Rio - "Nunca um batalhão de Choque enfrentou 300 mil pessoas”. Foi assim, com referência à manifestação de 20 de junho, cuja dispersão foi criticada, que o secretário de Segurança do Rio de Janeiro falou pela primeira vez sobre o assunto.
Em uma hora de entrevista, José Mariano Beltrame se disse satisfeito com sua polícia, afirmou ser impossível separar vândalos de manifestantes e defendeu a ação da tropa na Lapa. “Três grupos estavam indo vandalizar a região”.
ODIA: Como o senhor está vendo estas manifestações que sacodem o Brasil e, em particular, o Rio?
BELTRAME: São manifestações difusas, que reivindicam desde a redução do preço das passagens de ônibus até questões ligadas aos caminhoneiros, mas com uma legitimidade imensa, porque foram às ruas. Acho que tem mesmo que ir para as ruas. Passamos por uma crise no fazer as coisas aqui no Brasil.
E o comportamento de sua polícia, que foi muito criticada: o senhor está satisfeito?
A tropa foi posta em xeque diante destas situações, mas a verdade é que nunca se tinha enfrentado um movimento deste tamanho. Se formos ver como o Rio amanheceu, vamos ver que não controlamos tudo, mas não deixamos os vândalos transitarem pela cidade (em referência aos ocorridos em São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba e outras cidades). Todos nós estamos aprendendo, não se pode tapar o sol com a peneira. É novo para todo mundo.
Mas os vândalos atuaram em algumas ocasiões, e a repressão foi forte, generalizada e alvo de muitas críticas...
Não há como separar o vândalo do manifestante. Não foram manifestações de cem pessoas. Muitas vezes você vê o vândalo, vai até lá e, quando encosta nele, aparecem 20, 30 pessoas. A Polícia Militar está entre a prevaricação e o abuso de autoridade. Tem que encontrar o meio termo.
Na manifestação do dia 20 (caminhada da Candelária até a prefeitura), foram jogadas bombas em bares e aconteceu muita confusão na Lapa...
Ali minha inteligência tinha a informação de que três grupos de vândalos se dirigiam para aquela região, onde iriam atuar. Evitamos uma tragédia.
O senhor está monitorando as redes sociais?
A questão é que estas manifestações não são combinadas previamente, não se comunica à polícia horário, local e trajeto, como se faz normalmente. Vai-se pelas redes sociais e se marca. Nós acompanhamos o movimento pelas redes sociais com pequenas e grandes manifestações, para ver como o grupo se movimenta.
As manifestações continuam pelas ruas, em menor intensidade, após os protestos gigantescos. Como o senhor vê este atual momento?
Está se limitando muito a discussão entre vândalos e a ação da polícia, mas é preciso ver o que há por trás disso. Quais são as demandas, quem são os responsáveis pelas demandas do povo? Se continuar esta discussão, será sempre polícia versus vandalismo. E o que gera isso? O que as pessoas querem com as manifestações? É preciso ver isso.
Diante de tamanha novidade, como a polícia está se preparando?
Todos os dias estamos fazendo preleção (balanço sobre os acontecimentos do dia anterior e avaliação de atitudes a serem tomadas) no Batalhão de Choque. É o desafio do novo.
O senhor continua secretário após 2014?
Não, vou sair.
E se for convidado a permanecer no cargo?
Você não tem ideia da cota de sacrifício da vida pessoal que faço... Está na hora de passar o bastão. A ideia da pacificação já foi comprada por toda a sociedade.