Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - Dez mil motoristas profissionais do Estado do Rio, trabalhadores que transportam pessoas, tiveram a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) suspensa, em 2015, por terem estourado o número de pontos. De acordo com levantamento do Detran-RJ, são quatro mil motoristas de ônibus e micro-ônibus e seis mil taxistas. Os profissionais respondem por cerca de 20% do total de 58 mil motoristas que tiveram a suspensão da CNH.
As violações à legislação do trânsito não são os únicos desvios de conduta desses profissionais. Entre 2010 e 2015, a Secretaria Municipal de Transportes emitiu 29 mil multas aos quatro consórcios de ônibus que operam na capital por infrações ao Código Disciplinar dos Ônibus. Normas básicas como atender solicitações de parada para embarque e desembarque e zelar pela segurança dos passageiros são constantemente descumpridas. A quantidade de taxistas multados administrativamente pela prefeitura carioca chegou a 9.935.

A quantidade de condutores de passageiros punidos é um reflexo do vale-tudo do trânsito fluminense, que, de acordo com os últimos dados disponíveis, matou 2.680 pessoas no estado em 2013.

“O número elevado de motoristas que extrapolaram os pontos, e deveriam estar impedidos de dirigir, mostra como o comportamento deles é ruim”, afirmou o presidente da Comissão de Trânsito da OAB-RJ, Armando de Souza. “Tem taxista que pensa que você invadiu a casa dele. Não gosta que escolha o caminho e não abaixa o volume do rádio. As Olimpíadas estão aí. Devia haver esforço grande com os motoristas para tratarem melhor os passageiros”, reforça o professor da PUC-RJ José Eugênio Leal, engenheiro especialista em transportes.

Hábitos como parar o ônibus afastado da calçada para passageiros embarcarem ou desembarcarem expõem pessoas a riscos de acidentesFernando Souza / Arquivo / Agência O Dia

“Os motoristas têm que fazer cursos para controlar a agressividade nas relações sociais”, defende o antropólogo Roberto Damatta,que desde 1979 estuda o trânsito brasileiro e é autor do livro ‘Fé em Deus e Pé na tábua’, pela Editora Rocco.

O vice-presidente do Sindicato dos Cobradores e Motoristas de Ônibus (Sintraturb), Sebastião José da Silva, reconhece que muitos condutores “alopram” no trânsito,no entanto, afirma que não há estudo científico que comprove que a categoria tenha um grau de conflito social diferente dos demais trabalhadores.

Publicidade
“O motorista está mais exposto porque faz um trabalho público”, explica. Segundo Silva, o Estado do Rio tem 120 mil motoristas profissionais, sendo 40 mil na capital.
“É muito difícil alcançar um padrão alto quando se fala de uma categoria que envolve um número tão grande de profissionais”, analisa o secretário municipal de Transportes, Rafael Picciani. “Não podemos aceitar que o comportamento dos motoristas seja um dos itens mais reclamados pela população. É necessário mais investimento na formação desses profissionais”, destacou o secretário.
Publicidade
Sindicato contesta Detran
O Sindicato das Empresas de Ônibus (Rio Ônibus) contestou os dados do Detran. A entidade afirmou, em nota, que os números apontados “se referem a carteiras de habilitação série D emitidas e não podem ser considerados como motoristas de ônibus em atividade no sistema municipal de transporte de passageiros.”
Publicidade
Sobre multas de trânsito, o Rio Ônibus diz que as empresas cumprem o Código de Trânsito Brasileiro, que as obriga a indicar para o Detran ou à prefeitura o motorista que estava dirigindo o veículo no momento da infração. “O setor também investe pesado em qualificação e atualização dos profissionais”, prossegue a nota, esclarecendo que a Universidade Corporativa do Transporte oferece atualização constante do treinamento dos profissionais de transporte público. 
“Essas iniciativas vêm mostrando resultados: queixas contra motoristas à prefeitura, vem registrando queda sensível”, acrescenta a nota. Representantes dos taxistas não foram localizados.
Publicidade
DPVAT paga hoje 518 mil indenizações
Os dados sobre as mortes no trânsito brasileiro não são precisos. “Os números do governo são de óbitos no local. A Organização Mundial de Saúde (OMS) diz que 5% dos feridos morrem até 30 dias após o acidente, e essas não são computadas”, denuncia Fernando Diniz, da ONG Trânsito Amigo.
Publicidade
As mortes, oficialmente, variam entre 40 mil e 45 mil por ano. O Ministério da Saúde informou que, somente em 2015, os hospitais públicos fizeram 132 mil internações de vítimas do trânsito.
O pagamento de indenizações do seguro obrigatório mostra que a situação é muito mais dramática. Entre janeiro e setembro de 2015, a Seguradora Líder-DPVAT pagou 518.312 indenizações, sendo 409 mil por invalidez permanente, 33.251 por mortes e 75.803 por lesões. Ângela Amparo, assessora de Relações Institucionais da Líder-DPVAT, explicou que os sinistros não ocorreram necessariamente em 2015. “A pessoa tem três anos para reclamar a indenização”, esclarece
Publicidade
“A educação do trânsito deveria fazer parte da grade escolar”, defende Sebastião Silva, do Sintraturb. O objetivo é que a responsabilidade e gentileza sejam a tônica para motoristas profissionais.