Por nara.boechat

Rio - Especialista em saneamento básico e planejamento urbano, o historiador Hélio Porto, ex-secretário de Habitação de Nova Iguaçu, critica a política de saneamento da Baixada, responsável, segundo ele, por mais de US$ 30 bilhões (cerca de R$ 68 bilhões) em investimentos e projetos que não resultaram nem em mais água encanada e nem em fim de valas a céu aberto. Ele critica também a falta de investimentos de prefeitos da região.

Historiador Hélio PortoCarlos Moraes / Agência O Dia

O DIA: A Baixada Fluminense tem recebido nos últimos anos recursos dos mais variáveis. No entanto, o que se vê são sérios problemas de abastecimento de água e quilômetros de esgoto a céu aberto, problemas que se acumulam há muitas décadas. Qual o motivo?

HÉLIO PORTO: Se somarmos todos os investimentos nos últimos 30 anos, nos 13 municípios da Baixada, veremos que não foi por falta de recursos que a região hoje sofre com esses problemas. Desde o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG), em 1992, durante a gestão do governador Marcello Alencar, foram mais de 30 bilhões de dólares (o equivalente a R$ 68 bilhões). A promessa de universalização do abastecimento de água na região até o ano 2000 não foi cumprida.

O problema que aconteceu em Campo Grande na semana passada, com o rompimento da adutora da Cedae, pode acontecer também na Baixada?

O risco é muito grande. As adutoras estão em péssimo estado de conservação. Não há manutenção. Há risco, inclusive, com as estações de tratamento de esgoto, que também estão abandonadas.

Qual o percentual de água tratada na Baixada? E de esgoto tratado?

Na Baixada, a média de esgoto coletado é de apenas 35%. Já o índice de esgoto tratado, aquele que não vai para os rios, mas para redes coletoras, é de apenas 11%. Em alguns municípios, como Queimados, São João de Meriti e Japeri, o índice de esgoto tratado é zero. Já o índice de água tratada é maior, chega a 82% em toda a Baixada, mas isso significa dizer apenas que existe cano, não que existe água para distribui-la. O abastecimento regular na Baixada é algo raro.

Com esses constantes problemas de falta d’água na Baixada Fluminense, qual a responsabilidade da Cedae no assunto?

A responsabilidade é total. Esses problemas representam a falência do modelo de gestão da Cedae, empresa que não apresentou um projeto para a Baixada. A melhor saída seria a formação de um consórcio metropolitano, em que os municípios participassem da solução dos problemas. Não adianta fazer um projeto para a falta d’água em Belford Roxo, se o problema também é de Meriti ou de Duque de Caxias.

Qual a parcela de responsabilidade dos prefeitos?

Não há vontade política dos prefeitos da Baixada. Em primeiro lugar, os prefeitos não nomeiam técnicos para os cargos, preferem nomear cabos eleitorais. Em função disso, não há projetos para a área de saneamento. Quando são apresentados, são feitos com falhas e, geralmente, o dinheiro do governo federal é devolvido. Muitos prefeitos não investem em esgoto tratado porque alegam que isso não dá voto, já que os canos de esgoto ficam debaixo da terra, não aparecem para o eleitor. Isso resulta na falta de melhor qualidade de vida da população, que sofre cada vez mais com problemas frequentes de saúde.

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