Por paulo.gomes
Rio - A crise econômica castiga menos os moradores de favelas do que a população do asfalto. A conclusão é de uma pesquisa feita pelo Data Favela, encomendada pelo Facebook, que foi divulgada nesta terça-feira, na Central Única das Favelas, Cufa, em Madureira. Em 2015, os moradores de comunidades movimentarão cerca de R$ 74,7 bilhões, contra 64,5 bilhões em 2014. Neste período, seu número de habitantes cresceu de 12 milhões para 12,3 milhões. O estudo foi realizado entre os dias 17 e 25 de setembro com 2 mil moradores de favelas de todo o país e mostrou que 42% deles têm intenção de abrir o próprio negócio, a maioria quer empreender em três anos ou menos. Segundo o Sebrae, em sua pesquisa Empreendedorismo no Brasil 2013, 32,3% dos brasileiros querem empreender, número aquém ao das comunidades.
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Segundo Renato Meirelles, fundador do Data Favela, a crise que assusta os moradores do ‘asfalto’ é impulsionadora para quem vive nas comunidades. “É por causa da crise que 66% das pessoas querem empreender, fazem por causa da oportunidade”, diz Meirelles, que frisa que o empreendedorismo de comunidades não está atrelado a desemprego. “As pessoas de favelas sofrem preconceito por causa de onde moram, quando conseguem um emprego, ganham um ou dois salários mínimos, por isso empreendem”, justifica Meirelles.

Celso Athayde, fundador da Cufa, concorda que a crise financeira sacrificou com menor intensidade os moradores de favelas. Segundo Celso, isso é justificado porque os moradores de comunidades têm uma grande capacidade de adaptação e criação. “Esse momento dá capilaridade para esses territórios que são mais propensos ao empreendedorismo”, ressalta Athayde. “É importante incentivar essa propensão de geração de novos negócios”, completa.
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O estudo se debruça também sobre a conectividade das comunidades. Os dados impressionam, mostram que os moradores de favelas do Rio são mais conectados. No estado, 74% dos moradores de comunidades acessam a internet pelo menos uma vez por semana, enquanto a média nacional é de 61%.
Enquanto 46% dos que pretendem empreender utilizam a internet diariamente, 39% dos que não têm a intenção a utilizam no mesmo período.
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Os jovens são os mais conectados, 87% das pessoas entre 14 e 18 anos acessam o ciberespaço semanalmente. Os smartphones são a principal fonte de acesso a web na favela. Atualmente 75% dos moradores que acessam a internet, o fazem pelo celular. Em 2013, eram 41%. Hoje, quatro em cada dez moradores de favela têm smartphone e 20% deles pretendem adquirir um novo aparelho no próximo ano. A rede social mais usada nas favelas é o Facebook, com 92%; 38% usam WhatsApp; 22% possuem Twitter; 17% têm Instagram e 7% usam o LinkedIn.
O Facebook encomendou a pesquisa para em entender os empreendedores das favelas. A rede social usará os dados para traçar projetos voltados para eles e usará o Rio de Janeiro como projeto-piloto. “Queremos mostrar como o Facebook pode ajudá-los a gerar emprego e renda”, afirma Camila Fusco, diretora Empreendedorismo do Facebook no Brasil.
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Para por em prática suas metas, a rede social fez uma parceria com a Cufa e dará aulas para os empreendedores de periferias na sede da Central, sob o Viaduto Negrão de Lima, em Madureira e em dez territórios distintos pelo cidade. Cidade de Deus, Rocinha, Vidigal, Morro do Dendê, Vila Kennedy, Acari, Vila Vintém e os complexos do Alemão, Pedreira e Chapadão receberão os treinamentos na ‘Facekombi’ - veículo adaptado com computadores, picapes para DJs. A iniciativa será inaugurada daqui a dez dias. “Vamos nos aproximar desse empreendedor”, afirma Camila.
Os treinamentos serão dados até julho do ano que vem, coincidindo com os Jogos Olímpicos e com um prêmio que o Facebook dará para iniciativas de favelas. “Nosso passo seguinte será replicar isso pelo país”, acredita Camila. Durante o lançamento da pesquisa, a rede social destacou projetos de periferias que já a utilizam para captar novos clientes, um deles foi a agência ‘#TudoNosso’, de Nova Iguaçu. Criada há um ano pelo casal Cristiane e Petter de Oliveira, a empresa oferece serviços para microempresas. “Conseguimos cliente até do Chile através da rede, acreditamos que existe um grande potencial inexplorado”, aponta Petter, que vê na parceria da Cufa com o Facebook a chance de crescer mais.