Por bianca.lobianco
Rio - Uma série de inspeções do Tribunal de Contas do Município (TCM) lança luz sobre um lado sombrio dos fatos que culminaram no fechamento temporário do Zoológico do Rio: os desaparecimentos e mortes não explicadas de animais que integram o acervo do Zoo.
Segundo a auditoria, entre 2012 e 2014, foram preenchidos 284 formulários de necropsia, sendo que, em média, 17% (48 casos) dos termos não constava a causa da morte dos animais. Em 12,9% das fichas não havia diagnóstico nenhum sobre os óbitos ou o laudo era inconclusivo.

Em 10,35% das necropsias analisadas não havia identificação do veterinário responsável pelo atestado do óbito. Além disso, nos formulários de necropsia que indicam a realização de análises complementares (histopatologia, microbiologia, parasitológico, entre outros), em nenhum caso foi encontrado o respectivo exame anexado ao termo, salienta o documento do TCM.

Plantel do Zoológico%2C que contava com 2.700 animais em 2013%2C foi reduzido a 1.453 espécimes hojeBanco de imagens

Com relação à saída e retorno de animais, os dados são imprecisos. Em alguns casos, os inspetores ficaram sem saber que fim os bichos levaram. O plantel do Zoo, que contava com 2.700 animais em 2013, foi reduzido a 1.453 espécimes.

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O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) órgão federal que licencia os Zoos, determina que os jardins zoológicos devem necropsiar todos os animas que vierem a óbito, informando em fichas próprias, dados da necropsia, apontando a causa mortis,permanecendo tais fichas arquivadas na instituição à disposição do poder público para fiscalização e auditorias.”
Os termos de necropsia, segundo o TCM, são uma das duas fontes de saída do plantel. Se não forem bem projetadas, preenchidas e correlacionadas geram uma série de fragilidades no sistema que fica desprotegido contra erros e até mesmo eventuais tentativas de fraude com lesão ao patrimônio.
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O trabalho do TCM sugere fatos mais tenebrosos do que remédios vencidos, armas e carne estragada encontrados pela polícia no Zoo.
Raio X das fragilidades do Zoo
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Desde 2009, o TCM inspeciona o Jardim Zoológico do Rio. Uma das primeiras constatações dos auditores foi a falta de uma política ambiental, com objetivos e metas definidos. Também chamou atenção o fato de que os mecanismos de controle do plantel continham inúmeras falhas que comprometiam sua confiabilidade.
O TCM recomendou várias medidas ao Zoo, mas ao longo dos anos, as recomendações não foram implementadas ou o foram de forma ineficiente. As precárias condições do Jardim Zoológico do Rio, o mais antigo do Brasil, levaram o Ibama a interditar o local no dia 14 de janeiro. Entre outras irregularidades, os técnicos constataram que os bichos estavam magros e feridos.
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O conselheiro do TCM, Antonio Carlos Flores de Moraes, após analisar as auditorias, relatou, no dia 26 de janeiro, que “os achados e fragilidades detectados pela fiscalização apresentaram radiografia da gestão do patrimônio municipal administrado pela Fundação Rio Zoo”. No seu voto, Moraes destaca que em suas manifestações ao TCM, Fundação Rio Zoo leva a crer que todos animais possuem fichas individuais de registros médicos e biológicos. Afirmação que diverge da real situação constatada durante a inspeção.
Ele conclui o voto, sugerindo audiência do Presidente da Rio Zoo, Sérgio Luiz Felippe, para apresentar justificativas. A Rio Zoo informou que cumpriu as recomendações da Auditoria, que teve o seu arquivamento em agosto de 2012. As divergências continuam.
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Irmão de político dirige Zoo
Desde que Eduardo Paes assumiu a Prefeitura do Rio, em 2009, a Fundação Rio Zoo teve quatro presidentes. Em 2011, o administrador de empresas Sérgio Luís Felippe ganhou o posto e se mantém lá até hoje.
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Sérgio Luís Felippe tem importante grau de parentesco com um aliado de Eduardo Paes: o presidente da Câmara dos Vereadores do Rio, Jorge Felippe (do PMDB). Eles são irmãos.
Antes de assumir o Jardim Zoológico, Sérgio Felippe ocupou o cargo de diretor na Companhia Estadual de Habitação (Cehab), que já foi presidida pelo irmão político. Na década de 90, seu nome foi relacionado ao do falecido contraventor Castor de Andrade. Ele nega a relação com Castor, que era ligado ao Jogo do Bicho.