Rio - Moradores de um condomínio de luxo da Lagoa levaram um susto na tarde de terça-feira, ao encontrar uma imensa jiboia na garagem. Ao estacionar seus carros no Edifício Lagoa Formosa e Prateada, no número 2.566 da Avenida Borges de Medeiros, que fica próximo ao Parque da Catacumba, depararam com a serpente, de aproximadamente dois metros e meio de comprimento, no local.
Bombeiros do Quartel de Copacabana foram acionados e capturaram o réptil. De acordo com o ecologista Paulo Maia, presidente ONG SOS Aves e Cia, há uma infestação de jiboias e outros tipos de cobra em áreas urbanas do Rio, por causa da crise hídrica e da alta temperatura desta primavera.
“Sem chuva em seu habitat e com o forte calor, elas se deslocam das matas desesperadas para áreas habitadas, atrás de água para matar a sede. Em pouco mais de dois meses já resgatamos dez jiboias e dezenas de outros tipos de cobras em diversos pontos da cidade”, afirmou Paulo Maia.
De acordo com ele, o animal levado pelos bombeiros na terça-feira e reintegrado na noite do mesmo dia à floresta da Catacumba, por coincidência, já era velha conhecida do ambientalista. Trata-se de um espécime com chip, colocado pela própria ONG em 2013, e batizado de Latorraca, em homenagem ao ator Ney Latorraca, amante dos animais e um dos incentivadores da ONG.
“Latorraca foi encontrada há dois anos na rua, cuidada por nós, chipada e devolvida à natureza novamente, junto com sua ‘amada’, uma jiboia de nome Noviça”, detalhou Maia, apelando para que quem encontrar qualquer tipo de cobra não matar ou agredir o animal. “Basta acionar os bombeiros. Matar animal silvestre é crime e dá cadeia”, alertou.
No prédio da Lagoa, os moradores ainda estavam atônitos nesta quarta-feira. Segundo relatos, Latorraca, porém, parecia estar exausta e só causou medo, principalmente às crianças, por conta do seu tamanho.
“Ela (a cobra) estava quieta, não aparentando agressividade em momento algum. Até passei a mão nela”, contou o morador Carlos André de Oliveira, de 35 anos, que tirou uma foto e mandou para o celular da mãe, Leila, 62.
“Já encontramos outros tipos de animais na garagem pela proximidade com o Parque da Catacumba, mas uma jiboia é a primeira vez”, disse. Antônia Pereira da Cunha, de 32 anos, afirmou que o réptil rapidamente virou atração. “As pessoas começaram a rodeá-la, como se estivessem hipnotizadas pelo animal. Foi até engraçado”, comentou.
Estamos invadindo o lar das cobras
Segundo Paulo Maia, Latorraca não sofreu agressões físicas e “estava bem psicologicamente”, apesar de estressada. “Ela só estava desorientada, à procura de água, por isso acabou parando no estacionamento. Ela não invadiu nada, pois, na verdade, é o homem quem invade cada vez mais o ambiente dos animais”, defendeu.
Paulo Maia adverte que casos de tráfico de jiboias, que chegam a ser vendidas por cerca de R$ 10 mil no mercado ilegal, têm sido denunciados à polícia. No dia 23 de outubro, por exemplo, uma cobra dessa espécie, de dois metros, foi resgatada dentro de um carro em plena Rua Lélio da Gama, no Centro. O proprietário do veículo fugiu.
A jiboia, conforme biólogos, é uma cobra pacífica e lenta. Apesar de várias lendas citarem jiboias imensas, que engolem bois, a espécie geralmente não ultrapassa os 4 metros de comprimento e se alimenta de roedores de pequeno e médio portes, lagartos grandes, outras serpentes e mamíferos pequenos. Seu peso pode atingir os 40 kg. Bombeiros do Rio recebem treinamentos no Instituto Vital Brazil para lidar com serpentes.
Na terça-feira, outra interferência do mundo animal interrompeu a prova dos estudantes do curso de Administração Pública da Rural, no campus de Seropédica. As aulas foram remanejadas por uma infestação de piolho de pombos no ar-condicionado.
Colaborou a estagiária Carolina Moura