Por bianca.lobianco
Rio - Policiais militares que passaram do limite em número de disparos estão sendo treinados para decidir certo nas horas de estresse extremo. De vários batalhões da Zona Oeste, Baixada e Região Metropolitana, 63 policiais já começaram, terça-feira passada, o curso de capacitação para reduzir os disparos de arma de fogo. O treinamento, que tem 40 horas, termina na próxima quarta-feira no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Policiais (CFAP), PMs também vão passar por simulações de ações em rua.

A medida deve reduzir o índice de casos mal sucedidos da polícia, quando o inocente é baleado por tiro que sai da arma de um policial. “Ele vai aperfeiçoar a técnica de decisão no momento de tensão e vai atirar na hora certa, e quando for necessário. Vai diminuir o número de ações onde há disparo com arma de fogo”, afirmou o chefe de Planejamento Operacional da PM, o tenente-coronel Mauro Andrade, há 25 anos na corporação.

Grupo de 63 policiais militares treina em estande de tiros virtual%2C para estar apto a decidir na hora de atirarDivulgação / PMERJ

Ainda segundo o militar, o curso não é novo, entretanto, há uma importante diferença para outros treinamentos ministrados pela PM. “Os policiais que fazem o curso foram selecionados e indicados através de um sistema que monitora os disparos feitos por eles. Após as ações nas ruas, eles justificam os disparos. São militares com alto índice de disparos feitos”, disse o tenente-coronel.

Ele explicou também que os escolhidos são de unidades operacionais, como batalhões de Irajá, Mesquita, São Gonçalo e Niterói. “Este grupo representa 20% dos disparos nos últimos seis meses no estado. Atiraram muito para um número pequeno de policiais. Isso preocupa.”
Publicidade
No curso, além de aprimorar o tiro, militares vão passar por simulador com telão de 180 graus. Policiais vão testar habilidades como se estivessem agindo em situações rotineiras. “Em determinado momento, um suspeito aparece no telão com um pedaço de ferro ou pé-de-cabra e ele terá que agir rápido sem confundir o material com arma de fogo”, lembrou Mauro Andrade, se referindo aos casos recentes envolvendo ações mal sucedidas da PM, que resultou em mortes de inocentes.
No dia 6, uma tentativa de assalto a ônibus terminou com o motorista e dois suspeitos mortos no Centro do Rio. Testemunhas contaram que um policial à paisana reagiu disparou. No dia 30, um sargento confessou que confundiu um macaco hidráulico com uma arma e disparou contra dois jovens em moto, na Pavuna. O disparo atingiu os dois. A moto bateu em um muro e eles morreram.
Publicidade
Curso atinge até subtenentes
O curso ministrado pela Polícia Militar não vai envolver apenas policiais novos na corporação. Ele está sendo aplicado para soldados e subtenentes. “Eles vão aperfeiçoar não só o uso de arma de fogo, mas também, como e quando agir com uma arma não letal, como spray de pimenta, bombas de gás lacrimogêneo e taser (arma de choque)”, comentou o tenente-coronel Mauro Andrade.
Publicidade
Segundo ele, boa parte do grupo de policiais envolvidos no curso, vão pela primeira vez para o simulador de ações em rua, que foi adquirido pela corporação em 2007, para treinar militares para o Pan-Americano. “Muitos são formados antes do simulador chegar na PM e vão ter acesso agora. Quem já fez fará novamente e isso irá aprimorar suas habilidades nas ruas”, salientou, lembrando que no curso não há PMs de outras unidades, como do Batalhão de Choque, por exemplo.
Para o fundador do Batalhão de Operações Especiais (Bope), coronel Paulo César Amêndola, os cursos de qualificação e aprimoramento da PM podem mudar o comportamento do militar e reduzir de forma drástica, os erros em operações e abordagens onde há confrontos. “Vai obrigá-los a definir o alvo e atirar sem errar. Assim, morrerá menos inocentes em confrontos. Arma de fogo mata, e mata muito”, criticou o especialista.
Publicidade