Por marcelle.bappersi

O esgoto despejado sem tratamento num valão e vazamentos de água no bairro Alvorada, em Nova Iguaçu, são alguns dos problemas vividos diariamente pelo comerciante Renato de Abreu, de 39 anos. O caso dele reforça o ranking divulgado pelo Instituto Trata Brasil, de São Paulo, que estudou as condições de saneamento nas 100 maiores cidades do Brasil, onde vivem 40% da população. Quatro da Baixada foram avaliadas — Nova Iguaçu, São João de Meriti, Duque de Caxias e Belford Roxo —, e ficaram entre as últimas posições.

Rua Paiva Couceiro%2C em Belford Roxo%2C tem esgoto a céu abertoEstefan Radovicz / Agência O Dia

Para a classificação, foram analisados abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto, investimentos feitos e perda de água com ligações clandestinas ou vazamentos. Os dados se baseiam nos números mais recentes do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento Básico (SNIS), de 2011, que foram publicados este ano pelo Ministério das Cidades.

Com 801.746 habitantes, Nova Iguaçu ficou com a 95ª colocação no ranking. A cidade da Baixada Fluminense ficou apenas cinco posições à frente do último colocado, Porto Velho, a capital de Rondônia, na Região Norte.

O resultado negativo se deu principalmente por causa da falta de esgoto tratado — apenas 0,37% —, e a perda de água, de quase 30%. “Está tudo entupido, e os detritos são jogados em um valão. Quando chove, minha loja sempre alaga, e o mau cheiro afasta os clientes”, reclamou Renato de Abreu.

Na Estrada de Madureira, também em Nova Iguaçu, há vazamentos de água e de esgoto. “Há mais de três anos tem um cano vazando. Já contactamos a Cedae e até agora nada. Todo mundo está economizando água para ser desperdiçada dessa forma?”, disse Wellignton José Ribeiro, 48, também comerciante.

Logo atrás , em 94ª lugar, ficou São João de Meriti, com 460.062 habitantes. O abastecimento de água chega a 92,78% da população, mas — segundo o estudo — 32% são desperdiçados em vazamentos ou ligações clandestinas. Já a coleta de esgoto não alcançou nem a metade dos moradores e não há sequer uma estação de tratamento.

Moradores do bairro Parque Novo Rio, por exemplo, sofrem com a falta de saneamento básico. Na Rua Feira de Santana, o esgoto está entupido, e poças se formaram ao longo da via.

Detritos são despejados diretamente em um valão e seguem para o Rio Meriti, sem nenhum tratamento. “O que podemos fazer se não tem uma rede de esgoto adequada? Tem que jogar no rio mesmo”, justifica a dona de casa Conceição Aparecida, 58.

Prefeituras prometem melhorar os serviços

A Prefeitura de Nova Iguaçu informou que a cidade tem 11 estações de tratamento de esgoto, mas apenas oito em funcionamento e que está licitando mais cinco.

Já o governo de Duque de Caxias alegou que não é sua responsabilidade cuidar do saneamento básico na cidade. Segundo a assessoria, a “atribuição é apenas da Cedae”.

A Prefeitura de São João de Meriti informou que está elaborando plano de saneamento básico do município e, assim que estiver pronto, será apresentado à Cedae. Além disso, alegou que está fazendo obras emergenciais para amenizar o problema de esgotamento sanitário.

A Prefeitura de Belford Roxo informou que está preparando, em parceria com a Secretaria de Estado do Ambiente, um Plano Regional de Interesse Comum. O objetivo é melhorar tanto a coleta de esgoto quanto o tratamento de água. Está prevista a reativação dos reservatórios de água e da estação de tratamento do município.

Belford Roxo é a ‘mais bem avaliada’ na região

Com 867.067 habitantes, Duque de Caxias ficou na 93ª colocação. Na cidade, apenas 10,5% do esgoto são tratados. Na Rua Leonel de Moura Brizola, no Parque Fluminense, o esgoto que corre a céu aberto vai para um valão até chegar sem tratamento ao Rio Sarapui. “Quando chove, enche tudo. O cheiro é insuportável, além dos ratos e baratas”, desabafa o comerciante Nilton Correia, de 48 anos.

Belford Roxo, com 474.596 habitantes, ficou em 86ª lugar e é a mais bem colocada entre as quatro cidades da região avaliadas. Mas, longe do ideal. Tem 23,9% de esgoto tratado, enquanto a primeira cidade colocada, Franca, em São Paulo, tem 98,8%.

Na Rua Paiva Couceiro, na Vila Santo Antônio, não há coleta e muito menos tratamento, e a tubulação da Cedae está toda remendada.

A Cedae alega ter investimentos de esgotamento sanitário em andamento, como a complementação da rede coletora no bairro 25 de Agosto (Caxias). Lista ainda a construção do sistema de coleta e transporte de esgoto do sistema da Pavuna, que atenderá a Belford Roxo e a Caxias.

0,37%

É quanto o município de Nova Iguaçu trata do esgoto da cidade. Já São João de Meriti não tem estação de tratamento, e o índice é 0%.

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