Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - As 100 famílias que foram desalojadas do local após a explosão no depósito de combustíveis só poderão retornar depois que os imóveis foram liberados pela Defesa Civil. A dona de casa Janaína Cassiano, 34 anos, resumiu sua tristeza ao saber que a casa onde morava foi uma das três que pegaram fogo. “Compramos nossas coisinhas com tanto sacrifício. Avisamos que essa tragédia poderia acontecer. Mas ninguém nos ouve”, desabafou, ao lado do marido, Vanderlino Gomes, 36, encarregado de montagem desempregado, e dos filhos Gustavo, 9, e Juliana, 7.

Segundo Janaína, a Petrogold instalou-se no local há cinco anos. “Na época fizemos abaixo-assinado contra, mas não adiantou”, contou. Janaína estava fazendo o almoço quando ouviu explosão. “Do portão vi caminhões da empresa saindo às pressas e labaredas num dos tanques. Entrei correndo e gritei pela minha filha e sobrinha”. Ela saiu com a roupa do corpo deixando o pastor alemão Neymar e a poodle Duquesa, presos por corrente. Até o fim da tarde Janaína não sabia, mas os dois animais haviam morrido. Quatro casas adiante, estava o filho Gustavo com a avó, Marlene, 62. “Gritei muito. Os dois saíram correndo”, disse Janaína.

Vanderlino%2C a esposa%2C Janaína%2C e os filhos%3A desolados com o incêndio que destruiu a casa onde moravamAlexandre Vieira / Agência O Dia

O marido e a filha mais velha, Nayaja, 18 anos, haviam saído. “Vi pela televisão minha casa pegando fogo e corri para lá. Vou processar a Petrogold”, disse Vanderlino. A lojista Jaqueline Cardoso Barros Santos, 37, conseguiu salvar a cachorra Safira. “Não podia deixá-la. As paredes pareciam ferver, a televisão e o carro estalavam por causa do calor”, contou Jaqueline.

A sensação dos moradores de Duque de Caxias é a de viver em um campo minado. Só no Jardim Primavera, há outros três depósitos de combustíveis em área residencial.

Alimento, dormitório e água
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A Secretaria de Ação Social de Duque de Caxias montou um ponto de apoio para os desalojados. Serão oferecidos locais para dormir, água e alimentos. As vítimas confirmadas depois de perícia serão incluídas no cadastro único para ter prioridade no programa Minha Casa, Minha Vida.
Um dos que esperam ser atendidos pela secretaria é o pedreiro Edson Nunes Lima. “Ouvi uma série de explosões e fui retirado às pressas da casa em que morava há 40 anos. Não tenho para onde levar minha esposa, meus dois filhos e minha mãe”, desabafou.
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Explosões e morte a 600 graus em Caxias

O incêndio de grandes proporções em seis tanques de combustíveis de empresa sem licença estadual para funcionar terminou em tragédia, nesta quinta-feira, em Duque de Caxias, na Baixada. Labaredas que alcançaram a altura de mais de 30 metros apavoraram moradores da Vila Maria Helena. Uma pessoa morreu e oito ficaram feridas no incidente ocorrido no depósito da distribuidora Petrogold, em área residencial próxima à Rodovia Rio-Teresópolis. A empresa fora multada em R$ 210 mil, há um ano, por poluição.

O fogo começou por volta das 11h e se espalhou por todo o quarteirão. Em segundos, o calor nas ruas próximas chegou a 600 graus. No reservatório, ferros derreteram pela temperatura, que atingiu 1.000 graus. Moradores tiveram que fugir às pressas, assustados com a sequência de explosões nos tanques, com capacidade para dois milhões de litros. O funcionário da Petrogold Gelson da Silva Côrrea, de 43 anos, foi atingido pela primeira explosão no tanque. Sofreu queimaduras em 90% do corpo. Foi socorrido, mas morreu na UTI do Hospital Adão Pereira Nunes, o Hospital de Saracuruna.

O estudante Bruno Vitor de Souza, 17, relatou os momentos de agonia de moradores. “Só vi bombeiros correndo e gritando: ‘Sai, sai, que vai explodir tudo!’”, lembrou. Uma idosa de 96 anos chegou a ser carregada nas costas por parentes e viznhos. No desespero, muitos deixaram para trás animais como cães, que morreram acorrentados.

Ao meio-dia, as chamas podiam ser vistas a quilômetros de distância. Com dificuldades para andar, a aposentada Marineuza Fernandes dos Santos, de 48 anos, foi salva por um telefonema.
“Estava dormindo quando minha sobrinha ligou avisando do incêndio.

Bombeiros de pelo menos seis quartéis trabalharam para combater as chamasFernando Souza / Agência O Dia

O marido avistou a fumaça da estrada. Abri a janela e senti um calor insuportável”, conta a moradora vizinha ao depósito, que foi resgatada por bombeiros. “Assim que saí, começaram as explosões. Poderia estar morta”, disse ela, que mora sozinha. Dois bombeiros sofreram asfixia pela fumaça e seis moradores tiveram escoriações em quedas durante a fuga. Todos já receberam alta de hospitais.

Bombeiros de cinco quartéis foram para o local, mas o sistema antichamas da distribuidora não funcionou. A saída foi resfriar as casas próximas e retirar os moradores. Por questão de segurança, cerca de 100 moradias foram interditadas ao longo de seis quarteirões. O fogo foi controlado às 15h30. Às 22h, mais de dez horas após o início do incêndio, as chamas ainda podiam ser vistas a distância.

O secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, afirmou que a Petrogold possuía só licença municipal, não reconhecida pelo Estado do Rio.

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