Por felipe.martins

Rio - A guerra entre facções no Morro da Babilônia, que ganhou uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) em junho de 2009, têm causado, além de medo, prejuízos entre os comerciantes da comunidade do Leme. Uma delas teme pelo futuro de seu bar, que pode até fechar por causa da violência. De acordo com a vendedora, os tiroteios a qualquer hora do dia afastaram os clientes, que procuram em seu Facebook informações para saber como está o clima na favela.

“Não sabemos nunca quando terá tiroteio e nem sei o que responder ao cliente, não dá para abrir desse jeito. Donos de hostels estão indo embora da favela”, reclamou a moradora, que teme ser vítima de bala perdida. A guerra entre traficantes ainda tem obrigado turistas a cancelarem suas reservas nos hostels do local. Os que mais sofrem as perdas de clientes são os ficam instalados na parte alta do morro. “Aqui na parte baixa, estamos ganhando os clientes de hostels que ficam no alto do Babilônia”, lembrou funcionário de albergue da parte baixa.

Consulados alertam visitantes

Depois dos Estados Unidos, foi a vez do consulado da Alemanha recomendar aos cidadãos de seu país que não visitem as favelas do Rio, mesmos as que têm Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). O aviso acontece a pouco mais de quatro meses da Olimpíada.

Ruas de acesso às comunidades estão com policiamento reforçadoJoão Laet / Agência O Dia

Os alertas foram emitidos nos sites dos órgãos após as comunidades pacificadas enfrentarem o recrudescimento da violência. Em Botafogo, na Zona Sul, o Morro Dona Marta, que foi a primeira comunidade a receber uma UPP e era considerado modelo de sucesso do programa, voltou a ter tiroteios no ano passado, após sete anos de pacificação.

Medo muda rotina

Considerada umas das favelas mais visitadas por turistas no Rio, ao lado do Vidigal, a comunidade do Chapéu Mangueira e Babilônia, no Leme, na Zona Sul, vive dias de tensão e pânico. Nas duas últimas semanas, uma guerra entre facções criminosas estourou novamente, assustando moradores, turistas e comerciantes, que passaram a mudar seus hábitos e rotinas. Ontem, o corpo de duas pessoas, ainda não identificadas, foram encontradas na região, que permanece com o policiamento reforçado por tempo indeterminado pelo Comando de Operações Especiais (COE) da PM.

No sábado, outras duas pessoas foram mortas. Segundo a Delegacia de Homicídios (DH), Paulo Roberto Santos de Oliveira, de 21 anos, foi encontrado morto pelos agentes que foram chamados ao local. Já Thiago Vinicius da Silva, de 22, chegou a ser socorrido e levado para o Hospital Miguel Couto, na Gávea, mas não resistiu aos ferimentos. Não há informações sobre a participação deles ou não na guerra do tráfico.

“O clima está muito neurótico, está todo mundo com medo”, afirma um dos moradores. “No sábado mataram dois inocentes, um era meu primo, Paulinho, que trabalhava entregando quentinhas”, complementa um jovem que não quis se identificar.

A denúncia também é confirmada por um comerciante, primo de outra vítima. “O Tiago tinha dois empregos: trabalhava em uma escola e de ambulante. Era trabalhador, não tinha envolvimento com nada”, diz.
Quem vive em edifícios vizinhos se mostra preocupado. Moradores afirmam que o tiroteio de quarta-feira, à noite, foi o mais intenso desde a instalação da UPP, em 2009.

Uma dona de casa teve que se esconder na cozinha, após, por mais de meia, hora ouvir rajadas de tiros. Antes do confronto, ela avistou um homem pulando o muro do condomínio. “Não sei se ele era um invasor da comunidade ou fugia do confronto. Está difícil morar aqui. Foi muito tiro. Parecia que estava na Síria. Nunca vi um tiroteio tão violento como este aqui”, desabafou.

Há informações da polícia de que grupos de traficantes das comunidades Pavão-Pavãozinho e da Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, estariam tentando invadir os morros do Leme. A disputa estaria entre as facções criminosas Comando Vermelho e o Terceiro Comando Puro. “Estamos apoiando a UPP por tempo indeterminado até que a devida tranquilidade seja restaurada”, garantiu o comandante do Bope, coronel Carlos Eduardo Sarmento.

Após o tiroteio entre grupos de criminosos, eles trocaram tiros com policiais do Bope. Um suspeito foi ferido e socorrido ao Hospital Miguel Couto, onde encontra-se custodiado. No local foram apreendidos dois fuzis Colt, carregadores com 144 munições e uma pistola.

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