Por felipe.martins

RIo - A morte do motorista de ônibus Márcio Douglas de Oliveira Diniz, 41 anos, baleado na nuca na noite de quinta-feira em tentativa de assalto a coletivo que deixou outros dois mortos na Avenida Presidente Vargas, dá nome e sobrenome à violência que assola os transportes. Em setembro, somente no Rio e na Baixada, foram registrados 728 casos — ou um assalto por hora neste mês. No mesmo período, em todo o estado, a alta foi de 34,7% em comparação com setembro de 2014. Os assaltos subiram de 533 para 816 registros. Ainda no estado, a tendência de alta do índice é sentida pelo menos há seis meses. De abril a setembro, foram mais de 20 roubos em ônibus por dia. Os dados são do Instituto de Segurança Pública.

Clique sobre a imagem para completa visualizaçãoArte O Dia

Fora desta estatística, o perigo também viaja nos demais meios de transporte. Na madrugada de ontem, outro assaltante morreu baleado por um policial que reagiu a um assalto no trem do ramal Japeri, na altura de Nova Iguaçu. No confronto, um passageiro foi baleado de raspão. Na manhã de quinta-feira, outro PM, de folga, prendeu em flagrante um suspeito que assaltava outro trem da SuperVia na estação Bento Ribeiro.

Familiares do motorista estavam revoltados ontem à tarde no Instituto Médico-Legal, onde foram liberar o corpo de Márcio Douglas. “Até quando vamos proteger a bandidagem? Vamos esperar até quando? Até a população ser tomada pela marginalidade? Será que a gente não tem que fazer alguma coisa para mudar isso?!”, questionou o cunhado da vítima, Roberto Lopes.

Marcio Douglas dirigia um ônibus da linha 110 (São Gonçalo-Passeio) quando foi anunciado o roubo, o que provocou a reação de um PM à paisana. O motorista foi morto com um tiro na nuca, e um dos assaltantes, não identificado, também morreu no local. O outro ladrão, Gabriel Salomão Santos, 26 anos, foi baleado, imobilizado por passageiros e sofreu ameaças de linchamento. Ele foi levado pela PM para o Hospital Souza Aguiar, no Centro, onde morreu.

De acordo com o delegado responsável pelo caso, André Barbosa, com os ladrões foram apreendidas uma arma de brinquedo e uma mochila. O policial militar que reagiu foi ouvido na Delegacia de Homicídios (DH) da Capital, e a arma dele foi apreendida para perícia. Toda a ação foi gravada pelo circuito de vídeo do coletivo, e as imagens já estão em poder da especializada.

“Como que você sai atirando a esmo dentro de um ônibus? Os passageiros mesmo disseram que eles obrigaram o Márcio apagar a luz do ônibus. Como você sai atirando com um ônibus todo no escuro?!”, indagou o cunhado do motorista. Para Roberto, o policial colocou a vida dos passageiros em risco ao atirar contra os suspeitos. “E se a arma dos bandidos fosse de verdade? Iria sair um tiroteio dentro do ônibus, e poderia morrer muita gente. O que aconteceu foi que o policial, quando percebeu que seria assaltado, reagiu. Ele quis defender somente o lado dele. É óbvio que ele assumiu um risco.”

O corpo de Márcio Douglas será enterrado hoje, às 13h30, no Cemitério de São Miguel, em São Gonçalo, onde ele morava. O motorista deixa três filhos, entre eles um bebê de apenas nove meses.

Polícia redistribui efetivo nos trens

Sete horas depois das três mortes no Centro do Rio, outro policial à paisana reagiu a uma tentativa de assalto em trem do ramal Japeri. O assaltante foi morto dentro da composição, e um passageiro, o soldado do Exército Thiago Rodrigues Moreira, de 19, foi baleado de raspão nas nádegas. Ele foi socorrido no Hospital da Posse, em Nova Iguaçu, e liberado pela manhã para prestar depoimento na 52ª DP (Centro, Nova Iguaçu).

Assalto em ônibus termina com motorista e dois suspeitos mortos na Avenida Presidente Vargas%2C no Centro do RioFoto%3A Agência O Dia

Em fevereiro e março, onda de arrastões nos trens e metrô obrigou a PM a aumentar o efetivo do Grupamento de Polícia Ferroviária (GPFer). A unidade, que já fora um batalhão com mais de 300 homens, havia sido reduzida para cerca de 50 policiais. O atual comandante do GPFer, major Luiz Castro, disse que nos casos recentes, os policiais que reagiram temiam ser mortos pelos bandidos.

“Quando ocorre um assalto, o policial reage antes de ter os documentos recolhidos ou ser revistado pelos bandidos. Se ele espera isso acontecer, poderá ser morto; então, age antes. Vamos redistribuir o efetivo, de acordo com a mancha criminal que avaliamos semanalmente”, prometeu o oficial.

A PM, em nota, informou que dobrou o efetivo do BPFer. “O grupamento teve o efetivo dobrado e redistribuído para atuar, principalmente, em áreas de grande fluxo de pessoas, como as estações de Madureira, Deodoro e Belford Roxo. No total, 80 policiais realizam rondas nas plataformas dos ramais da Supervia e nos vagões dos trens da concessionária”, diz o comunicado.

A Viação Coesa, dona do ônibus que Márcio Douglas dirigia, informou que está prestando assistência social e jurídica à família do motorista. Márcio Douglas trabalhava na empresa desde julho e era bastante querido pelos colegas.

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