A novela sobre a construção do shopping Central Park, no centro de Duque de Caxias, que se arrasta há dois anos e que O DIA tem acompanhado desde 28 de junho, ganhou novo capítulo. Desta vez, o Ministério Público estadual entrou em cena e propôs à Justiça uma ação civil pública, que visa suspender as obras do empreendimento, que estão previstas para começar em janeiro.
O motivo alegado no documento a que teve acesso é de que a construção pode causar prejuízos ou mesmo levar à demolição da Escola Municipal Doutor Álvaro Alberto reconhecida pela sua importância histórica e cultural para a cidade. “A continuidade das obras, a poucos metros do bem de valor histórico-cultural, acarretará indubitavelmente danos irreparáveis, o que é impermissível. O progresso cria empregos, mas cobra certamente seu preço, que não pode ser jamais a cultura e a história de uma nação”, diz trecho do documento, assinado pelo promotor de Justiça da Tutela Coletiva de Duque de Caxias, José Marinho Paulo Junior.
O Sepe de Caxias entrou como assistente do MP na ação. Segundo a coordenadora do sindicato, Rose Cipriano, será feita audiência de conciliação entre a prefeitura e a empresa ABL dia 26, às 15h, na sétima vara cível de Caxias. “O Centro de Pesquisa, Memória e História da Educação de Caxias entrou com o pedido de tombamento da escola em setembro do ano passado. A lei municipal diz que a resposta tem que sair em até 30 dias, mas até agora nada”, questiona Rose.
Segundo o presidente da ABL Shopping Vicente Pierotti, a empresa fez estudos detalhados de impacto de vizinhança, ambiental e geotécnicos que apontam que a construção do shopping não vai abalar a estrutura da escola e nem trará prejuízos à comunidade. “Pelo contrário, queremos ser parceiros”.
Ele promete cobrir a quadra poliesportiva, fazer uma creche e consertar os muros, que estão rachados. “Se tiver problemas, vamos resolvê-los todos. Estão tentando criar uma espuma que não existe”, diz Pierotti, que informou que há previsão da construção de uma estação de tratamento de esgoto no local.
Segundo ele, o Central Park terá 303 lojas, cinco salas de cinema, duas torres com um total de 595 salas comerciais e um flat com 170 quartos. O custo é de R$ 350 milhões. A previsão para a entrega é de dois anos.
Instituições também não querem obra
Fórum de Oposição afirma que, após corte de árvores, apareceram rachaduras em escola
Representantes de 28 instituições que são contra a construção do shopping no Centro de Duque de Caxias se uniram no Fórum de Oposição e Resistência ao Shopping (Foras). Segundo elas, após o corte de 167 árvores centenárias, 70 da Mata Atlântica, começaram a aparecer rachaduras nos muros e na quadra da Escola Municipal Álvaro Alberto, de 1921. “Pedimos ao Conselho de Arquitetura e Urbanismo um estudo para verificar se isso tem a ver com a retirada das árvores”, diz Helenita Bezerra, do Foras, que entrou em outubro com novo pedido de tombamento.
Um estudo feitos por professores e estudantes de pós-graduação do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ aponta os impactos que serão gerados após a construção do shopping, entre eles a piora no trânsito, o aumento da temperatura e a falta d’água. “Não poderia ter uma construção dessa envergadura numa região central. De acordo com o plano diretor de Caxias, só poderia ter uma edificação com porte de um terço dela”, afirma um dos coordenadores da pesquisa, o professor Alex Magalhães.
O secretário de Urbanismo de Caxias, Luiz Leite, alega que a licença para a construção foi emitida na gestão anterior. Segundo ele, a empresa ABL Shopping Empreendimentos e Participações pagou cerca de R$ 4 milhões como contrapartida para receber a licença.
Luiz Leite diz que o documento foi revisto pela atual gestão. “Não há nada que impeça legalmente a construção do shopping. Eles cumpriram todas as exigências”, ressalta o secretário.
Já o ex-prefeito José Camilo Zito disse que a atual gestão não levaria para frente um projeto que não fosse interessante. “Era só cancelar. Agora, querem colocar a culpa no passado”, disse Zito.