Por marcelle.silva

No xadrez da política, o xeque-mate das eleições para o governo do Rio de Janeiro pode estar na Baixada Fluminense. Para ajudar os 2,7 milhões de eleitores da região na escolha do próximo dia 26, o caderno Baixada  entrevistou os candidatos Luiz Fernando Pezão (PMDB) e Marcelo Crivella (PRB) para saber o que pretendem fazer em nove áreas caso eleitos. Eles apresentaram propostas para alguns dos problemas que afligem a população da Baixada, como saneamento básico, segurança pública, saúde, infraestrutura, desenvolvimento, mobilidade urbana, transporte, educação e emprego.

Entre as principais promessas feitas pelos postulantes ao governo estão a solução para o problema crônico da falta d’água, a instalação de UPPs, a criação de áreas de lazer e a recuperação do Hospital da Posse, em Nova Iguaçu.

Pezao promete resolver problema da falta d' água na Baixada criando o complexo Guandu IIDivulgação

O Dia: Dois grandes problemas da Baixada Fluminense são a falta de saneamento básico e de água. Como o senhor pretende mudar esse situação?

Luiz Fernando Pezão (PMDB)— Sei bem o quanto essa questão é fundamental para os moradores da Baixada. É por isso que vou fazer o Complexo Guandu 2 e, em dois anos, levar água a toda a região. É a maior operação da história da Cedae. Conseguimos financiamento de R$ 3,4 bilhões junto à Caixa Federal. Nós já estamos com editais na rua para dar início às obras. Só na primeira fase o investimento é de R$ 1,2 bilhão. Quem levou asfalto para a Baixada Fluminense também vai levar a água.
Paralelo a isso, estamos colocando para funcionar reservatórios antigos que deixaram fechados. Inauguramos recentemente o Reservatório JK, entre Nova Iguaçu e Mesquita. Isso já vai dar uma boa melhorada até Guandu 2 chegar com tudo. Quanto ao saneamento, levamos investimentos a mais de 2.700 ruas na Baixada. Na próxima gestão, 100% das ruas serão beneficiadas. Entraremos também com asfalto, calçada e drenagem.

Marcelo Crivella (PRB) — As regiões de classe média e alta têm tido prioridade em nossa Região Metropolitana. Em nosso governo, haverá uma inversão disso. Recentemente, a Caixa Econômica Federal liberou um empréstimo de R$ 3,5 bilhões para a Cedae. Esses recursos serão usados corretamente para ajudar a resolver essa questão. Por incrível que pareça, uma má política também interfere nessa questão. Existem manobristas na Baixada que liberam água em função de interesses politiqueiros. Isso não existirá mais, e o sistema será informatizado.
Além disso, ampliaremos a parceria com o governo federal organizando um PAC da infraestrutura para a Baixada Fluminense. A questão da universalização do saneamento da oferta de água de qualidade também impactará positivamente a despoluição da Baía de Guanabara, que, após uma novela de quase 30 anos, será terminada em nosso governo.

Com a instalação das UPPS nas favelas da Cidade do Rio de Janeiro, a violência cresceu muito na Baixada Fluminense. Como o senhor pretende resolver o problema?

Pezão — Vamos ampliar o número de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Sabemos o que a paz representa. Essa política permitiu a entrada da Polícia Militar onde ela não entrava e fez com que a Polícia Civil prendesse líderes do tráfico e da milícia. A população está vendo como é difícil dominar territórios que estavam há mais de três décadas conflagrados. Vendo o quanto é duro tirar o crime organizado. Eu me proponho a continuar a enfrentar isso.
Não vai ser de um dia para o outro, mas é continuar um processo iniciado e ampliá-lo. Iremos construir mais batalhões. Nós temos parceria com todos os prefeitos, e eles estão nos ajudando com as construções.
Em Nova Iguaçu, por exemplo, vamos inaugurar um batalão da PM em breve. Em setembro, colocamos mais de 400 policiais na região, além de 130 carros. Estamos contratando mais 1.600 até dezembro. A maioria desses novos policiais militares vai para a Baixada para ocupar territórios ou para continuar a repor o efetivo dos batalhões.

Crivella — A política de segurança pública também estará voltada ao atendimento de todas as regiões do nosso estado. O número de policiais por habitante é muito desigual, dependendo da região. Queremos mudar isso.
No nosso governo, levaremos em conta o número de habitantes e a situação da violência em cada localidade. Aparelharemos ainda a polícia técnica. Recuperaremos a credibilidade da polícia, dando exemplo, com uma corregedoria aparelhada, independente e eficaz e o uso central da polícia de proximidade. Pretendemos levar a UPP social junto a cada UPP de segurança. É preciso considerar que, com a UPP, estamos apenas no início de um longo processo de recuperação do domínio de territórios antes ocupados por bandidos.

