Desde 1981, quando as obras da estação terminaram, uma plataforma localizada a 40 metros de profundidade da Avenida Chile (15 metros abaixo das plataformas atuais) está pronta, com acabamento em pastilhas nas paredes. Mas ficou sem uso durante todo esse tempo, já que ali seriam realizados o embarque e o desembarque da Linha 2, cujo projeto original, de 1968, que previa a ligação Estácio — Carioca — Praça 15, nunca foi concluído.
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Os detalhes da plataforma fantasma foram revelados por três amigos que visitaram o lugar na última sexta-feira e divulgaram seus relatos na internet. A intenção do grupo era dar à população a noção do desperdício para que as pessoas pressionem o governo para conclusão da obra.
O jornalista e administrador Miguel Gonzalez, 38 anos, expressou suas impressões sobre o passeio no blog “Metrô do Rio”, que escreve há sete anos. “Encontramos mais do que esperávamos. A estrutura da estação está toda escavada e construída. As salas internas, de segurança, de repouso, de manutenção, refeitório e banheiros para funcionários estão prontos”, contou ele, lembrando que o projeto foi modificado, e a estação abandonada, por falta de recursos na época.
“Além das plataformas, há mais uns 100 metros de túnel em direção à Rio Branco. Os acessos ao mezanino da estação e à plataforma da Linha 1 estão prontos. As escadas foram construídas. Só faltou colocar as escadas rolantes (os espaços estão reservados para tal) e abrir as paredes”, detalhou, lembrando que dois terços da estação ainda precisariam ser concluídos.
Segundo o engenheiro Luiz Henrique Barroso, 35, o refeitório citado por Miguel tem o tamanho de uma quadra de futebol de salão. “Pena que jamais tenha sido servida uma refeição ali”, lamenta. Ele brigou por dois anos pela autorização para conhecer o ‘esconderijo’. Chegou a recorrer à Controladoria-Geral da União, alegando direito ao acesso de informações públicas, sem sucesso. Ganhou recentemente a simpatia do secretário de Transportes, Carlos Roberto Osorio, e conseguiu.
A Linha 1A (ligação São Cristóvão - Cidade Nova - Central, criada em 2009 para acabar com a baldeação no Estácio) nunca existiu no projeto. Vários engenheiros sinalizaram que a solução para reduzir os intervalos e acabar com os congestionamentos era concluir a Linha 2”, lembra Luiz Henrique, autor da página do Facebook “Aguardando Liberação do Tráfego à Frente”. Também visitou o local o estudante Atílio Flegner, 21.
O engenheiro de Transportes Fernando Mac Dowell ressalta que o projeto original do metrô previa intervalos de 100 segundos na linha 2, que teoricamente opera com intervalos de 4 minutos, quando não há atrasos. “O problema é que uma linha funciona com piloto automático e a outra, não. Os intervalos não são mantidos e chegam a 8 minutos às vezes. Isso seria resolvido separando as duas linhas”, afirma.