Por marlos.mendes
Rio - Quase 40 dias após a explosão que marcou São Cristóvão, vítimas e vizinhos se queixam da insegurança e do atraso na apresentação do laudo da perícia da Polícia Civil. Alguns foram vítimas de roubo, já que o local está abandonado. Comerciantes atingidos inovam para manter os negócios funcionando. O documento vai apontar as causas, um mistério que atormenta quem tenta seguir adiante. Sem o laudo, ninguém pode acionar o seguro, por exemplo.
Devido à facilidade de acesso à área, que não costuma ser policiada, o terreno já foi alvo de furtos. Qualquer pessoa entra na área abandonada. O DIA flagrou estudantes uniformizados saindo por um buraco. A comerciária Cláudia Gato, 47 anos, contabiliza prejuízos. Dona da Sapataria Orange, ela teve três aparelhos de ar-condicionado levados da antiga loja ao lado do prédio do Itaú — uma das poucas estruturas condenadas que não precisaram ser demolidas.
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O local serve de estoque, já que Cláudia alugou uma loja menor para continuar a trabalhar. Para isso, fez empréstimo. “Não entregam o laudo que preciso para acionar o seguro e nem garantem o isolamento da minha antiga loja. Ladrões fazem a festa”, revoltou-se a empresária, que registrou duas ocorrências.
Em meio à dificuldade das famílias para se reerguer, a Igreja São Januário continua arrecadando alimentos e materiais de limpeza para distribuir às vítimas.

Segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, apenas uma família pediu ajuda. Eles estão abrigados na rede de acolhimento. O órgão ainda acrescentou que está disponível às vítimas através do contato fornecido na época da tragédia.

Alunos uniformizados passam por buraco em muro. As invasões no terreno abandonado são comunsErnesto Carriço / Agência O Dia

Um dos moradores mais prejudicados na ocasião, Valdecir Galdino da Silva se afastou de São Cristóvão desde que perdeu casa e suas fontes de renda: um restaurante e quitinetes que alugava. A mulher dele, Ana Keila, conseguiu um emprego no mesmo mês, em um bar do bairro.


Entrega em domicílio
Lojas tradicionais como a Miranda Ferreira Relojoaria e Joalheria continuam a vender as mercadorias, que foram quase todas recuperadas. Porém, sem o espaço físico, demolido por determinação da Defesa Civil, os pedidos são feitos por telefone ou pelas redes sociais da loja, que não tinha seguro. A neta Bruna Lichteuheld, que trabalhava no negócio da família, conseguiu recolocação em um mercado.
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Outros lojistas começaram a reformar os imóveis, como um salão de beleza localizado ao lado. No prédio comercial em frente e na lateral, tapumes tapam buracos de paredes e janelas danificadas.
Pela necessidade de um laudo de engenheiros, o da Polícia Civil continua sem previsão para ficar pronto. Ao todo, 54 imóveis foram danificados, sendo 19 deles totalmente destruídos.