O Hospital da Posse, em Nova Iguaçu, está sobrecarregado, e a população precisa ir ao Rio para ser atendida. Há algum projeto para construção de outro hospital do mesmo porte na região? Há outros projetos na área para resolver o problema?

Pezão — Vamos abrir quatro hospitais de referência na próxima gestão. Deles, três vão atender à Baixada Fluminense. Um deles, de Cardiologia, em Queimados; outro, de Trauma, também na região, em local a ser definido; e o Hospital da Mãe, em São Gonçalo, que fica próximo. Com isso, o número de leitos vai aumentar.
Quero investir também na atenção básica à saúde em toda Baixada. Fazer a Saúde da Família, aproveitando o Programa Mais Médicos e as Clínicas da Família para atender à população. A gente resolve muito dos problemas quando tem uma boa atenção básica. Pelo menos 85% dos problemas nessa área são resolvidos. Uma criança com asma, uma bronquite, não precisa concorrer com um atropelado, um baleado, em uma emergência de hospital.

Crivella promete transformar o trem em metrô de superfícieDivulgação

Crivella — Até hoje, não foi implantado de fato o Sistema Único de Saúde no Estado do Rio de Janeiro. Com planejamento e o uso da expertise existentes no campo da saúde pública no estado, implantaremos com qualidade verdadeiramente o Sistema Único no Rio. O Hospital da Posse será recuperado.
Além disso, pensaremos em uma política de saúde não para cada cidade separadamente, mas sim para a metrópole carioca, priorizando a periferia metropolitana. Atuaremos através de consórcios intermunicipais de saúde e a prioridade será a implantação de clínicas da família e a saúde preventiva.
Realizar uma política preventiva é melhor para a população. Integraremos a política de atenção primária na saúde com a política de educação pública nas creches e escolas de Ensino Fundamental. Profissionais de saúde visitarão periodicamente as escolas orientando e examinando as crianças.

Qual é a grande obra que o senhor pretende fazer na região que poderá ficar atrelada ao seu nome para sempre?

Pezão— O Complexo Guandu 2, o Arco Metropolitano e os hospitais de referência são grandes obras na Baixada. Mas eu quero ser governador para continuar a dar uma educação de qualidade e principalmente ajudar as cidades a fazer a atenção básica à Saúde. Como disse anteriormente, quero colocar Médico da Família na Baixada inteira. Também vamos pavimentar mais ruas e, antes de mais nada, priorizar firmemente a segurança pública.

Crivella — Não pretendemos fazer um governo personalista. Além disso, entendemos que o segredo do sucesso está em conseguir uma coordenação de políticas. Ou seja, as diversas políticas devem ser pensadas e adotadas de forma integrada. Temos que pensar a estratégia de habitação integrada à política de transporte, de educação, de saúde, de áreas verdes e de lazer etc.
Hoje, a periferia metropolitana do Estado do Rio de Janeiro apresenta péssimos indicadores sociais, quando a comparamos, por exemplo, com os resultados da periferia da Região Metropolitana de São Paulo e da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Se conseguirmos lograr isso na modificação qualitativa dessa realidade, estaremos com o sentimento de dever cumprido.

Como o senhor vai ajudar os municípios a trazer mais empresas para a BaixadaFluminense, para gerar empregos e renda?

Pezão — O crescimento econômico no estado é inquestionável. O Rio é outro. Hoje, contamos com orçamento de R$ 84 bilhões, quando antes eram R$ 33 bilhões. São mais de 330 mil empreendimentos novos no estado. Mais de 1,1 milhão de vagas com carteira assinada. Temos um norte, uma direção clara.
Boa parte desse crescimento foi na Baixada. O Arco Metropolitano, projeto que estava no papel há mais de 40 anos e nós inauguramos já um trecho, será um marco para o desenvolvimento e a industrialização da região. Muitas empresas chegarão. Só no entorno da via já são 30 empreendimentos com licenciamento ambiental pronto.

Crivella — Atuaremos em parceria com o fórum de secretários municipais de desenvolvimento econômico da Baixada Fluminense. Recentemente, foi inaugurado Arco Metropolitano. Infelizmente, não houve preocupação e apoio do estado para realização de um zoneamento urbano prévio. Isso pode gerar ocupação desordenada ou a compra de terras como reserva de valor, criando dificuldade para a instalação de distritos industriais.
Atuaremos em parceria com as prefeituras para fazer um zoneamento urbano que leve em consideração a preservação ambiental, áreas de moradia de qualidade e para atividades produtivas. Com o Arco Metropolitano, apoio ao terminal de contêiner do porto de Itaguaí e planejamento, ampliaremos qualitativamente o emprego e a renda.
Isso permitirá às prefeituras maior receita pública, pelo aumento da base de arrecadação, contribuindo assim para implantação de um círculo virtuoso na região.

