Por felipe.martins, felipe.martins
Rio - A crise financeira do estado também frequenta os bancos escolares. Para reduzir gastos, a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) suspendeu a limpeza das escolas às terças e quintas-feiras. O cardápio da escassez segue um calendário próprio. Durante seis dias, as refeições serão substituídas por lanches com biscoitos, bolos, sucos, leite e iogurte. A medida é para evitar o uso do gás no preparo de comida. Em outros seis dias, as unidades ficarão sem porteiros. 
“O quadro de funcionários está quebrado, com falta de inspetores e outros profissionais. Preocupa-nos que em dias de conselho de classe fiquemos sem portaria. Há escolas em áreas perigosas, todos sabemos. As questões mais graves, entretanto, mais urgentes, são a defasagem salarial, que ano que vem chegará a 30% e a manutenção das escolas”, criticou Beatriz Lugão, diretora do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação.
Centenário colégio Souza Aguiar%2C na Lapa%2C sofre abandono. Há três anos%2C alunos convivem com rachadurasEstefan Radovicz / Agência O Dia

Há quase três anos, alunos do centenário Colégio Estadual Souza Aguiar, na Lapa, convivem com rachaduras que interditaram a quadra de esportes. Uma obra vizinha de uma construtora causou o problema. Segundo a diretora da unidade, Ana Cristina Rodrigues, a construtora e a Seeduc entraram em um acordo para que fossem feitos os reparos, mas a quadra só deve ser usada no ano que vem. “Os danos também afetaram a cozinha que estávamos construindo, pois a escola tem três turnos”, diz a diretora Ana Cristina.

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Eles reclamam que a parte isolada do prédio interditou os bancos de concreto do pátio e que a falta de limpeza em dois dias da semana deixa os banheiros insuportáveis. “O cheiro é horrível. Às vezes temos que ir embora por causa do fedor”, contou uma adolescente. Um laudo da Defesa Civil municipal mostrou que o prédio não tem risco de desabamento.
A Seeduc garantiu que o cardápio alternativo suprirá as necessidades nutricionais dos estudantes. A nutricionista Ana Rosa Cunha, professora do Centro Universitário Celso Lisboa, não concorda. “Essa troca não é a mais adequada visto que não supre as necessidades nutricionais, como proteína e ferro, principalmente em se tratando de crianças e adolescentes que estão em fase de crescimento”, diz.
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Presidente da Comissão de Educação da Alerj, o deputado Comte Bittencourt (PPS) diz que está atento ao problema. “Estamos acompanhando as dificuldades pelas quais a administração estadual está passando para garantirmos que alunos e profissionais não sejam afetados”, disse. Segundo ele, as medidas foram tomadas respeitando a crise orçamentária. “Há prioridades como merenda, manutenção e limpeza que é preciso garantir”.
Alerj cobra explicação de reitor da Uerj
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Pelo segundo dia, estudantes mantiveram a ocupação na Uerj, para exigir o pagamento de bolsas e salários de terceirizados e funcionários. O reitor Ricardo Vieiralves foi convocado pela Comissão de Educação da Alerj, no próximo dia 9, para justificar o fechamento da universidade por uma semana, o que afetou 28 mil alunos. “Ele já faltou a dois convites”, criticou o presidente da Comissão de Educação da Alerj, deputado Comte Bittencourt (PPS).

“Tivemos que demitir 157 funcionários”, diz Antonio Neto, secretário de Educação
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Há 22 anos, na rede estadual de Educação, o atual secretário Antonio Neto, comenta o corte no orçamento que tem afetado a rotina das escolas fluminenses. Ele lembra que mais da metade do orçamento está comprometido com pagamento de salários dos servidores.
Como a crise do estado afetou a educação?
— Desde o primeiro dia do ano, procuramos garantir a merenda e a manutenção das escolas para que nenhum atraso prejudicasse os alunos. Temos orçamento de R$ 5 bilhões, porém, deste total, R$ 3,6 bilhões são destinados a salários, o que limita investimentos. Revisamos contratos, reduzindo carros e ar-condicionado.
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Por que a rede estadual passou o ano todo sem greve, diferentemente de 2013 e 2014?
— Negociamos mês a mês com o sindicato dos professores para evitar perder dias de aula. Claro que, com todo o estado em dificuldades orçamentárias graves, não pudemos atender muitas reivindicações, mas conseguimos cumprir algumas demandas da classe.
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Houve corte de pessoal?
— Sim. Nós, aqui na secretaria, tivemos que demitir 157 funcionários, o que foi um trauma para nós. Então, setores que trabalhavam com dez funcionários passaram a ter quatro, cinco. Serviços executados por cinco, foram distribuídos para dois. Foi um aperto, mas necessário.
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Como será em 2016?
— O governo federal está finalizando a questão dos planos estaduais e municipais de educação, o que será a base para que estados e municípios recebam financiamentos. O Estado do Rio tem um plano aprovado em 2009 com metas para 20 anos que serviu de modelo para o país, estão estamos otimistas em relação à liberação de recursos. Sobre o orçamento do estado, nosso montante deve girar em torno dos R$ 5 bilhões, praticamente o mesmo de 2015.