Por felipe.martins

Rio - Em tempos de Fla-Flu político, ruas e redes sociais cada vez mais antissociais e em fúria, um auditor de direita, tricolor, roqueiro e morador da Zona Sul, e um estudante petista, rubro-negro, portelense e suburbano deram um show de democracia num papo proposto pelo DIA no Da Gema, bar tijucano famoso pelas coxinhas (de galinha) e pelo pastel de mortadela.

Uma das donas da birosca, a cozinheira Luiza Souza aproveitou a ocasião para criar uma espetacular coxinha de mortadela. Explica-se a combinação estranha: nos últimos tempos os opositores ao governo, identificados com a direita, foram apelidados de coxinhas. Já os defensores do governo têm sido chamados de mortadelas.

A receita deu certo, como comprovou a dupla, unida por dois pontos em comum: a concordância com o talento da quituteira e com o fato de que as divergências políticas numa democracia podem e devem ser debatidas com civilidade e respeito.

O mortadela Mitã Chalfun e o coxinha Marco Aquino deram uma lição de democracia na mesa do Da Gema%2C famoso botequim tijucanoAlexandro Auler / Agência O DIA

“Defendo a Constituição. Sou legalista até a morte. E acho que o impeachment é legal porque ela cometeu pedalada fiscal, que é crime. Se não houvesse crime, eu seria contra o impeachment, mesmo com este governo sendo uma tragédia. Lei é lei”, disse Marco Aquino, 61 anos, fã de vinhos italianos e argentinos, e assumidamente de direita.

Ex-dirigente da UNE, aluno de Educação Física na UFRJ e petista assumido, o carioca Mitã Chalfun, de 26 anos, tem nome tupi-guarani (que significa Deus das Crianças), sobrenome sírio-libanês e a mesma paixão que Marco Aquino pelo povo brasileiro e pelo cumprimento da lei. Mas defende Dilma Rousseff.

“Não há provas concretas sobre as pedaladas fiscais, e também não havia legislação específica que apontasse isto como crime passível de impeachment. Veja que 16 dos 27 governadores cometem pedaladas, mas só a Dilma é contestada, em virtude de um momento político e econômico ruim. Então, para mim, impeachment neste momento é golpe”, diz.

Morador de Oswaldo Cruz que chegou à universidade pública graças a um pré-vestibular comunitário da região, de onde é colaborador, Mitã garante que defenderia o impeachment de Dilma em caso de crime comprovado.

“Defendo a Constituição, a democracia e a legalidade. Todo e qualquer indivíduo deve ser punido de acordo com a lei. E a Dilma não está acima da lei. Nem o Judiciário. As investigações não podem ser seletivas e partidárias, de olho apenas num lado, como têm sido” protesta o estudante.

Eleitor de Aécio Neves no segundo turno das últimas eleições (“anulei no primeiro”), Marco Aquino não vê constrangimento por ter optado por um candidato também acusado de corrupção. Bem-humorado, também tira sarro com quem critica a oposição por criticar o governo uniformizada com a camisa da CBF.

“Se houver prova contra o Aécio, que seja preso. O mesmo vale para Eduardo Cunha. O PT quer que ele caia. Mas não tem que ser de acordo com a lei? Vamos esperar o julgamento”, provoca. “A camisa não é da CBF, é do futebol brasileiro. Mas acho que vou comprar uma do Neymar, só de brincadeira”, prossegue, citando os crimes fiscais pelos quais o atacante está sendo acusado. Assumidamente coxinha, Aquino diz que a sociedade não pode perder o humor no debate. E nem deixar de fazê-lo. Nas ruas e nos bares.

“Qualquer que seja a decisão no Congresso, o país vai ficar dividido. Já está. E só vamos melhorar esta situação com o diálogo entre as partes, não com ódio. Com coxinha e com mortadela”, ensina.
Mitã, desta vez, concordou: “A pluralidade de ideias amadurece o debate. E a rua é o espaço democrático. Assim como o bar. Sou a favor de todas as manifestações”.

Depoimento: “Basta cumprirem  a lei. É do lado dela que eu estou”, diz Luiza Souza, 
cozinheira e dona do bar

“Sou negona, fui pobre, vim de baixo. Já passei por muita dificuldade na vida. As pessoas podem falar, ter suas opiniões. Bar é para isso. Aqui se discute futebol, política e religião. Mas ninguém que não seja negro ou pobre, por mais solidário que seja, sabe o que é sofrer o que a gente sofria. E sofre. Pude fazer faculdade e subir na vida graças ao Lula. Isto não quer dizer que a gente seja contra a lei. Se ele ou a Dilma infringiram a lei, têm de pagar por isso. É claro. Se não infringiram, não podem ser tirados do governo à força. Basta cumprirem a lei. É do lado dela que eu estou".

“Basta cumprirem a lei. É do lado dela que eu estou”%2C diz a cozinheira Luiza SouzaAlexandro Auler / Agência O DIA


RECEITA DA COXINHA DE MORTADELA

MASSA

1 litro de leite
400g de farinha de trigo
2 colheres (sopa) de manteiga
1/2 cebola média picada
Sal, pimenta e salsa a gosto.

Modo de preparo da massa

Coloque o leite na panela Junte os ingredientes, menos a farinha. Quando o leite ferver coloque a farinha e mexa sem parar, até cozinhar a massa.

Dica: a massa tem que soltar do fundo da panela. Reserve.

RECHEIO
500g de mortadela picada
2 tomates picados em cubos pequenos.
1 cebola picada
3 dentes de alho processados
Azeite, salsa e pimenta .

Modo de preparo Coloque o azeite na frigideira, deixe aquecer e coloque o alho.
Deixe dourar. Acrescente a cebola. Em seguida, a mortadela e o tomate. Deixe refogar por 2 minutos Retire do fogo, deixe esfriar. Recheie a massa formando coxinhas.

Rendimento: 18 coxinhas.

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