Rio - Enquanto as guitarras soam alto na Cidade do Rock, na Barra, no Salgueiro quem bate forte é o tambor da tradição. Em meio às comemorações do terceiro aniversário da implantação da UPP local, o grupo ‘Caxambu do Salgueiro’ mostrou que a cultura brasileira sobrevive, firme e forte, no alto do morro. Há oito anos sob a liderança de Tia Doralice Silva, 82, as ‘meninas’ dançaram na rua, reafirmando a cultura negra em tempos de pacificação. O ritmo, imortalizado na música de Almir Guineto, é parecido com o Candomblé, e de origem angolana.
“Isso é do tempo do meu pai”, conta Tia Dora, toda paramentada para festejar a redescoberta de sua comunidade. “Eu tinha que dançar escondido, porque não era coisa para criança. Mas aprendi vendo meu pai e agora a gente segue aqui, dando vida à tradição”, apregoa, simpática, a líder do grupo. “Mas eu gosto mesmo é da bagunça.”
Regina Rodrigues, 62, também gosta da bagunça, mas teme pela falta de renovação. Há meses, a única jovem que dançava com elas deixou o grupo, pois a mãe não permitia que ela saísse do morro para se apresentar. “Mas não me preocupo muito não, porque mais adiante virá alguém que vai dar continuidade.”
Enquanto este alguém não vem, as ‘tias’ seguem firmes no propósito de manter acesa a chama da tradição. Elas já fizeram algumas apresentações, ‘às vezes até ganhando cachê’.
O que importa para elas, no entanto, não é quanto vão receber para mostrar a raiz de um povo que, mesmo sofrido, não desiste. O que importa de verdade é sorrir, dançar e se divertir, como diz Guaracy Silva. “Meu filho, o Caxambu tá no sangue. É que nem o samba. A gente quer é dançar”. E sorrir, cantar, alegrar a alma...