Segundo Janaína, a Petrogold instalou-se no local há cinco anos. “Na época fizemos abaixo-assinado contra, mas não adiantou”, contou. Janaína estava fazendo o almoço quando ouviu explosão. “Do portão vi caminhões da empresa saindo às pressas e labaredas num dos tanques. Entrei correndo e gritei pela minha filha e sobrinha”. Ela saiu com a roupa do corpo deixando o pastor alemão Neymar e a poodle Duquesa, presos por corrente. Até o fim da tarde Janaína não sabia, mas os dois animais haviam morrido. Quatro casas adiante, estava o filho Gustavo com a avó, Marlene, 62. “Gritei muito. Os dois saíram correndo”, disse Janaína.
O marido e a filha mais velha, Nayaja, 18 anos, haviam saído. “Vi pela televisão minha casa pegando fogo e corri para lá. Vou processar a Petrogold”, disse Vanderlino. A lojista Jaqueline Cardoso Barros Santos, 37, conseguiu salvar a cachorra Safira. “Não podia deixá-la. As paredes pareciam ferver, a televisão e o carro estalavam por causa do calor”, contou Jaqueline.
A sensação dos moradores de Duque de Caxias é a de viver em um campo minado. Só no Jardim Primavera, há outros três depósitos de combustíveis em área residencial.
O incêndio de grandes proporções em seis tanques de combustíveis de empresa sem licença estadual para funcionar terminou em tragédia, nesta quinta-feira, em Duque de Caxias, na Baixada. Labaredas que alcançaram a altura de mais de 30 metros apavoraram moradores da Vila Maria Helena. Uma pessoa morreu e oito ficaram feridas no incidente ocorrido no depósito da distribuidora Petrogold, em área residencial próxima à Rodovia Rio-Teresópolis. A empresa fora multada em R$ 210 mil, há um ano, por poluição.
O fogo começou por volta das 11h e se espalhou por todo o quarteirão. Em segundos, o calor nas ruas próximas chegou a 600 graus. No reservatório, ferros derreteram pela temperatura, que atingiu 1.000 graus. Moradores tiveram que fugir às pressas, assustados com a sequência de explosões nos tanques, com capacidade para dois milhões de litros. O funcionário da Petrogold Gelson da Silva Côrrea, de 43 anos, foi atingido pela primeira explosão no tanque. Sofreu queimaduras em 90% do corpo. Foi socorrido, mas morreu na UTI do Hospital Adão Pereira Nunes, o Hospital de Saracuruna.
Ao meio-dia, as chamas podiam ser vistas a quilômetros de distância. Com dificuldades para andar, a aposentada Marineuza Fernandes dos Santos, de 48 anos, foi salva por um telefonema.
“Estava dormindo quando minha sobrinha ligou avisando do incêndio.
O marido avistou a fumaça da estrada. Abri a janela e senti um calor insuportável”, conta a moradora vizinha ao depósito, que foi resgatada por bombeiros. “Assim que saí, começaram as explosões. Poderia estar morta”, disse ela, que mora sozinha. Dois bombeiros sofreram asfixia pela fumaça e seis moradores tiveram escoriações em quedas durante a fuga. Todos já receberam alta de hospitais.
Bombeiros de cinco quartéis foram para o local, mas o sistema antichamas da distribuidora não funcionou. A saída foi resfriar as casas próximas e retirar os moradores. Por questão de segurança, cerca de 100 moradias foram interditadas ao longo de seis quarteirões. O fogo foi controlado às 15h30. Às 22h, mais de dez horas após o início do incêndio, as chamas ainda podiam ser vistas a distância.
O secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, afirmou que a Petrogold possuía só licença municipal, não reconhecida pelo Estado do Rio.