Por tiago.frederico
Passageiros andam entre os trilhos após descarrilhamento de tremWhatsApp O DIA (98762-8248)

Rio - Mil e oitocentos passageiros desceram do trem da Supervia que descarrilou em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, na manhã desta quarta-feira, sem ajuda dos agentes da concessionária e tiveram que caminhar até a plataforma das estações mais próximas. De acordo com o secretário de estado de Transportes, Carlos Roberto Osório, com o "grave problema" envolvendo o trem "moderno", com ar-condicionado, comprado recentemente na Coréia, "os passageiros forçaram as portas para abrir e desceram na pista". "A maioria retornou à estação de Nova Iguaçu, mas alguns andaram até a estação de Juscelino, em Mesquita, por quase quatro quilômetros e isso acabou atrasando a retomada do sistema", alegou Osório.

Esta também foi a justificativa da SuperVia. A concessionária afirmou que a liberação do tráfego no ramal Japeri só ocorreu após mais de uma hora porque os passageiros "ocuparam" as linhas. "Com a ocupação das linhas, este tempo foi superior ao usual para garantir a segurança dos passageiros que caminhavam na via", disse, em nota, a concessionária. Ainda de acordo com a SuperVia, caso os passageiros não demorassem a liberar a via férrea, "em uma ocorrência como a registrada hoje, a concessionária conseguiria liberar a circulação em um prazo médio de 20 minutos, diminuindo os prejuízos causados aos passageiros".

GALERIA: Quase 2 mil passageiros andam entre os trilhos após trem descarrilar

Segundo o secretário, engenheiros ferroviários do governo do estado, técnicos da SuperVia e da Agetransp, a agência fiscalizadora dos serviços das concessionárias de transporte público, como trens, metrô e barcas, vão determinar as causas do acidente. "A partir da perícia feita aqui hoje, será expedido um lado, que, em no máximo 30 dias, irá orientar uma punição à concessionária. Uma outra questão que estamos avaliando é que o desembarque dos passageiros foi desorganizado. O procedimento correto é que o maquinista informe pelo sistema de som e peça que os passageiros fiquem dentro do trem aguardando a chegada dos agentes para orientar no desembarque", disse o secretário.

Carlos Roberto Osório disse que%2C após análise de laudo%2C SuperVia será multadaSeverino Silva / Agência O Dia

Em imagens enviadas para o WhastAppp do DIA (98762-8248), passageira que estava no interior do trem diz que não foi informada sobre o problema. No vídeo, os passageiros da composição aparecem desembarcando sem a ajuda dos agentes da concessionária, embora a Supervia afirmado, em nota, que prestou auxílio aos mesmos.

Agetransp vai apurar circunstâncias do acidente

A Agetransp (agência fiscalizadora dos serviços das concessionárias de transporte público, como trens, metrô e barcas) disse que abriu um boletim de ocorrência para apurar as circunstâncias do acidente com o trem em Nova Iguaçu.

"Técnicos da agência reguladora foram deslocados para o local da ocorrência para iniciar a apuração das causas do incidente. O atendimento prestado aos usuários pela concessionária SuperVia também será avaliado, assim como o acionamento e o cumprimento do Plano de Contingência Integrado", disse, em nota, a agência, que informou também que seus técnicos vão acompanhar o restabelecimento da operação no ramal.

Descarrilamento durante troca de trilho

Osório acredita que o descarrilamento tenha ocorrido durante uma mudança de trilho. "Provavelmente houve algum problema físico na via férrea nesta passagem, que teria provocado o descarrilamento", afirmou o secretário, que disse: "Também estamos avaliando quantos agentes da SuperVia estavam aqui na hora do incidente. Ou seja, se agiram rápido, se o maquinista anunciou sobre o problema e se houve falha da concessionária no controle desse sistema de embarque".

Ainda de acordo com o secretário, "o certo é que houve falha no equipamento de serviço e operacional". "Se não forem adequados, vai haver uma segunda punição para a Supervia", garante.

Circulação restabelecida após mais de uma hora

"Às 7h34, o primeiro passageiro embarcou em Nova Iguaçu, após a retomada do sistema", disse Osório, que garantiu: "Ninguém ficou ferido". O Corpo de Bombeiros informou que enviou equipes para o local, no entanto, a corporação ainda não divulgou se houve feridos.

Trem descarrilou na saída da estação de Nova IguaçuWhatsApp O DIA (98762-8248)

Logo após o acidente, às 6h05, segundo o secretário, a Fetranspor foi acionada, para que uma frota de ônibus fosse levada até a estação Nova Iguaçu. "Os passageiros seguiram em coletivos até a Central do Brasil". O secretário não soube informar quantos ônibus foram disponibilizados, mas alegou que a SuperVia também distribuiu o "Siga Viagem", um vale que serve para embarque em qualquer outro transporte. O secretário disse que está verificando se houve falha na distribuição dos bilhetes.

