Rio de Janeiro - Há pouco mais de uma semana, a prefeitura de Queimados distribuiu, gratuitamente, 60 cadeiras de rodas feitas sob medida a deficientes físicos da cidade. Em Nova Iguaçu, há cerca de um mês, o prefeito Nelson Bornier (PMDB) participou da entrega, também gratuita, a pessoas portadoras de deficiência mais de 100 equipamentos, como cadeiras, muletas e andadores.
As iniciativas contemplam aqueles que não têm condições de comprar o equipamento, mas poderiam fazer mais diferença na vida dos beneficiados, caso as cidades da Baixada Fluminense oferecessem melhores condições de acessibilidade. Foi o que o DIA observou durante blitz em cidades da região.
Morador do Jardim Alzira, Jorge Mendes Souza, 50 anos, foi atropelado há cinco. As sequelas o fizeram depender de cadeira de rodas. Mas, apesar de ter o equipamento, depende de outras pessoas para circular pelas ruas. Como as calçadas não são adaptadas e as ruas não têm asfalto, ele precisa pedir ajuda para superar os obstáculos e subir o meio-fio.
O cadeirante diz que a situação é pior ainda nos dias de chuva, quando não pode nem sair de casa. “Quando chove, a rua vira lama”, conta. Em Nova Iguaçu, o cenário é parecido. Na Via Light e em boa parte do Centro há rampas nas calçadas. Mas, mesmo assim, buracos dificultam o ir e vir dos cadeirante.
Vítima de um acidente vascular cerebral no ano passado, Mônica Valéria Souza, 38 anos, teve o lado esquerdo de seu corpo paralisado e usa cadeira de rodas há sete meses. Ela só sai de casa na companhia do marido, Solon Tavares Santos, 33 anos. “Se não fosse por ele, não teria como circular pela cidade. As ruas e calçadas têm muitas ondulações e a cadeira bate muito”, critica.
Situação é mais grave em Belford Roxo
Das três cidades visitadas pelo DIA esta semana, Belford Roxo foi aquela em que foram constatadas mais dificuldades. Calçadas estreitas, sem rampa para cadeirantes, esburacadas e sem padrão dificultam o ir e vir.
Na Rua da Escola, em Areia Branca, Cândido Inácio Roberto, 56 anos, encontra problemas logo que passa pelo portão de casa. A rua é uma ladeira e há vários degraus nas calçadas. “Não é só esta rua ou este bairro. Toda a cidade carece de calçadas mais acessíveis”, diz Cândido, que foi vítima de um acidente vascular cerebral (AVC) .
O prefeito Dennis Dauttmam admite a falta de acessibilidade e promete começar a resolver o problema com as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, e do projeto Novo Bairro, parceria com o estado.
“Só no Novo Bairro, serão mais de 74 quilômetros de asfalto e calçadas, todas elas adaptadas para que deficientes tenham maior acessibilidade. Nova Aurora será o primeiro bairro contemplado pelo projeto”, promete o prefeito. Segundo Dauttmam, as obras serão inciadas ainda este ano. O centro comercial também receberá as melhorias em 2013.
Estação de trem não tem rampa para cadeirantes
Subsecretário do Direito da pessoa com Deficiência de Nova Iguaçu, Valnei Costa Rosa, que é cadeirante, diz que a prefeitura fará um estudo para saber onde há maior concentração de pessoas com deficiência na cidade.
Segundo ele, o conjunto de obras anunciado pela prefeitura e pelo governo do estado no fim de abril vai colocar asfalto e calçadas padronizadas em diversos bairros. “Estamos tendo o cuidado de supervisionar a questão da mobilidade e acessibilidade e vamos acompanhar o passo a passo das obras”, garantiu.
Em Mesquita, o presidente da Câmara de Vereadores, Flávio Nakan, diz que o grande desafio é fazer com que a legislação saia do papel e passe a fazer parte do cotidiano das pessoas. Ele, que também é cadeirante, conta que a estação ferroviária de Edson Passos, uma das três que cortam a cidade, nem sequer tem rampa para deficientes.
“Faremos denúncia no Ministério Público, caso a Supervia continue omissa e sem dialogar com a cidade”, afirma Nakan. Segundo ele, há um termo de ajuste de conduta, assinado pelo ex-prefeito Artur Messias, para que seja feita, gradativamente, a adaptação de toda a cidade e dos órgãos.
Quarto adaptado faz a alegria dos cadeirantes em motel de São João
A falta de acessibilidade está não só nas ruas, mas em escolas, prédios e até motéis, mas não em todos. Em São João de Meriti, a sugestão de um amigo cadeirante fez com que Luciano Alves de Abreu, dono do motel Mar del Plata, fizesse uma reforma em uma de suas suítes.
“Ele disse que tinha dificuldade em encontrar um motel que fosse adaptado para o uso de cadeirantes. Comprei a ideia e reformei a suíte Asteca”, explica.
A suíte fica no primeiro andar do motel. Uma porta ao lado dá acesso direto ao quarto. “A suíte tem banheiro adaptado com barras nas paredes, e a sauna tem porta de correr, o que facilita a entrada do cadeirante, e banheira de hidromassagem”, diz Abreu.
Segundo o empresário, desde que a nova suíte foi inaugurada, muitos clientes do motel enviaram e-mails com elogios e agradecimentos. Por esse motivo, ele já iniciou novas reformas no motel. Outro dois quartos estão sendo adaptados para atrair mais clientes. “Eles devem ficar prontos ainda este ano”, revela Abreu.