Por felipe.martins, felipe.martins
Rio - Os cinco jovens mortos por policiais militares, no sábado, em Costa Barros, foram atingidos por tiros nas costas. A conclusão dos laudos de necropsia feito por legistas do Instituto Médico Legal (IML) — somada à constatação de que não havia cápsulas de pistola deflagradas no interior do Palio usado pelo grupo — reforça a versão de fuzilamento dos rapazes. Nesta terça-feira, o juiz Sandro Pitthan Espíndola, do Plantão Judiciário, converteu em preventiva as prisões em flagrante dos quatro PMs.
Além disso, o comandante-geral da PM, coronel Alberto Pinheiro Neto, informou, em nota, que determinou que os policias presos sejam submetidos imediatamente ao Processo Administrativo Disciplinar que julgará a exclusão deles da corporação.
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Mais de 50 tiros
Os soldados Thiago Resende Viana Barbosa e Antônio Carlos Gonçalves Filho, o sargento Márcio Darcy Alves dos Santos e o cabo Fabio Pizza Oliveira da Silva, todos lotados no 41º BPM (Irajá), foram presos por homicídio qualificado e fraude processual, por terem afirmado em depoimento na 39ª (Pavuna) que um dos jovens havia disparado contra eles usando uma pistola. Nesse caso, haveria no interior do Pálio cápsulas da arma apresentada pelos PMs na delegacia.
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A perícia feita no veículo usado pelos jovens, que apresentava mais de 50 perfurações de tiros, também revelou não haver sinais de que disparos teriam sido feitos do interior do Palio para fora. Isso contraria a versão dos policiais.
Familiares dos jovens mortos em Costa Barros foram recebidos pela Defensoria Pública%2C que buscará responsabilizar o EstadoDivulgação/Ascom DPRJ

Os projéteis retirados pelos legistas dos corpos dos cinco jovens foram enviados nesta terça aos Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) para a identificação dos calibres. Na necropsia, os legistas estimam apenas se os disparos são de alta energia (provenientes de fuzis) ou baixa energia (provenientes de pistolas e revólveres).

A análise dos legistas do IML sugere que os cinco jovens — Roberto de Souza Penha, Carlos Eduardo Souza, Cleiton Correa de Souza, Wilton Esteves Domingos Júnior e Wesley Castro Rodrigues — foram atingidos por tiros de fuzis e pistolas.
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Já a perícia preliminar de local indica que os calibres seriam 7.62 e 5.56, que são compatíveis com o Fuzil Automático Leve (FAL) e o Colt M16, além de .40, de pistola. Justamente o tipo de arma usado por integrantes da PM.
Defensoria: não houve tentativa de socorro à vítima
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A Defensoria Pública do Rio de Janeiro ingressará com uma ação para responsabilizar o Estado e os policiais militares pela morte dos cinco rapazes, alvejados em Costa Barros. Durante a tarde, defensores receberam familiares para tomar medidas em prol dos parentes, com objetivo de requerer, na Justiça, reparação por danos morais e patrimoniais. Na audiência, a mãe de Wesley Castro Rodrigues, de 25 anos, disse que acredita na punição. “Era meu filho único, me deixou um neto de dois anos. Vocês não podem imaginar o que eu estou sentindo”, desabafou Rosiléia Rodrigues.
Defensores também esclareceram que Wesley foi absolvido de uma acusação por tráfico de drogas por falta de provas. Eles contaram que um dos jovens, que seria o motorista do veículo, não morreu na hora. “Testemunhas contaram que a vítima estava viva, mas não houve tentativa de socorro. Vamos oferecer proteção para que esta pessoa deponha”, relatou o coordenador do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos da Defensoria Pública, Fábio Amado.
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‘Não desistam de lutar por justiça’
“Não desistam de lutar por justiça”. Foram estas as palavras de Terezinha Maria de Jesus, mãe do menino Eduardo, morto por um PM no Complexo do Alemão em abril deste ano, às famílias dos cinco jovens assassinados em Costa Barros.
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Em um encontro promovido nesta terça pela Anistia Internacional, mães e familiares de jovens mortos por policiais militares trocaram experiências e, sobretudo, apoio. A reunião faz parte do projeto “Jovem Negro Vivo”, que tem como objetivo chamar a atenção do mundo para a violência policial nas comunidades do Rio.
De acordo com a assessora de Direitos Humanos da Anistia Internacional, Renata Neder, as mortes nas favelas cariocas aumentaram em 60% nos últimos dois anos. “É importante ressaltar que o caso do Complexo da Pedreira não é uma exceção. Só no ano passado, foram 580 moradores de comunidades mortos pela polícia em todo o Estado do Rio. Estamos imaginando como será o ano das Olimpíadas”, afirmou. Segundo a Anistia, o 41º BPM, responsável pela região de Costa Barros, é considerado o batalhão com maior número de assassinatos.
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Com Amanda Raiter e Clara Vieira