Alguns passageiros aguardaram o restabelecimento do sistema ferroviário. Outros, seguiram em coletivos para o Rio de Janeiro. Reportagem de O DIA na cidade da Baixada Fluminense verificou que os pontos de ônibus, assim como os coletivos, já não estavam superlotados por volta das 10h. Questionado sobre a possibilidade de colocar um ônibus de prontidão em cada estação de trem, Osório foi categórico: "Não tem como colocar um ônibus em cada estação porque são mais de 100 estações no sistema ferroviário e (isso) também não resolveria porque um ônibus leva no máximo 100 pessoas, enquanto um trem leva quase 2 mil", disse.

Passageira exibe 'Siga Viagem'%2C vale dado para 'compensar' transtorno. Com ele%2C ela pode pegar qualquer outro transporte Severino Silva / Agência O Dia

O descarrilamento do trem em Nova Iguaçu, nesta manhã, afetou a vida de quase duas mil pessoas que estavam na composição. "Quando há um incidente deste, o desconforto é inevitável. o que podemos fazer é minimizá-.lo. Não há contingência que minimize esse desconforto", afirmou o secretário. Segundo ele, alguns passageiros, irritados com o transtorno, depredaram a estação Nova Iguaçu. "Tivemos três guichês quebrados. Tivemos que trocar aquele acrílico que protege o bilheteiro", contou.

Após o restabelecimento da circulação e a reabertura das oito estações, entre Nova Iguaçu e Paracambi, os intervalos seguiram irregulares durante toda a manhã no ramal Japeri. Na estação de Juscelino, conforme observou O DIA, os trens só podiam circular por uma linha, nos dois sentidos, e o intervalo médio às 11h45 variava entre 18 e 20 minutos.

A faxineira Vanderleia Augustinho do Nascimento, de 42 anos, que estava no trem que descarrilou, desistiu de seguir para o trabalho, em Copacabana, após o acidente. "Peguei o trem às 5h30 no Engenheiro Pedreira e por volta das 6h05 ele o trem descarrilou. Tive que descer no trilho e voltar para a estação de Nova Iguaçu andando, pois, além de ser perigoso, Juscelino é muito longe", contou ela indignada.

Moradora de Comendador Soares%2C a doméstica Sueli de Fátima Souza%2C 50%2C optou por metrô para chegar ao trabalho%2C na TijucaSeverino Silva / Agência O Dia

"Eu tinha que estar às 7h no serviço, em Copacabana. Eram 8h30 e eu ainda estava na plataforma de Nova Iguaçu. Perdi o dia, fiquei no prejuízo e levei um susto enorme. Veio em mente aquele último acidente de trem, pensei que era uma batida, uma colisão. O trem balançou muito, quase caiu, foi um susto enorme, vou voltar pra casa", concluiu.

Moradora de Comendador Soares, em Nova Iguaçu, a empregada doméstica, Sueli de Fátima Souza, de 50 anos, tinha que estar às 9h na Tijuca, na Zona Norte, mas às 8h30 ela ainda estava em Nova Iguaçu. "Os trens voltaram a circular, mas com um intervalo muito grande. Não sabia mais o que fazer, se esperava, se pegava um trem. A minha indignação é que a SuperVia não dá explicação nenhuma. Estou há mais de uma hora esperando. Acho que o jeito é ir de metrô, que também está cheio. Também senti muito medo de que algo pior pudesse ter ocorrido", relatou.

Vendedor ambulante, Wallace Feital da Silva, de 28 anos, desistiu de pegar trem assim que ficou sabendo que mais cedo uma composição havia descarrilado. "Era para estar mais cedo no Centro do Rio pra comprar mercadorias, mas optei por descer mais tarde porque estava um caos o sistema ferroviário e o coletivo. Não me arrisquei a ir de trem porque sabia que estaria feia a coisa, então decidi ir de ônibus. Sei que é mais demorado, mas é a unica opção.", disse ele que também afirmou não confiar mais no transporte oferecido pela SuperVia: "É muito perigoso".

Demora em retorno da circulação foi por medida de segurança

Em nota enviada pela SuperVia, a empresa informou que, após o descarrilamento, foi avisado aos passageiros para que permanecessem dentro da composição e esperassem agentes de controle da concessionária para desembarcar nos trilhos e fossem guiados até a plataforma mais próxima.

A concessionária defendeu que não houve demora no atendimento e, logo que constatada a ocorrência, segundo a empresa, sete agentes seguiram imediatamente para o local. Isso levou 10 minutos, segundo a SuperVia.

A justificativa para a demora - uma hora e vinte - no retorno da circulação dos trens foi a necessidade de garantir que medidas de segurança fossem tomadas após a ocupação das linhas até as estações próximas.

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