Por rafael.souza
Rio - Alunos, professores e funcionários da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) têm sofrido com a violência no campus do Fundão, na Ilha do Governador. Com uma área de mais de 4,3 milhões de metros quadrados, resultado do aterro de nove ilhotas da Baía de Guanabara, o Fundão é cercado por vias expressas e comunidades – como a Favela da Maré.

Relatos mostram que a violência no campus cresceu nos últimos meses. De acordo com o estudante de Engenharia de Bioprocessos, Luiz Henrique Costa Rodrigues, de 21 anos, na última terça-feira ele, que estuda durante todo o dia na Escola de Química da UFRJ, voltava para o estacionamento por volta das 21h, quando foi informado por policiais militares que um homem havia arrombado seu carro e levado alguns pertences.

Segundo Luiz Henrique, o crime teria acontecido por voltas das 15h daquele dia. Por sorte, o assaltante foi preso. "É muito comum a gente ficar sabendo de crimes no campus. No mesmo dia que quebraram o meu carro, eu fiquei sabendo que o carro de um outro estudante, do bloco A do Centro de Tecnologia, foi assaltado e levaram o estepe, uma roda e o som", contou.

Carro do estudante Luiz Henrique Costa Rodrigues%2C furtado no estacionamento do Fundão%2C na última terça-feiraReprodução

O jovem afirmou que mesmo com a segurança do local, a ousadia dos bandidos é grande. "Mesmo como os guardas, eles entram e roubam pedestres, motoristas, levam tudo, na cara de pau", finalizou.

Além disso, criminosos estariam fazendo arrastões em ônibus que circulam dentro da universidade.
Alunos relatam na internet os crimes no Fundão Reprodução Internet

Na tarde de sexta-feira, uma estudante francesa, que está no país fazendo intercâmbio, contou que foi assaltada e quase estuprada, no estacionamento do Bloco A, da UFRJ. Segundo a mulher, ela caminhava para o local onde seu carro estava estacionado quando um homem a abordou. De acordo com ela, o bandido teria a obrigou entrar no carro. "Ele repetia, perdeu, perdeu. Eu não entendi, já que não sou brasileira. O cara levou a minha bolsa com carteira e todos os meus documentos. Ele só não me estuprou porque vinha um grupo de jovens, e quando eles aproximaram do meu do meu carro e ele saiu correndo assustado", relatou. "Estou muito assustada e com raiva. Não esperava passar por uma decepção, como essa, em meu intercâmbio", contou.

Em 2007 a Divisão de Segurança da UFRJ ganhou um prédio na ilha para identificar e registrar ocorrências e divulgar estatísticas de roubos e assaltos nos campi. Já em 2013, uma estratégia de segurança foi montada pelo 17º BPM (Ilha do Governador) para reduzir problemas de segurança na Cidade Universitária. Uma das ações foi o fechamento do Portão 4, que dá acesso à Linha Vermelha. Na ocasião, foi intensificadas as rondas de guardas de bicicletas, que atuam em área federal — onde a Polícia Militar não pode entrar.

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A equipe do DIA percorreu neste domingo todo o Campus do Fundão e encontrou apenas uma viatura com dois policiais militares, estacionada em frente a Ponte do Saber.
O outro lado
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A reportagem procurou a reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que em nota afirmou que, 14 funcionários contratados pela Coordenação de Segurança da Prefeitura da UFRJ (Diseg) e outros 844 vigilantes terceirizados fazem a segurança do campus do Fundão durante 24 horas por dia. Segundo a instituição essa vigilância é feita em turnos.
Ainda segundo o órgão, a instituição é monitorada 24 horas por um sistema de câmeras que abrangem 80% do território da Cidade Universitária. Segundo o comunicado, "embora os integrantes da Diseg tenham sido selecionados também para fazer a segurança patrimonial, eles acabaram fazendo também o patrulhamento nas vias de conexão entre os centros acadêmicos". Ainda de acordo com a nota, o objetivo da universidade é ensinar e não fazer a segurança pública. O pronunciamento termina dizendo que "o patrulhamento das vias públicas da Cidade Universitária cabe ao 17º BPM (Ilha do governador) e as investigações sobre crimes são de competência da 37ª DP (Ilha). Furtos de patrimônio são apurados pela Polícia Federal".
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A Polícia Militar também foi procurar para informar sobre o patrulhamento que é feito na universidade. Segundo o comando do 17º BPM (Ilha do Governador), agentes fazem diariamente "patrulhamento na Ilha do Fundão com quatro viaturas: uma fechando a Ponte do Saber e outra, no acesso a Linha Amarela". Segundo o comunicado, "a PM também emprega mais duas viaturas atuando diretamente nas manchas criminais". A polícia informou "que o Serviço Reservado do 17º BPM atua no Campus realizando operações de inteligência". A Polícia Militar foi questionada sobre o número de policiais que atuam dentro da instituição, mas limitou-se a dizer que "não divulga número de policiais por uma questão de estratégia". A PM finalizou afirmando que no mês de janeiro registrou, apenas, 12 ocorrências de roubo e duas prisões na Cidade Universitária.
A Polícia Civil infomou que as vítimas podem registrar os boletins de ocorrência na 37ª DP (Ilha do Governador) ou na 21ª DP (Bonsucesso). Quanto ao número de casos, estes são fornecidos pelo Instituto de Segurança Pública (ISP).
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Reportagem do estagiário Rafael Nascimento