Por marlos.mendes
Rio - A crise nos hospitais universitários federais do Rio provocou nova interrupção de serviços importantes. A partir de hoje, estão suspensas as internações e cirurgias eletivas - não emergenciais - do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ, na ilha do Fundão.
“Estamos nos preparando para esvaziar o hospital, porque não temos mais recursos para internar pacientes. É lastimável”, lamentou o diretor Eduardo Curtis. “O hospital da UFRJ sempre esteve entre os cinco primeiros do Brasil e hoje é o 14º. Recebemos muitos pacientes com doenças de alta complexidade, que precisam de cirurgias delicadas e tratamento contínuo”, afirmou.

Representantes dos hospitais e parlamentares se reuniram nesta sexta-feira na sede do Conselho Regional de Medicina do Estado (Cremerj) para discutir a situação. Segundo Eduardo Curtis, o hospital da UFRJ deveria receber o repasse de R$10 milhões, o suficiente para saldar a dívida de cerca de R$6 milhões com seus fornecedores. “Os hospitais universitários precisam ter um orçamento organizado, um planejamento de gastos. Nós só recebemos pelo serviço que prestamos ao SUS. Mal dá para comprar os medicamentos”, criticou o diretor.

Hospital da UFRJ, na Ilha do Fundão. O atendimento foi interrompido por conta de grave crise financeira Banco de imagens / Agência O DIA

Na Universidade Federal Fluminense, o quadro também é desolador. O Hospital Universitário Antônio Pedro chegou a interromper as internações em outubro, mas já voltou ao normal. Mesmo assim, o diretor Tarcísio Ribeiro afirmou estar preocupado com o próximo ano. “Estão reduzindo nosso orçamento em cerca de R$ 10 milhões por ano. Somos dos poucos hospitais que fazem cirurgias cardíacas na região”, criticou diretor do hospital da UFF.

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Outra instituição que acumula problemas financeiros é o Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, da Unirio. Ele tem uma dívida de R$15 milhões e é referência do tratamento de portadores da AIDS.De acordo com o diretor Fernando Ferry, uma das responsáveis pela crise é a não adesão à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), instituição criada pelo Ministério da Educação e que transforma os hospitais universitários em empresas públicas. “O MEC faz uma pressão grande pela adesão à Ebserh. Nós ainda não aderimos”, diz o diretor.
Em nota, o MEC diz que a adesão à Ebserh “é uma decisão de cada universidade e afirma que o ministério está repassando os recursos para as universidades. 
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Cremerj quer audiência com ministro
Para o presidente do Sindicato dos Médicos, Jorge Darze, a adesão à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) não resolve a crise. “O Piauí foi o primeiro estado a aderir, e continua sofrendo com a falta de insumos, equipe e aumento de custos”, afirmou Darze. “Até os residentes estão sem receber a bolsa e estão em greve. É um problema de escala nacional”, afirmou Darze.
Para Pablo Vazquez, presidente do Conselho Regional de Medicina, a saída é fomentar a discussão entre os representantes das instituições e os próprios ministérios. “Vamos lutar por uma audiência pública com o MEC”, diz. “A saúde é um valor agregado e vamos passar vergonha nas Olimpíadas se não oferecermos um bom serviço. Vamos evitar o fechamento dos hospitais a todo custo”, enfatizou Vazquez. 
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Reportagem de Clara Vieira