Por paulo.gomes
Rio - A morte do vereador Geraldo Cardoso Gerpe (PSB), conhecido como Geraldão, recoloca a política da cidade de Magé em foco graças à violência contra parlamentares. Ele é o décimo político assassinado no município desde 1997, um recorde brasileiro. Geraldão foi morto por volta das 22h de quarta-feira, no estacionamento da Câmara Municipal, alvo de um tiro na cabeça e no ombro. Ele estava à frente de uma das Comissões Especiais de Inquérito (CEIs) que investigam irregularidades na gestão do prefeito Nestor Vidal (PMDB), e era responsável pela apuração de problemas nas folhas de pagamentos de supostos funcionários fantasmas contratados pela prefeitura.

Vereadores ouvidos pelo DIA estão consternados pelo crime e suspeitam de que haja motivação política para o assassinato, embora evitem o assunto abertamente - pelo próprio histórico da cidade. A família de Geraldão não quer velório na Câmara de Vereadores, que, via assessoria, relatou a presença de agentes Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) no local. O corpo está sendo velado em um centro de convenções, em Pau Grande, distrito de Magé. Ainda nesta tarde, o presidente da Câmara, Rafael Tubarão (PPS) dará entrevista coletiva.

Morto na noite de quarta-feira%2C o vereador Geraldo Cardoso Gerpe (PSB) foi o décimo político de Magé assassinado nas últimas duas décadasReprodução Facebook

A morte de Geraldão agrava um quadro político complicado, de cassações, renúncias e denúncias em série, que se estendem desde a cassação da ex-prefeita Núbia Cozzolino pela Justiça Eleitoral, eleita em 2008, e da eleição suplementar de Nestor Vidal, em 2011. Em entrevista ao DIA, em novembro do ano passado, o atual prefeito relatou ter sofrido ameaças de morte. À época, ele, que gozava de grande aprovação do eleitorado mageense, começou seu calvário a partir da renúncia do vice, Dr. Claúdio da Pakera.

Em sessão na Câmara Municipal, ele denunciou as irregularidades que hoje são investigadas pela Casa, e que podem resultar em mais um processo de cassação na cidade. No dia 4 deste mês, o plenário aprovou relatório que constata suposta fraude em contrato entre a prefeitura e uma clínica. "Eu saí desse mundo do crime que é a política, já não sei absolutamente nada. Sou empresário, quero minha vida longe disso. Não sei se é motivo político, se é particular dele", afirmou o ex-vice prefeito, cujas denúncias colocaram 15 dos 17 vereadores da cidade na oposição a Nestor Vidal.
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Geraldão foi outro dos que mudou de lado na mesma época: vereador eleito com 2.316 votos em 2012, ele logo assumiu a secretaria de Ordem Pública do governo Nestor Vidal, e saiu do cargo para voltar à Câmara no final de 2015. Lá, assumiu a investigação das folhas de pagamento de supostos funcionários fantasmas da prefeitura. "As denúncias vieram no fim do ano, e, por isso, não tivemos o recesso parlamentar. A cidade acabou", resumiu o vereador Carlinhos da Ambulância (PSDB), relator da investigação presidida por Geraldão.
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Viúva escreve depoimento em rede social
Segundo a DHBF, testemunhas estão sendo ouvidas e imagens de câmeras estão sendo analisadas. Na manhã desta quinta, Thaís Gerpe, viúva de Geraldão, postou desabafo em seu Facebook. "Hoje as lágrimas que escorrem de meus olhos, são de lembranças boas que vivi ao lado de um ser humano tão especial. Peço ao Senhor que olhe com misericórdia para aqueles que um ato de crueldade tiraram a vida do meu marido. Aonde vamos parar, meu Deus? Essa violência sem limites, ceifando vidas", escreveu.