Quais são os seus projetos para os transportes? O metrô chegará à Baixada? A região terá BRT?

Pezão — Vou fazer uma estrada moderna que irá ligar a Avenida Brasil ao Arco Metropolitano e também corredores expressos de BRT, um na Via Light e outro na Dutra. Vamos construir mais viadutos e dar segurança às vias para transformar os trens em metrô de superfície. Estamos construindo em Nova Iguaçu com a prefeitura da cidade.
Neste mês, estamos chegando a 130 trens com ar-condicionado. Até dezembro, serão 150 e, até maio de 2015, toda a frota estará renovada.

Crivella — Transformaremos o trem em metrô de superfície. Com a ampliação de empregos, menos pessoas terão que se deslocar para o Rio, o que permitirá a melhoria qualitativa do transporte e de vida. A fiscalização e regulação dos transportes serão feitas de forma ética, preservando o interesse público. Acabaremos com absurdos, como o tesoureiro do PMDB ser nomeado para a agência reguladora de transportes.

Nove cidades da região ficaram entre os piores no Ideb. Quais são suas propostas para melhorar a educação na região?

Pezão — Meu compromisso é com educação de qualidade. Ensino Médio com horário integral e profissionalizante. Temos 26 escolas com horário integral, algumas na Baixada. Delas o jovem já sai com profissão. No próximo governo serão mais 100 cursos profissionalizantes. Vamos construir Centros de Vocação Tecnológica (CVTs), para que jovens se aproveitem do momento da economia, de pleno emprego.
Tiramos o estado do penúltimo lugar no Ideb para a terceira melhor nota do país. Vamos colocar mais tecnologia, levar internet de qualidade, banda larga, auditórios, laboratórios, fazer novas e reformar as escolas. Dar condições de trabalho, valorizar os professores, remunerá-los melhor. A gente fez um grande esforço e temos a melhor hora-aula do país, mas a gente tem sempre que ousar.

Crivella — Implantaremos, em parceria com as prefeituras, um sistema estadual de educação. Daremos prioridade ao apoio às prefeituras para a criação de creches públicas. Isso melhorará a qualidade de vida das crianças, das mães e dos pais. E permitirá que as crianças cheguem mais bem preparadas ao Ensino Fundamental.
Em parceria com as prefeituras, usaremos a Uerj, a Faperj e outras instituições que queiram participar do desenho e execução de uma estratégia que dê uma solução à crítica situação atual. Estimularemos a integração da escola com o bairro e as famílias. Estimularemos a qualificação permanente dos docentes. A Faperj dará bolsas para professores fazerem mestrado e doutorado e apoiaremos as prefeituras para que a qualificação seja reconhecida no quadro de carreira.

Qual seu projeto para criar na Baixada áreas públicas de lazer?

Pezão — Vamos fazer o Parque da Baixada Fluminense, inspirado no Parque Madureira. Eu me impressionei muito na inauguração do Arco Metropolitano quando mais de cinco mil pessoas desfrutaram do Arco como área de lazer.

Crivella — Novamente, as regiões de classes média e alta são beneficiadas em prejuízo da população da Baixada. Só há parques públicos na cidade do Rio de Janeiro e em Niterói. Nos últimos oito anos, nenhum parque público foi criado na Baixada. Em parceria com as prefeituras, definiremos áreas de lazer. Áreas de proteção ambiental, como a reserva do Tinguá, receberão mais atenção.

Todos os dias, milhares de pessoas da Baixada vão ao Rio trabalhar. O que fazer para a região deixar de ser dormitório?

Pezão — O segredo é fazer a Baixada crescer ainda mais. Só no entorno do Arco Metropolitano, no trecho que inauguramos, já são 30 empreendimentos com licenciamentos ambientais prontos. Essas iniciativas vão empregar a mão de obra local. O nosso dever é atrair empresas e garantir a qualificação dos jovens, com investimentos em Ensino Médio com horário integral e profissionalizante.

Crivella — A Baixada tem densidade produtiva e de emprego menor que a das periferias das regiões metropolitanas de São Paulo e de Belo Horizonte. O Estado do Rio de Janeiro terá uma enorme janela de oportunidade com os investimentos do pré-sal e a política de conteúdo local no complexo de petróleo e gás.
Implantaremos uma estratégia de apoio à criação de novas empresas na Baixada Fluminense ou de atração de empresas estrangeiras que queiram vir para o Brasil para atender às demandas do pré-sal. Nessa estratégia, estará definida também a implantação de uma infraestrutura de qualidade nas áreas de distribuição de água e redes de esgoto, telecomunicações, energia elétrica, qualificação profissional e logística de acesso.
Isso permitirá ao mesmo tempo atrair empresas e melhorar a qualidade de vida da população. Implantaremos essa política em parceria com a Firjan, o Sebrae e demais instituições da região.

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