuruna) e Evandro Freire e da UPA de Mesquita, além dos representantes do Coren e do Cremerj e parentes da vítima.

‘Prefiro morrer em casa’

Elizangela gravou desabafo em áudio e mandou para amigos através do WhatsApp. Com um tom de voz aparentando muito cansaço, Elizangela contou na gravação o drama que viveu no hospital. No áudio, com quase dois minutos, ela reclama do atendimento. “...O doutor Sebastião me fez (aplicou) um Diazepam e disse que eu estava com crise nervosa e eu estava dispneica, cansada, pálida, sem conseguir falar... Foi como se eu não tivesse nada, fosse frescura... E pra ficar internada para esses médicos fazerem pouco caso, me tratar como um lixo... eu trato os pacientes como prioridade”, disse.

Ela foi atendida no Saracuruna sexta-feira passada e mandada para casa, apesar das dores no peito e da falta de ar. Morreu segunda-feira, na UPA de Mesquita. A assessoria da Secretaria informou que Elizangela recebeu atendimento. Segundo a nota, exames constataram pressão arterial levemente alta e taquicardia discreta. A direção do hospital apura se houve desvio de conduta de profissionais. Sobre o atendimento na UPA, a assessoria informou que Elizangela chegou em parada cardíaca e que foram feitas manobras de ressuscitação.


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