Por nicolas.satriano

Rio - Um trem da Supervia do ramal de Japeri com aproximadamente 1.800 passageiros descarrilou por volta das 6h10 de ontem a cerca de 150 metros da estação de Nova Iguaçu e bateu em um poste. Sem orientação, os ocupantes forçaram as portas, desceram dos vagões e caminharam pelos trilhos.

Por causa do acidente, oito estações do ramal de Japeri ficaram fechadas até as 7h30, e o serviço só foi normalizado por volta das 15h. Milhares de pessoas esperaram por longo tempo em pontos de ônibus, que não foram suficientes para atender ao aumento da demanda no início da manhã.

Após descarrilar, o trem bateu no poste e interrompeu a circulação no ramal de Japeri. Os ônibus foram insuficientes para atender à demanda de passageiros que buscavam alternativa para chegar a seu destinoSeverino Silva / Agência O Dia

Além da falta de alternativa de transporte ou de um plano de contingência, passageiros reclamaram por não ter recebido o dinheiro da passagem. Depois de longa espera na estação, ganharam tíquetes para outra viagem de trem, apesar de eles não estarem circulando.

Em nota, a Supervia culpou os passageiros pela demora na retomada da circulação de trens. Segundo a concessionária, ela estava pronta para liberar as vias férreas em 20 minutos, mas centenas de pessoas andavam pelos trilhos, impedindo a circulação dos trens.

“Em uma ocorrência como a registrada hoje (quarta-feira), a concessionária conseguiria liberar a circulação em um prazo médio de 20 minutos, diminuindo os prejuízos causados aos passageiros. No entanto, com a ocupação das linhas, este tempo foi superior ao usual para garantir a segurança dos passageiros que caminhavam na via”, diz o texto distribuído pela empresa.

Plataformas ficaram lotadas porque, mesmo após a circulação ser liberada, os intervalos eram grandesSeverino Silva / Agência O Dia

A Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes Aquaviários, Ferroviários e Metroviários e de Rodovias do Estado do Rio de Janeiro (Agetransp) informou que abriu um boletim de ocorrência para apurar as circunstâncias do acidente. Segundo a agência, técnicos foram ao local para iniciar a apuração das causas do incidente. O atendimento aos passageiros pela SuperVia também foi avaliado, assim como o cumprimento do Plano de Contingência Integrado.

O secretário estadual de Transporte, Carlos Roberto Osório, que foi ao local, disse que também vai investigar o acidente. Segundo ele, a principal suspeita é de falha no equipamento.

Trilhos e dormentes desgastados

Técnicos acreditam que o descarrilamento foi causado pelo desgaste de trilhos e dormentes. O professor Alexandre Rojas, especialista em transportes da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), os dormentes, de madeira, desgastados por causa da ação do tempo, desalinham os trilhos.

De acordo com ele, é preciso trocar mil quilômetros de trilhos e trocar dormentes de madeiras pelos de concreto. No trecho do acidente, o dormente é de madeira, que racha, desalinha e se desgasta com o tempo e o calor”.

Osório foi ao local do acidente para avaliar a situação e disse acreditar que houve falha no equipamentoSeverino Silva / Agência O Dia

O engenheiro ferroviário Pedro Paulo Tobias, conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), também culpou a falta de condições de trilhos e dormentes. Segundo ele, a Supervia precisa avaliar constantemente os gabaritos dos trilhos para se certificar de que o alinhamento está correto.

Passageiro sem opção

Sem alternativa de transporte, centenas de pessoas não conseguiram chegar ao trabalho. A faxineira Vanderleia Augustinho do Nascimento, de 42 anos, era uma delas. “Peguei o trem às 5h30 em Engenheiro Pedreira. Eu tinha que estar às 7h em Copacabana. Eram 8h30 e ainda estava na plataforma de Nova Iguaçu. Perdi o dia, fiquei no prejuízo e levei um susto enorme. Pensei que era uma batida porque o trem balançou muito e quase virou”, disse.

Moradora de Comendador Soares%2C a doméstica Sueli de Fátima Souza%2C 50%2C optou por metrô para chegar ao trabalho%2C na TijucaSeverino Silva / Agência O Dia

Moradora de Comendador Soares, em Nova Iguaçu, a empregada doméstica Sueli de Fátima Souza, de 50 anos, tinha que estar às 9h na Tijuca, mas às 8h30 ainda estava em Nova Iguaçu. “Os trens voltaram a circular, mas com intervalo muito grande. A minha indignação é que a SuperVia não dá explicação nenhuma. Estou há mais de uma hora esperando. Acho que o jeito é ir de metrô, que também está cheio. Também senti muito medo de que algo pior pudesse ter ocorrido”, relatou.

Vendedor ambulante, Wallace Feital da Silva, de 28 anos, desistiu de pegar trem assim que ficou sabendo que mais cedo uma composição havia descarrilado. “Era para estar mais cedo no Centro do Rio para comprar mercadorias, mas optei por descer mais tarde porque estava um caos o sistema ferroviário. Não me arrisquei a ir de trem e decidi ir de ônibus. É mais demorado, mas era a unica opção”, disse ele, que também afirmou não confiar mais no transporte oferecido pela SuperVia: “É muito perigoso”.

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