Rio - ‘Há que endurecer-se, mas sem jamais perder a ternura”. A frase do guerrilheiro Che Guevara ilustra bem o momento vivido pelos mais de 3,5 mil homens da Força Nacional que já estão no Rio para a Olimpíada. Conhecidos como os “homens de ferro” da tropa de elite do governo federal, os agentes, de nervos de aço, adquiridos com treinamentos intensos e rigorosos, mostram, porém, serem donos, debaixo das fardas, de ‘corações moles’, quando o assunto é a família.
Ao contrário dos heróis de guerra de antigamente, que usavam cartas e retratos para mandar notícias às pessoas queridas, os soldados modernos usam com frequência, nas horas de folga, como é permitido pela Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos (Sesge/MJ), as redes sociais. Meios pelos quais deixam transparecer o lado, digamos, ‘manteiga derretida’ de suas personalidades, demonstrando emoções e sentimentos à flor da pele ao falar de esposas e maridos, filhos, namorados e de Deus.
“Saudade é o que me define”, postou, junto com fotos da mulher e filhos pequenos, um policial do Amazonas, no perfil ‘Vila Carioca, Base Força Nacional RJ’, no Facebook. Outro agente, de Natal (RN), declarou amor ao filho, de um mês. “Papa (sic.) com muita saudade”, escreveu. No dia 8, uma PM também do Amazonas registrou na rede: “A missão é árdua... isso conseguimos superar...mas a saudade dilacera nossos corações.”
O temor a Deus também é um tema constante nas postagens. “Enquanto a cidade do Rio dorme, a Força Nacional cumpre sua missão. Que o Senhor Deus seja meu escudo e proteção”, postou um policial no dia 5. “Que Deus nos abençoe”, completou um outro soldado na página virtual.
Vínculos são essenciais
Psicóloga, psicanalista e terapeuta de casais e de famílias, Márcia Modesto vê com bons olhos as demonstrações explícitas de carinho e afeto dos policiais por suas famílias. “Ter essa noção de importância familiar, do lado humano, os remetem à evolução e, ao mesmo tempo, à preservação de valores, de lealdade umas as outras”, destaca.
Para Márcia, os vínculos de afetividade são fundamentais para a estrutura emocional dos soldados. “Amor e carinho dados e recebidos os fortalece sem dúvida para qualquer missão”, garante. Márcia ressalta ainda que o afeto explícito sempre é positivo em qualquer situação e serve de lição. “Esse lado ternura dos policiais faz despertar, até mesmo entre eles, um senso maior até de patriotismo.Amor a família e a Pátria dão um bom caldo.”